Como é que a China se tem adaptado às alterações climáticas que têm provocado chuvas mais intensas e frequentes?
Com as alterações climáticas os fenómenos meteorológicos têm sido mais intensos e frequentes e, a China, tem sido uma das regiões do globo mais afetadas por tempestades severas, com chuvas muito fortes a provocarem graves inundações.
Embora a China tenha adotado mais políticas para melhorar o seu sistema de resposta a emergências, o número crescente de fenómenos meteorológicos extremos continua a colocar desafios.
China a sofrer impactos de fenómenos extremos
Desde sempre a China tem sofrido com a ocorrência de fortes chuvas e inundações, mas atendendo às alterações climáticas essas situações têm sido mais frequentes.
Recentemente, é de referir em junho deste ano as chuvas fortes que atingiram a província de Anhui, leste da China, e forçaram à retirada de cerca de 195.000 pessoas e afetaram 811.000 habitantes, depois das águas do rio Yangtsé, que é o maior rio da Ásia e o terceiro mais comprido do globo, ter ultrapassado níveis de alerta.
Segundo o Carbon Brief, em junho, as chuvas torrenciais provocaram dezenas de mortes e também elevaram as águas acima dos níveis de alerta em 33 rios na China. As inundações em Guilin, capital da província de Guangxi, foram as maiores registadas na região desde 1998.
Já em abril, principalmente em Guangdong, província no sul da China, tinham ocorrido chuvas torrenciais nunca antes registadas, que deram origem a inundações generalizadas, estimando-se um prejuízo de 1,65 mil milhões de dólares.
No ano passado, em julho, em Pequim, foram registados 745 mm de chuva em apenas cinco dias, o equivalente ao valor da precipitação média para o total do mês de julho.
A província circundante de Pequim, Hebei, também registou fortes chuvas na mesma altura. Em julho de 2023, o condado de Lincheng registou mais de 1000 mm de chuva, o dobro da sua média anual.
O tufão Haikui, em setembro de 2023, atingiu Hong Kong como a pior tempestade dos últimos 140 anos e provocou algumas das chuvas mais intensas nas províncias de Guangdong e Fujian.
Em julho de 2021, a província de Henan, vizinha de Hebei, registou uma tempestade única em mil anos.
Com todos os desafios climáticos que enfrenta, a China teve de começar a criar medidas de adaptação às alterações climáticas.
Adaptação da China às inundações cada vez mais frequentes
Para a futura prevenção de inundações, além da construção de novas redes nacionais de água, incluindo a construção de diques, comportas e redes fluviais canalizadas até 2035, a China construiu já uma série de grandes projetos hídricos para evitar inundações, como os projetos de transferência de água sul-norte no rio Yangtzé, lançados em 2002.
Entretanto, um estudo publicado na revista Ocean & Coastal Management concluiu que as soluções baseadas na natureza também se tornaram populares na China. O restauro e a conservação de pântanos de água doce, mangais e zonas húmidas ao longo das costas e da foz dos rios estão a ser utilizados para amortecer as marés e as tempestades.
O Ministério da Gestão de Emergências da China afirmou que estas medidas reduziram o número de mortes e de pessoas desaparecidas em resultado de catástrofes naturais em 54% no período de 2018-22, em comparação com 2013-17.
Outra medida de mitigação de inundações realizada pela China foi a implementação do conceito da “cidade esponja”, desenhada para absorver um grande volume de água.
Essas “cidades-esponja” são concebidas para recolher, purificar e reutilizar pelo menos 70% das águas das cheias através de "instalações verde-azul", como telhados verdes, pavimentos permeáveis e parques de águas pluviais, em zonas urbanas.
Este conceito de “cidade-esponja” começou a ser implementado em 30 grandes cidades, como Wuhan (onde vivem 11 milhões de pessoas) e Zhengzhou (onde vivem 10 milhões de pessoas).
Existem algumas dúvidas quanto à eficiência da “cidade-esponja” em situações de chuvas muito intensas e repentinas
O Dr. Oliver Wing, investigador honorário da Escola de Ciências Geográficas da Universidade de Bristol, afirmou numa entrevista ao Carbon Brief, que estes tipos de intervenções, desenvolvimento de “cidades-esponja”, são mais eficazes para fenómenos de precipitação que ocorrem com relativa regularidade e baixa intensidade, que não é o caso que tem ocorrido na China.
Num artigo da Nature foi referido a importância das cidades terem instalações de armazenamento de água, como um parque de estacionamento subterrâneo ou a construção de uma rede de túneis e abóbadas de betão abaixo do chão, tal como existe na cidade de Roterdão e nos arredores de Tóquio, respetivamente.
Hong Kong tem um sistema semelhante de armazenamento subterrâneo de águas pluviais sob os campos desportivos do Hipódromo de Happy Valley, concebido para resistir a inundações que ocorrem uma vez em cada 50 anos.
De acordo com a Dra. Faith Chan, Directora da Escola de Ciências Geográficas da Universidade de Nottingham, a China saiu-se muito bem em termos de preparação, resposta e recuperação para os riscos de inundação e seca mas também podia avançar com o armazenamento subterrâneo de águas pluviais em mais cidades.