Cientistas do Copernicus alertam: Portugal enfrenta recordes de stress por calor extremo, o fenómeno mais perigoso

Temperaturas recordes e ondas de calor ameaçam a saúde, a economia e o ambiente. Pedido de ação para medidas urgentes de mitigação climática. Saiba mais aqui!

Portugal, tal como grande parte dos países da Europa, registam níveis de stress térmico muito preocupantes.

Portugal enfrenta um aumento preocupante no stress por calor extremo, de acordo com o novo relatório do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S) e da Organização Meteorológica Mundial (OMM). O relatório, divulgado anteontem, a 23 de abril de 2024, revela que a Europa registou um número recorde de dias com "stress por calor extremo" em 2023, e Portugal não foi exceção.

Temperaturas acima da média e quebra de recordes

O ano de 2023 foi o segundo mais quente já registado na Europa, com temperaturas entre 1,02 e 1,12 °C acima da média. Além disso, três dos anos mais quentes da história do continente ocorreram desde o ano de 2020, com dez dos anos mais quentes a verificarem-se desde 2007.

temperaturas médias anuais do ar
Ranking das temperaturas médias anuais do ar em 2023. Fonte: E-OBS e C3S/ECMWF/KNMI.

Em Portugal, especificamente, as temperaturas ficaram acima da média em 11 meses do ano, sendo setembro o mês mais quente registado, com temperaturas 2,51 °C superiores à média de 1991-2020 e 1,1 °C acima do recorde anterior de setembro, atingido em 2020.

Aumento do stress por calor e impactes na saúde, economia e ambiente

O relatório destaca o aumento do stress por calor extremo em toda a Europa. Portugal, juntamente com outras regiões do Mediterrâneo, foram particularmente afetados.

O stress por calor extremo é um fenómeno excecionalmente perigoso que pode levar a uma série de problemas de saúde quando é atingida a hipertermia. Com temperaturas tão elevadas, tal acontece quando o corpo fica com uma temperatura mais elevada do que normal e, no caso de se atingir temperaturas acima de 40,5 ºC no core do corpo humano, pode originar a insolação, exaustão pelo calor, e até mesmo a morte. As pessoas idosas, doentes, gestantes, crianças, trabalhadores ao ar livre e atletas estão entre os grupos mais vulneráveis.

O relatório do C3S e da OMM indica, aliás, que a mortalidade relacionada com calor na Europa aumentou 30% nas últimas duas décadas, com um aumento estimado de mortes relacionadas com o calor em 94% das regiões europeias monitorizadas.

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Além dos impactes na saúde humana, o stress por calor extremo também tem consequências económicas e ambientais. O calor extremo pode levar à escassez de água, afetando a agricultura e a produção de energia. Do mesmo modo, pode exacerbar as condições para a ocorrência de incêndios florestais, como os que devastaram a região do Mediterrâneo em 2023, matando 44 pessoas em Portugal, Espanha, Itália, Grécia e Turquia.

O relatório estima que as perdas económicas totais para a Europa em 2023 ultrapassaram os 13,4 mil milhões de euros.

Tendências preocupantes e chamada para a ação

O relatório aponta para uma tendência contínua de aumento das temperaturas e do stress por calor extremo na Europa. Cientistas advogam também que, sem ações urgentes para mitigar as alterações climáticas, estes fenómenos extremos poderão tornar-se cada vez mais frequentes e severos.

Celeste Saulo, secretária-geral da OMM, afirmou que "a crise climática é o maior desafio das nossas gerações. O custo da ação climática pode parecer alto, mas o custo da inação é muito maior. Como revela este relatório, precisamos aproveitar a ciência para prover soluções para o bem da sociedade."

O relatório do C3S e da OMM serve como um alerta urgente e indispensável sobre os perigos crescentes do stress por calor extremo em Portugal e em toda a Europa.

É necessária uma ação decisiva para uma adaptação e mitigação efetivas às alterações climáticas e proteger a saúde humana, o ambiente e a economia.

Referência da notícia:

Copernicus Climate Change Service (C3S) (2024). European State of the Climate 2023. Bruxelas: Copernicus Climate Change Service. Full report: climate.copernicus.eu/ESOTC/2023