Cientistas afirmam que foi criada uma nova forma de visualização da qualidade do ar para forçar os governos a agirem

Existem enormes desigualdades na qualidade do ar por todo o mundo, com a situação a agravar-se em muitos países e os governos a não tomarem medidas concretas que melhorem a situação.

Poluição
A poluição deveria ser uma preocupação constante de todos os governantes.

É importante que a informação sobre a qualidade do ar chegue aos decisores políticos de uma forma fácil de interpretar e que sensibilize os governos a tomar medidas urgentes.

Nova visualização da qualidade do ar ao longo dos anos

De acordo com o jornal The Guardian, uma equipa de cientistas criou uma nova forma de visualizar os contrastes da poluição atmosférica que se respira em todo o mundo. Os resultados revelam enormes desigualdades na qualidade do ar, com a situação a agravar-se em muitos locais.

Mas este projeto também demonstra que em cidades onde os governos tomaram medidas legislativas para melhorar a qualidade do ar, o ar ficou mais limpo.

O projeto inspirou-se nas riscas climáticas de Ed Hawkins, que pretende demonstrar a subida da temperatura num local, ao longo dos anos, através de riscas coloridas, desde o azul, mais frio, ao vermelho, mais quente.

As novas riscas da qualidade do ar mostram a poluição do ar desde 1850 até à atualidade. Cada ano tem uma barra vertical separada, colorida de acordo com a quantidade de partículas de poluição que existem num determinado local.

Cumprindo as diretrizes da Organização Mundial de Saúde, OMS, o ar limpo é codificado como azul celeste; os tons amarelos, castanhos e pretos representam a poluição mais elevada, num esquema de cores que reflete a evolução da qualidade do ar ao longo dos anos num local, desde 1850.

Poluição atmosférica por partículas em algumas cidades

Para visualização da qualidade do ar foram utilizadas medições das partículas PM2.5, que são partículas em suspensão com um diâmetro inferior a 2,5 mícrons. Estas partículas conseguem penetrar no sistema respiratório até ao nível alveolar interferindo no processo respiratório e acarretando risco grave para a saúde.

Como resultado do projeto, existem exemplos da evolução da qualidade do ar para quatro cidades que transmitem bem a necessidade urgente de serem tomadas medidas por todos os governos.

Qualidade do ar em Londres
Evolução da qualidade do ar em Londres desde 1850. Fonte: https://airqualitystripes.info/

Durante mais de um século, Londres era afetada por smogs induzidos pelo carvão. Um governo relutante foi finalmente forçado a agir quando 12.000 pessoas morreram devido a um smog de uma semana em 1952. Seguiram-se leis de ar limpo. A utilização do carvão foi substituída por óleo para aquecimento e depois por gás fóssil.

Qualidade do ar em Pequim
Evolução da qualidade do ar em Pequim desde 1850. Fonte: https://airqualitystripes.info/

Uma melhoria da qualidade do ar também ocorreu em Pequim. A deterioração do ar nesta cidade passou praticamente despercebida até que os olhos do mundo se voltaram para a cidade por ocasião dos Jogos Olímpicos de 2008. Nessa altura, as mortes causadas pela poluição atmosférica na China tinham atingido mais de 2 milhões por ano, mas uma recente limpeza da indústria e do tráfego produziu resultados iniciais rápidos.

Os resultados de Londres e Pequim mostram as enormes melhorias que podem resultar quando se tomam medidas.

No entanto, o mesmo não aconteceu em outras cidades, como, por exemplo, Islamabad e Jacarta. Estas duas cidades representam as trajetórias de muitas nações em desenvolvimento com uma rápida urbanização e crescimento industrial e sem controlos da poluição atmosférica.

Qualidade do ar em Islamabad
Evolução da qualidade do ar em Islamabad desde 1850 (Fonte: https://airqualitystripes.info/)

Os dados para as faixas foram obtidos a partir dos modelos climáticos globais do Met Office do Reino Unido, com ajustamentos das observações por satélite que começaram a estar disponíveis por volta de 1998. Este ajustamento foi também aplicado à poluição passada, projetada para trás até 1850, utilizando estatísticas sobre combustíveis e energia.

Este projeto criou um website, que permite ao utilizador criar as faixas de poluição atmosférica para as grandes cidades.

A modelação das concentrações globais de poluentes é um grande desafio e os modelos são continuamente avaliados e melhorados. Investigações anteriores mostraram que as simulações multimodelo CMIP6 tendem a subestimar as concentrações de PM2.5 quando comparadas às observações globais.

Mais de 99% da população mundial continua a respirar ar que não cumpre as diretrizes da Organização Mundial de Saúde. Mesmo após as melhorias registadas na Europa, a poluição por partículas continua a provocar mais de 400 000 mortes prematuras por ano; no Reino Unido, esse número situa-se entre 29 000 e 43 000.

A Dra. Kirsty Pringle, da Universidade de Edimburgo, que codirigiu o projeto, afirmou: “A poluição atmosférica é frequentemente designada como o assassino invisível, mas estas imagens tornam o invisível visível, mostrando as alterações ao longo das décadas”.