Chuvas reforçam armazenamento das barragens em Portugal, mas persistem problemas em algumas regiões

As barragens em Portugal Continental registam uma média de armazenamento de 81% no final de fevereiro, impulsionadas pelas chuvas das últimas semanas. Contudo, algumas albufeiras ainda apresentam níveis críticos, como a barragem de Monte da Rocha, no Alentejo.

Precipitação e volume de armazenamento
Em fevereiro de 2025, Portugal Continental registou 81% de armazenamento de água, impulsionado pelas chuvas das últimas semanas.

As chuvas das últimas semanas tiveram um impacto positivo no armazenamento de água das barragens em Portugal Continental, elevando a média nacional para 81%, segundo os dados mais recentes da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). No entanto, apesar desta recuperação, algumas bacias hidrográficas continuam abaixo dos valores médios para esta época do ano, e algumas albufeiras mantêm níveis preocupantes, como é o caso da barragem de Monte da Rocha, no Alentejo, que se encontra com apenas 14% da sua capacidade.

De acordo com o boletim divulgado pela APA a 24 de fevereiro de 2025, comparativamente ao relatório anterior, datado de 17 de fevereiro, verificou-se um aumento do volume armazenado em nove bacias hidrográficas e uma diminuição em seis. Das albufeiras monitorizadas, 55% apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total, enquanto 6% registam valores inferiores a 40%.

Recuperação generalizada, mas com exceções

Os valores agora divulgados mostram que a precipitação ocorrida nas últimas semanas contribuiu para uma melhoria na generalidade das bacias hidrográficas, com algumas atingindo mesmo níveis acima das médias de referência. No entanto, ainda existem bacias em que a situação não acompanhou esta tendência, permanecendo com níveis inferiores aos valores médios para fevereiro.

Especificamente, as bacias do Ave, Douro, Mondego, Mira, Arade e Ribeiras do Barlavento registam armazenamentos abaixo das médias de fevereiro para o período de referência 1990/91 a 2023/24. Este panorama revela que, apesar da recuperação geral, há desigualdades na distribuição da água armazenada pelo país.

volume de armazenamento em fevereiro de 2025
Volume total armazenado de água, por bacia hidrográfica, a 24 de fevereiro de 2025. Fonte: Relatório do SNIRH.

Uma das situações mais preocupantes continua a verificar-se no sul do país, onde algumas barragens mantêm volumes críticos. O caso mais emblemático é o da barragem de Monte da Rocha, localizada no distrito de Beja. Esta albufeira, essencial para o abastecimento público, está com apenas 14% da sua capacidade, o que levanta preocupações para o futuro, caso a situação de escassez hídrica persista.

Por outro lado, a barragem do Alqueva, a maior do país e também localizada no Alentejo, apresenta um nível superior à média nacional, garantindo uma reserva hídrica mais estável para a região. O contraste entre estas duas infraestruturas reflete a variabilidade das condições de armazenamento no território.

Impacte da distribuição irregular da precipitação

O padrão de precipitação que afetou Portugal nas últimas semanas foi determinante para os níveis de armazenamento atuais. As chuvas intensas foram responsáveis pelo aumento do volume em muitas bacias hidrográficas, mas a sua distribuição não foi homogénea. Regiões do norte e centro beneficiaram mais da precipitação, enquanto o sul continua a enfrentar dificuldades na reposição das reservas hídricas.

Este cenário reforça as preocupações sobre a gestão da água em Portugal, num contexto de alterações climáticas que pode tornar os episódios de seca mais frequentes e prolongados, sobretudo nas regiões mais vulneráveis.

Especialistas alertam que, apesar da recuperação verificada, o país não pode descurar a necessidade de uma gestão eficiente dos recursos hídricos. A aposta em infraestruturas que permitam uma melhor redistribuição da água, o reforço da eficiência no uso deste recurso e a implementação de políticas de adaptação às mudanças climáticas são fundamentais para garantir a segurança hídrica a longo prazo.

Planeamento e gestão da água: desafios para o futuro

A irregularidade na disponibilidade hídrica reforça a necessidade de uma estratégia nacional holística para a gestão da água. O Alentejo, sendo uma das regiões mais afetadas pela seca, depende fortemente de barragens como o Alqueva, que tem permitido mitigar os efeitos das estiagens prolongadas. No entanto, para barragens menores, como a de Monte da Rocha, a falta de alternativas continua a ser um problema significativo.

Os setores agrícola e industrial, grandes consumidores de água, também enfrentam desafios na adaptação a este novo contexto. A implementação de medidas de eficiência hídrica, como o uso de tecnologias de irrigação mais avançadas e a reutilização de águas residuais tratadas, são apontadas como soluções que podem aliviar a pressão sobre os recursos disponíveis.

Além disso, a sensibilização da população para um consumo mais racional e sustentável é essencial. Medidas como a redução do desperdício de água nas habitações, a adoção de práticas agrícolas menos intensivas no uso de recursos hídricos e a preservação dos ecossistemas naturais que contribuem para a regulação do ciclo da água são passos importantes para enfrentar os desafios que se avizinham.

Com a chegada da primavera e a possibilidade de uma redução da precipitação, é essencial acompanhar a evolução dos níveis de armazenamento das barragens, sobretudo nas regiões mais vulneráveis. O histórico recente mostra que, apesar das melhorias sazonais, os períodos de seca são cada vez mais frequentes e severos, exigindo um planeamento a longo prazo.