Cientistas afirmam que a desidratação da estratosfera pode ser uma boa opção para combater as alterações climáticas
Um novo estudo explora a possibilidade de retirar a água do ar antes de entrar na estratosfera, de forma a atenuar os efeitos das alterações climáticas. Saiba mais aqui!
O vapor de água na estratosfera forma uma barreira semelhante a uma esponja que impede que o calor que irradia da Terra se escape para o espaço. Agora, os cientistas estão a explorar a plausibilidade de desidratar esta camada da atmosfera para arrefecer o nosso planeta que está numa fase de aquecimento.
A estratosfera estende-se entre 12 a 50 km acima da superfície da Terra e situa-se acima de outra camada da atmosfera chamada troposfera. A água que circula naturalmente na troposfera vaza para a estratosfera - mas esse vazamento não é uniforme em todo o planeta, de acordo com um novo estudo.
Joshua (Shuka) Schwarz, autor principal do estudo e físico do Laboratório de Ciências Químicas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA).
Uma pequena região acima do norte da Austrália parece ser particularmente importante no controlo do movimento ascendente do ar e do vapor de água. Sendo que Schwarz acredita que caso pudessem fazer alguma coisa apenas naquela pequena área, talvez pudessem reduzir o vapor de água estratosférico de modo a deixar sair mais radiação infravermelha para o espaço.
Será mesmo possível desidratar a estratosfera?
Schwarz e os seus colegas testaram esta ideia utilizando dados de vapor de água e de temperatura da campanha Airborne Tropical Tropopause Experiment (ATTREX) da NASA, bem como modelos informáticos que simulam a remoção do vapor de água do ar imediatamente antes de este entrar na estratosfera.
Uma vez na estratosfera, o ar dispersa-se dos trópicos em direção aos pólos durante quatro anos antes de regressar à troposfera. É por isso que a forma mais eficaz de controlar o vapor de água é apanhá-lo antes de entrar na estratosfera.
"A água no alto da troposfera tem a forma de vapor ou de partículas de gelo", afirma Schwarz. Para que o vapor de água se cristalize em gelo - e se precipite em vez de entrar na estratosfera - é necessário que já exista gelo suficiente para que o vapor congele, ou tanto vapor de água que forme espontaneamente uma nuvem de gelo.
Em locais onde estas condições não se verificam, como o ponto de fuga acima da Austrália, podem formar-se cristais de gelo à volta de partículas flutuantes de poeira mineral conhecidas como partículas nucleantes de gelo.
No estudo, os autores exploraram a plausibilidade de semear o ar na região acima da Austrália com essas partículas nucleantes de gelo, de forma a que o gelo se forme, efetivamente, para que depois forme uma nuvem de curta duração que cairá para altitudes mais baixas, aquecendo rapidamente, e provavelmente evaporando-se, fazendo com que o ar que está a caminho da estratosfera já não contenha essa água.
Ao injetar repetidamente partículas "onde é importante", Schwarz postula que os cientistas poderiam desidratar gradualmente a estratosfera e compensar um sétimo do aquecimento causado pelas alterações climáticas.
Os pormenores da estratégia proposta permanecem confusos. Os modelos do estudo pressupõem a utilização de partículas de triiodeto de bismuto - um material que também está a ser considerado para outro tipo de engenharia climática, conhecido como diluição de nuvens cirros. Posto isto, a equipa continuará a investigar até que seja possível colocar em prática esta possibilidade.
Referência da notícia:
Schwarz J., Gao R., Thornberry T., et al. Considering intentional stratospheric dehydration for climate benefits. Science Advances (2024).