Comboio parado numa ponte na África do Sul transforma-se em hotel de luxo que todos querem conhecer
Com 24 suítes e uma piscina suspensa, Kruger Shalati: The Train on the Bridge está instalado numa ponte histórica no meio do Parque Nacional Kruger.
Hotéis altíssimos, construídos a partir de gelo e até dentro de aquários. Quando o objetivo é atrair turistas, já poucos se contentam com o clássico. Já não há cá entradas altas com grandes chandeliers. Agora, espera-se o diferente e surpreendente. E é precisamente isso que encontrará na África do Sul.
Inaugurado em dezembro de 2020, o Kruger Shalati: The Train on the Bridge tem feito sucesso por se distinguir pela diferença. Localizado em Skukuza, no Parque Nacional Kruger, na parte nordeste da África do Sul, é classificado como um hotel de luxo — mas não um qualquer.
“Quer esteja à procura de uma aventura única, de uma pausa fascinante ou de simplesmente um momento para relaxar cercado pelas melhores criações do planeta, o Kruger Shalati espera recebê-lo numa jornada de descoberta com a natureza da maneira mais extraordinária imaginável”, prometem os responsáveis no site oficial.
Sim, sabemos que a África do Sul é o lar de algumas das mais luxuosas e nostálgicas viagens de comboio disponíveis em qualquer parte do mundo. Mas, para alguns entusiastas, este comboio sem destino é mesmo a principal atração do país. Confuso? Reaproveitamento é a palavra-chave.
Construído a partir de um comboio abandonado, o Kruger Shalati foi instalado numa ponte histórica no meio do Parque Nacional Kruger, uma das maiores reservas de caça de África e parte do Património Mundial da Unesco.
Esta unidade hoteleira é agora composta por um conjunto de carruagens renovadas e transformadas em 24 suítes modernas com varandas, sete suítes Bridge House ao longo da margem do rio e uma piscina com vista para o rio Sabie. “Tudo pensado para proporcionar uma experiência profundamente visceral, adaptada para um conforto envolvente”, lê-se no site.
Um alojamento de luxo e uma vista íntima para a vida selvagem: se este é o seu cenário de sonho para umas férias inesquecíveis, tem mesmo de conhecer este spot. Aliás, só a vista já é por si só um luxo. Através das janelas de vidro, os hóspedes podem apreciar ao vivo rinocerontes, leões, búfalos e elefantes.
“Uma porta de entrada expressa para a liberdade, para o relaxamento e conexões significativas aguardará os hóspedes a bordo do primeiro comboio Kruger Shalati.”
Um empreendimento pensado ao pormenor
Jerry Mabena, diretor-executivo do Motsamayi Tourism Group, que detém o hotel, afirma que o empreendimento remonta aos primeiros tempos do parque, quando, na década de 1920, os comboios a vapor passavam pelo Kruger através da linha ferroviária de Selati.
Sim, a ponte de aço já tem mesmo uma série de anos. Inaugurada ao tráfego ferroviário em 1910, está suspensa acima do rio por pilares revestidos de arenito.
Em 1923 (três anos antes da proclamação do Parque Nacional Kruger), os safaris ferroviários conhecidos como "Round in Nine" levavam os passageiros em passeios de nove dias pelo Lowveld — e esta ponte era um dos pontos de paragens noturnas desses safaris.
Uma nova linha ferroviária construída nos arredores do Kruger na década de 1970, porém, empurrou a linha e a ponte de Selati para a reforma — mas apenas durante algumas décadas. Isto porque, em 2016, foi criada uma ideia para restaurar o espaço e devolvê-lo à sua antiga glória.
“A ideia para nós era reencenar a experiência de uma forma ou de outra”, afirmou Mabena, citado pela “CNN”. “Quando tivemos a oportunidade de comprar carruagens velhas e desativadas à Transnet — que é o nosso operador logístico ferroviário na África do Sul — não podíamos dizer que não à ideia.”
Os interiores das carruagens foram renovados com um acabamento moderno, embora com alguns toques de Art Déco. “Estávamos a tentar encontrar um visual que não fosse colonial”, diz Mabena.
Tudo nas suítes — desde a cama, à banheira, passando pelo chuveiro e pelo lavatório — é voltado para essa vista gloriosa e pela celebração do design africano. São até mencionados os nomes dos artesãos responsáveis pelos adornos.
“O design único e instigante é fundamental para a nossa oferta, mas a experiência holística está centrada na nossa humanidade, nas nossas nuances culturais, nas pessoas que criaram cada elemento e, em última análise, na gentileza com que recebemos os nossos hóspedes”, lê-se no site.
“O rio é um ponto de referência para a vida selvagem, o que significa que os hóspedes podem passar o dia inteiro a descansar nas varandas ou a nadar na piscina enquanto observam a atividade em baixo”, refere o mesmo artigo da ‘CNN’. “Ter hipopótamos a grunhir debaixo da carruagem atrai pessoas que querem estar na natureza, mas que não querem estar imersas nela”, explica Mabena.
No entanto, nada impede os visitantes de calçar as botas e de se dirigem para o mato com um guia para passeio de carro. E, depois de um dia cheio de entusiasmo, nada como terminá-lo com uma bela refeição.
Um restaurante requintado, onde não faltam sugestões para os mais corajosos
Na horta do hotel encontrará alguns dos produtos utilizados no requintado restaurante do Kruger Shalati. As iguarias locais servidas neste ambiente incluem crocodilo, veado e carpaccio de gazela.
“A mãe natureza é a verdadeira artista”, diz o chef Vusi Mbatha, citado no mesmo artigo. "É uma daquelas filosofias que partilhamos: pegar em ingredientes simples e transformá-los em algo fantástico."
Os pratos são servidas na área de refeições ao ar livre à beira do rio, perto de duas piscinas circulares. E, sim, ali há algo para todos. Se não gostar dos croquetes de bobotie de veado do pequeno-almoço, pode optar por um prato de carne e queijo (com salame de javali e gazela defumada) para o almoço e um filé de avestruz tikka para o jantar.
Os quartos duplos e twin a bordo do comboio custam a partir de 9.950 rands (cerca de 490€) por pessoa, por noite, para hóspedes internacionais. Aqueles que optarem por estadias mais longas são presenteados com um desconto. Os preços incluem todas as refeições, algumas bebidas, dois safaris e transporte para o aeroporto.
“Penso que a cultura dos comboios a vapor e a cultura dos comboios históricos está a começar a ressurgir”, diz Mabena. “[Por agora], não temos um comboio a vapor em movimento, mas um dia, penso que teremos”.