Ciclone Idai: há 4 anos atingia Moçambique, deixando destruição e tragédia
Lembra-se do ciclone Idai? Há 4 anos atingia Moçambique. Para trás deixou um rasto de destruição e tragédia que continua bem presente na memória do povo moçambicano. Recordamos aqui a história.
Entre os dias 14 e 15 de março do ano de 2019, Moçambique, país do sudeste de África, banhado pelo Oceano Índico, foi afetado pela passagem do fortíssimo ciclone tropical Idai. Com um saldo de mais de 600 pessoas falecidas e centenas de milhares de pessoas deslocadas em Moçambique, no Malawi, Zimbabwe e Madagáscar, este é considerado um dos ciclones tropicais mais danosos e mortais já registados na bacia do sudoeste do Oceano Índico.
A 3 de março de 2019, a perturbação tropical que, mais tarde, daria nome ao ciclone Idai, desenvolvia-se e começava a fortalecer-se perto da costa africana. A 4 de março faz o seu primeiro landfall em território moçambicano, como depressão tropical. A 5 de março fortes chuvas eram registadas, causando inundações em Moçambique e no Malawi.
Por vários dias o ciclone "mastigou e massacrou" toda esta região do sudeste africano, regressando à bacia do sudoeste do Oceano Índico. Mais tarde, a 11 de março, o Idai, na categoria de depressão tropical aumenta de intensidade entre a costa africana e a ilha de Madagáscar, até se tornar em ciclone tropical de categoria 4 e volta a atingir terra pela segunda vez, na noite de 14 de março, na cidade da Beira, de uma forma muito violenta, com ventos sustentados superiores a 195 km/h.
Rasto de destruição e tragédia
Os ventos e as inundações afetaram mais de um milhão e trezentas e sessenta mil pessoas, o que corresponde a 274.585 famílias e causaram a deslocação de 19.660, ou seja, 95.388 pessoas, com 81% da população deslocada nas províncias de Sofala e Manica. Metade da população afetada eram crianças.
Estima-se que 715.000 hectares de plantações foram destruídos, aumentando a situação de insegurança alimentar, colocando 2 milhões de pessoas em risco, já que a maioria das pessoas perdeu tudo.
As inundações provocadas fizeram aumentar o número de doenças transmitidas pela água. Foram estimados 2.500 casos de diarreia aquosa aguda, no distrito da Beira e 5 casos de cólera em Munhava. Posto isto, o governo moçambicano declarava oficialmente um surto de cólera, em 27 de março de 2019.
Em 18 de abril de 2019, relatórios oficiais registaram, pelo menos, 6.382 casos de cólera no país e, pelo menos, 8 mortes. Estes casos foram notificados em quatro distritos (Beira, Búzi, Dondo e Nhamatanda) da Província de Sofala, originalmente afetada por este surto. A falta de água potável aumentou muito o número de infeções. No total foram registados 6.766 casos de cólera, por causa do Idai.
Como uma desgraça nunca vem só, seis semanas depois, o ciclone Kenneth atinge o norte de Moçambique, afetando quase 200.000 pessoas. Foi a primeira vez na história que dois potentes ciclones tropicais atingem o país na mesma temporada (de 15 de novembro a 30 de abril de cada ano).
O Kenneth veio agudizar ainda mais os problemas de saúde, segurança, abrigo, alimentares, de saúde pública e culturais vividas nos territórios afetados. Combinados, os dois ciclones mataram pelo menos 648 pessoas (45 mortes devido a ciclone Kenneth e, pelo menos, 603 fruto do ciclone Idai).
Tempestades tropicais e ciclones são comuns em Moçambique, que experimenta uma média de 1,5 ciclones tropicais por ano. No entanto, a maioria dos ciclones não atinge a escala de destruição do Idai, sendo que o único evento comparável nos últimos anos é o das cheias e inundações generalizadas associadas ao ciclone Eline, em 2000, que afetaram mais de 800 mil pessoas, em todo o país, e ceifaram mais de 800 vidas.
Mais recentemente: tempestade tropical Chalane e ciclone tropical Eloise
Por exemplo, a temporada de ciclones do ano seguinte, 2020/21, levou duas tempestades notáveis a território moçambicano, e ambas afetaram a mesma região central que o Idai havia impactado. A tempestade tropical Chalane atingiu a costa durante a noite de 30 de dezembro de 2020, com ventos de 111 km/h, que afetaram as Províncias de Manica, Zambézia e Inhambane.
Um mês depois, em 23 de janeiro de 2021, o ciclone tropical Eloise de categoria 2 atinge o centro de Moçambique, com ventos de 140 km/h e rajadas de mais de 160 km/h. Uma das principais diferenças entre o Eloise e os ciclones anteriores na região foi a intensidade de precipitação durante e após o evento: 250 mm em 24 horas.
Como partes da Província de Sofala já estavam inundadas, nomeadamente os distritos de Nhamatanda e Búzi, as cheias e inundações provocadas por este evento levaram a um aumento de pessoas deslocadas internamente.