Cidades de 15 minutos: um sonho realizável para todos?

O conceito de “cidade de 15 minutos” ganhou popularidade nos últimos anos. Este modelo é prometedor, mas a sua viabilidade universal apresenta grandes desafios.

urbanismo
Este conceito foi introduzido em 2016 pelo urbanista Carlos Moreno, professor na Universidade de Sorbonne, em Paris. O objetivo é reduzir a dependência do automóvel e melhorar a qualidade de vida dos residentes.

Em cidades europeias como Paris, Barcelona e Estocolmo, está a ser desenvolvido um trabalho para implementar o conceito de cidade de 15 minutos. Isto significa que, com esta abordagem ao planeamento urbano, a vida quotidiana poderia ser realizada a pé ou de bicicleta.

Este conceito foi proposto em 2016 pelo urbanista Carlos Moreno, e a ideia é que os habitantes da cidade possam aceder a todas as suas necessidades básicas a menos de 15 minutos da sua casa.

As necessidades básicas incluem trabalho, educação, saúde, lazer e comércio; estes locais podem ser alcançados a pé, de bicicleta ou de transportes públicos.

Os grandes desafios do modelo

Em primeiro lugar, as cidades com elevada densidade populacional e infraestruturas desenvolvidas poderiam implementar mais facilmente o conceito de cidade de 15 minutos.

bicicletas
Os benefícios de uma cidade em que se anda a pé incluem a redução do congestionamento do tráfego e das emissões de gases com efeito de estufa, bem como o estímulo à interação social e à atividade física.

Cidades como Paris, Tóquio e Nova Iorque já dispõem de uma rede de transportes públicos eficiente e de uma elevada concentração de serviços em zonas compactas. No entanto, é um desafio garantir que todos os bairros tenham igual acesso aos serviços, mesmo nessas cidades.

A aplicação do conceito exige um investimento significativo e um planeamento estratégico para evitar a gentrificação e a exclusão social.

Em contrapartida, as cidades dos países em desenvolvimento enfrentam barreiras estruturais que complicam a adoção deste modelo. Em muitos casos, a urbanização rápida e desordenada resultou em povoações informais sem acesso a serviços básicos.

A aplicação do conceito de cidade de 15 minutos nos países em desenvolvimento exigiria não só uma melhoria das infraestruturas, mas também uma alteração das prioridades da política urbana.

Recursos financeiros limitados e diversidade cultural

Os recursos financeiros limitados e as prioridades mais imediatas, como a erradicação da pobreza e a melhoria da segurança, dificultam a concretização deste ideal.

A implementação do conceito de uma cidade de 15 minutos exigiria um esforço educativo e cultural.

Outro fator a ter em conta é a diversidade cultural e a forma como as pessoas encaram a vida urbana. Em algumas cidades, a ideia de viver perto do trabalho ou dos serviços não é culturalmente desejável.

Fatores geográficos e ambientais

Para além disso, a conceção e a topografia das cidades também influenciam a viabilidade deste conceito. As cidades com terrenos montanhosos podem ter mais dificuldade em tornar todos os serviços essenciais acessíveis em 15 minutos.

Bolívia
Em cidades como La Paz, na Bolívia, onde a topografia é acidentada, a aplicação do modelo exigiria adaptações específicas.

Por exemplo, em locais como La Paz, na Bolívia, onde a topografia é acidentada, ou Dubai, onde o calor extremo limita o transporte não motorizado, a implementação do modelo exigiria adaptações específicas.

Não é um modelo universalmente aplicável sem adaptações

O conceito de cidade de 15 minutos é inspirador e poderia melhorar significativamente a qualidade de vida em muitas cidades, no entanto, não é um modelo universalmente aplicável sem adaptações.

Para que este conceito se torne uma realidade global, será necessária uma abordagem flexível às particularidades de cada contexto urbano.

A viabilidade da sua aplicação depende de fatores específicos de cada cidade, como as infraestruturas existentes, os recursos disponíveis, a cultura local e as condições geográficas.