Com crescente poluição luminosa, nova geração deixará de ver as estrelas

Com um aumento estimado de 10% a cada ano, a chamada poluição luminosa com o brilho noturno imenso causado pelas luzes humanas pode resultar na não visualização das estrelas.

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A luz que vinha do céu agora refletida na poluição luminosa das grandes cidades.

Os amantes do céu e da astronomia podem preocupar-se daqui em diante, imagine não ver mais as estrelas no céu noturno? Pois é, com um aumento expressivo a cada ano da poluição luminosa nos grandes centros, a capacidade de visualização das estrelas vai diminuindo.

Grandes cidades como São Paulo, Nova Iorque, entre outras, já sofrem com esta perceção. Muitos falam que a poluição das grandes cidades acaba por prejudicar e que ver tantas estrelas no céu é coisa do interior.

Não estão errados, mas esta poluição não é composta apenas por partículas em suspensão, tem a ver também com a luminosidade das cidades. Inclusive, num estudo publicado em 2016, foi relatado que cerca de 83% da população vive sob céu noturno poluído.

As estrelas deixarão de ser vistas

Os cientistas calcularam que antes mesmo de acabar este século, muitas estrelas deixarão de ser vistas. O cálculo contou com a participação de milhares de pessoas que olham para o céu todas as noites. O resultado depois de medirem o brilho noturno gerado por luzes artificiais mostrou que a poluição luminosa só tem vindo a aumentar exponencialmente a cada ano, o que dificulta a visualização das estrelas a olho nu.

O problema da poluição luminosa só cresceu desde que os astrónomos tiveram de deixar as cidades para ver as estrelas no século passado.

Através desses estudos e com a tendência de agravamento da poluição luminosa frente ao desenvolvimento das grandes cidades em forma de tecnologia que emana cada vez mais luz artificial, o resultado é assustador: uma criança de hoje que vive numa área onde é possível ver 250 estrelas, quando tiver 18 anos só conseguirá ver 100 desse total na mesma área, quando fizer 80 anos é possível que apenas 5 estrelas das mais brilhantes ainda seja visível, segundo Christopher Kyba, investigador do Centro Alemão de Investigação em Geociências GFZ em Potsdam.

Em 2017 um estudo apontava para um aumento de 2,2% da poluição luminosa, um número bem inferior ao de 9,6% mostrado no estudo mais recente. A diferença é que antes quase todas as investigações se baseavam em dados de satélite e apesar de parecer que estes artefatos tão robustos são eficientes para captar o brilho da noite, não é bem verdade.

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Comparação de visualização com escuridão e iluminação. Fonte: NOIRLab/NSF/AURA, P. Marenfeld.

Uma vez que radiómetros ou câmaras de satélite são incapazes de registar bem a poluição luminosa horizontal, a luz emitida por fachadas, vitrines ou letreiros publicitários que também obscurece a visão do céu, o cálculo não fica realista. Alejandro Sánchez de Miguel, investigador da Faculdade de Ciências Físicas da Universidade Complutense relata que os satélites não captam a luz azul e é justamente esta luz emitida por LED's que lidera atualmente a poluição luminosa nas cidades.

A solução para o novo cálculo que mostra um aumento exponencial da poluição luminosa noturna foi usar não o que os satélites veem de cima, mas sim o que os humanos veem debaixo, o que foi publicado na Science. O fator humano foi possível através do apoio de mais de 51 mil observações feitas por pessoas de todo o mundo que instalaram uma aplicação do projeto Globe at Night , promovido pela National Science Foundation (NSF), órgão do governo dos Estados Unidos.

Olhar as estrelas nunca foi tão importante

Para que os cientistas fossem capazes de realizar o novo cálculo com base no fator humano, os participantes precisaram de olhar para o céu e escolher entre uma série de sete mapas estelares, um que melhor se encaixava no que viam. E com isto, milhares de registos foram recolhidos ao longo de 12 anos.

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Muitos já questionaram o facto de basear algo tão distante a olho nu no fator humano, algo que pode falhar e comprometer os registos. Porém, Kyba garante que apesar das observações individuais não serem muito precisas, o poder do método vem da combinação de milhares delas, já que a média de todas estas observações imprecisas é realmente muito estável.

Ainda assim, vale a pena salientar que o trabalho tem sim um ponto fraco e que está associado ao fator humano, mas isto porque a maior parte das observações foram feitas na América do Norte, Europa, Japão e Coreia do Sul. Ou seja, nas restantes partes do planeta, incluindo a América do Sul, só temos informações com base naquilo que os satélites estão a registar.

O estudo continua

É normal a necessidade de novas informações, descobertas e até incertezas para a mente humana, é o que nos alimenta, eis a magia do mundo.

Muitos sonham em ver a Terra do espaço, ver as luzes dos continentes, algo que pode parecer muito incrível e bonito, claro, mas Fabio Falchi, investigador do Istituto di Scienza e Tecnologia dell'Inquinamento Luminoso em Itália, relata: “ao observarem as imagens da Estação Espacial Internacional do hemisfério noturno da Terra, as pessoas ficam maravilhadas com a beleza das luzes da cidade. Não percebem que são imagens de poluição”.

Falchi acrescenta ainda: “É como admirar a beleza das cores do arco-íris que a gasolina cria na água e não perceber que se trata de poluição química”.