Cientistas alertam: o mundo não está pronto para cumprir as metas para as energias renováveis
Apesar do aumento da energia solar, o mundo está fora do caminho para atingir a meta de energia renovável da COP28. Os planos atuais só proporcionarão metade do crescimento necessário para atingir a meta global de triplicar as energias renováveis até 2030.
Sem uma ação urgente, o mundo ficará aquém das suas metas de energia para 2030 e, consequentemente, não conseguirá atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O mundo ainda não está a fazer o suficiente para atingir a meta de triplicar a capacidade de energia renovável até 2030, apesar do crescimento "recorde" do ano passado.
De acordo com uma avaliação da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), os atuais planos e metas nacionais proporcionariam apenas metade do crescimento necessário em energia renovável até o final da década.
O aumento da capacidade de produção planeada para todas as tecnologias renováveis ficou abaixo do nível necessário para atingir a meta de triplicar as renováveis para 11,2 terawatts até o final desta década. Sem melhorias, ficariam 34% aquém desta meta.
A exceção vai para a energia solar, que aumentou a sua produção acima do expectável. Ainda assim, o relatório da IRENA revela que o mundo precisa que a energia eólica terrestre triplique e que a energia eólica offshore e a geotérmica aumentem em seis e quase 35 vezes, respetivamente, em comparação com a sua capacidade em 2023, para que possamos atingir as metas da COP28.
Francesco La Camera, diretor-geral da IRENA.
Crescimento é manifestamente insuficiente, apesar de um 2023 positivo
No ano passado, na COP28, quase 200 países comprometeram-se em triplicar a capacidade de energia renovável e dobrar a eficiência energética até 2030, além de “abandonar os combustíveis fósseis” nos sistemas de energia, num esforço para limitar o aquecimento global a 1,5 ºC.
O ano de 2023 é, ainda assim, considerado como positivo no aumento da capacidade produtiva de energia renovável. Um "recorde" de 473 gigawatts de capacidade de energia renovável foi adicionado globalmente no ano passado, mas a taxa de crescimento continua insuficiente e precisa de subir para 16,4% ao ano, por forma a atingir a meta de 2030.
Os investimentos anuais em energias renováveis são pouco mais de um terço dos 1,5 milhões de biliões de dólares necessários a cada ano até 2030, apesar de terem atingido um recorde de 570 mil milhões de dólares em 2023. Além disso, a grande maioria destes investimentos (84%) estão concentrados na China, Estados Unidos e União Europeia.
Um acordo por firmar
Espera-se que a COP29, que vai ter lugar em novembro na cidade de Baku, seja sinónimo de um novo acordo entre os países para o estabelecimento de uma nova meta quantificada coletiva para financiamento, com o objetivo de ajudar a financiar ações climáticas em países em desenvolvimento. Para já, persistem as dúvidas sobre quem deve pagar e qual deve ser o valor da meta.
O resultado destas negociações deverá condicionar o nível de ambição, nomeadamente na implementação de energias renováveis com as quais os países em desenvolvimento se comprometerão nos seus planos de ação climática atualizados, que deverão ser apresentados até fevereiro de 2025.
A IRENA defende que os novos planos de ação climática devem mais que dobrar as metas existentes de energia renovável e alinhar-se melhor aos planos nacionais de energia para atrair mais investimentos do setor privado.
A agência considera ainda que os países fizeram pouco progresso no aumento da eficiência energética, que permaneceu praticamente inalterada numa taxa de melhoria de 2% no ano passado. Esta taxa precisa de duplicar para pelo menos 4% anualmente até 2030 para que se consiga atingir a meta da COP28.
Referência da notícia:
IRENA, COP28, COP29, GRA, MoEA, Government of Brazil (2024). Delivering on the UAE Consensus: Tracking progress toward tripling renewable energy capacity and doubling energy efficiency by 2030. International Renewable Energy Agency, COP28 Presidency, COP29 Presidency, Ministry of Energy of the Republic of Azerbaijan, and Government of Brazil, Abu Dhabi.