Ciclone tropical Mocha deixa um rasto de destruição em Myanmar
O ciclone tropical Mocha, já considerado um dos mais fortes a atingir o país, deixou um rasto de devastação, principalmente na capital do estado de Rakhine, a cidade de Sittwe. Acompanhe os detalhes aqui!
O ciclone tropical Mocha atingiu as áreas costeiras ao longo da fronteira entre o Bangladesh e Myanmar a 14 de maio (domingo), por volta das 15h locais e trouxe consigo fortes chuvas e ventos sustentados de 180 a 190km/h, segundo a Organização Meteorológica Mundial.
No seu período mais crítico, o departamento meteorológico do Bangladesh afirmou ter registado ventos com a velocidade até 195 km/h, com rajadas de 215 km/h.
Dezenas de milhares de famílias foram afetadas, casas e infraestruturas chave foram destruídas ou severamente afetadas, especialmente telecomunicações, cortando as comunicações em grande parte da área de impacto, abastecimento de água e fornecimento de energia.
Este é já classificado como um dos mais violentos ciclones que já atingiu Myanmar, informou o escritório das Nações Unidas para a coordenação de assuntos humanitários (OCHA).
Mais de dois milhões de pessoas vivem na área de impacto - o caminho percorrido pelo ciclone Mocha - incluindo centenas de milhares da minoria muçulmana Rohingyas, que permaneceram em Rakhine após a repressão de 2017, e onde vivem em campos de refúgio com severas restrições de movimentos.
As operações de reação e resposta
O Conselho de Administração do Estado (junta militar que atualmente governa a antiga Birmânia) emitiu declarações de desastre para 17 municípios no estado de Rakhine. O mais afetado, segundo a OCHA foi a capital do estado, Sittwe.
Os ventos extremamente fortes arrancaram árvores e danificaram e destruíram casas. A tempestade destruiu pontes e inundou casas. Em Sittwe, acredita-se que a maioria das habitações tenha sido danificada de alguma forma e muitas casas frágeis nos campos de deslocados internos foram destruídas.
Apesar de tudo, os primeiros relatórios apontam para que o principal complexo de campos de refugiados de Cox's Bazar, no Bangladesh, que abriga quase um milhão de refugiados, a maioria Rohingya, tenha sido, felizmente, poupado.
Ainda assim, as notícias sugerem que cerca de 3.000 abrigos Rohingya foram danificados, com alguns completamente destruídos. Os fortes ventos feriram mais de 700 das cerca de 20.000 pessoas que estavam abrigadas em edifícios mais resistentes nas terras altas do município de Sittwe, como mosteiros e escolas, de acordo com um líder da Associação Filantrópica Juvenil de Rakhine, em Sittwe.
Ontem, as equipas de areação e resposta retiraram cerca de 1.000 pessoas presas na água. A água do mar correu para mais de 10 áreas baixas perto da costa quando o ciclone Mocha atingiu o estado de Rakhine na tarde de domingo, afirmou o líder local.
Um funcionário do governo de Bangladesh, Enamur Rahman, disse que os danos ainda estão a ser avaliados, mas que cerca de 2.000 casas foram destruídas e outras 10.000 foram danificadas na Ilha de Saint Martin e Teknaf, na província de Cox's Bazar.
No total, e segundo as mais recentes informações, estima-se que o ciclone tropical Mocha tenha ceifado a vida a, pelo menos, 41 pessoas em Myanmar. No vizinho Bangladesh não foram reportadas vítimas mortais. Registam-se ainda mais de uma centena de pessoas desaparecidas e um número de feridos superior a setecentos.
O agravar da crise humanitária avizinha-se
As necessidades humanitárias no estado de Rakhine e no noroeste de Myanmar eram já alarmantes antes destes territórios serem atingidos pelo ciclone, uma vez que aproximadamente seis milhões de pessoas já necessitavam de ajuda humanitária, segundo a OCHA, como resultado de anos de conflito e deslocações internas.
Carências de socorro, abrigo e nutricionais foram já relatadas após o evento, com uma ameaça mortal adicional, a de minas terrestres e outros remanescentes de guerra nas áreas rurais afetadas pelo conflito, que poderão ter-se mudado durante as enchentes, e que agora constituem um risco para as populações que se deslocam de volta a casa.
Os primeiros socorros psicossociais para as comunidades afetadas após o evento são também críticos. O potencial de surtos de doenças transmissíveis nas áreas afetadas é alto, exigindo uma monitorização rigorosa por parte das autoridades, diz a OCHA.
A desregulação climática pode mudar o comportamento destes eventos
Roxy Mathew Koll, do Instituto Indiano de Meteorologia Tropical, disse que os ciclones na Baía de Bengala estão a tornar-se cada vez mais intensos e mais recorrentes no tempo e no espaço, em parte por causa das alterações climáticas.
A comunidade científica internacional chegou à conclusão que os ciclones tropicais agora podem reter a sua energia por muitos dias. O ciclone Amphan que atingiu a Índia e o Bangladesh em 2020, continuou a sua trajetória por terra por várias e longas horas como um forte ciclone e causou uma extensa devastação.
"Enquanto os oceanos estiverem quentes e os ventos favoráveis, os ciclones manterão sua intensidade por um período mais longo", disse Koll.