China teve um verão de 2023 arrasador marcado por vários fenómenos extremos: saiba quais
Uma China a duas velocidades: um verão marcado por inundações a sul e calor extremo recorde a norte. 2023 ficará certamente mercado na memória do povo do gigante asiático. Veja os pormenores aqui!
O verão de 2023 ficará na memória dos chineses pelas piores razões. O gigante asiático enfrentou uma torrente implacável de fenómenos extremos, desde o calor abrasador recorde às inundações inéditas, com cenas de devastação e miséria um pouco por todo o seu território.
Em junho, os níveis de precipitação bateram recordes históricos na província costeira de Fujian e em partes das províncias de Guangdong e Guangxi. Ao mesmo tempo, uma onda de calor afetou fortemente o norte do país, o que fez disparar os termómetros para mais de 50 ºC.
Cheias, inundações e deslizamentos de terra a sul
Desde que a estação mais chuvosa na China começou em maio, fortes tempestades provocaram graves cheias, inundações e deslizamentos de terra em grandes áreas do sul do país. Estes fenómenos levaram à morte de dezenas de pessoas, obrigaram à deslocação de milhões e causaram perdas económicas que ascendem a milhares de milhões de yuans (moeda oficial chinesa), num país que ainda tenta recuperar após três anos de fortes restrições de controlo do coronavírus.
As inundações atingiram áreas onde tal era inédito. “Nunca vi uma inundação aqui em toda a minha vida”, disse Zhang Junhua, agricultora de 38 anos, ao lado de um vasto campo de arroz, agora completamente inútil. "Nós, simplesmente, não esperávamos isto", acrescenta.
A província de Heilongjiang, no nordeste do país, foi fortemente atingida, o que levou a um grande impacto no abastecimento de alimentos para todo o país. Este mês, 40% da famosa colheita de arroz Wuchang da região foi dizimada, visivelmente arrasada pelo volume e velocidade da água. Lugares que outrora eram exuberantes e verdes, estão hoje castanhos e sem vida.
Também recentemente, a cidade de Zhuozhou, na província de Hebei, ficou completamente alagada, para poder salvar a capital. Isto porque as autoridades chinesas utilizam um sistema de barragens para mudar a sua direção dos cursos de água e esta "pequena" cidade foi crucificada para defender um "bem maior", a grande metrópole Pequim.
Em pouco mais de uma década, o número de inundações registadas no país aumentou dez vezes. Para que tenhamos noção, no verão de 2011, ocorreram de seis a oito inundações mensais na China. No ano passado, foram registados mais de 130 episódios no mês de julho e 82 em agosto.
Um calor abrasador a norte
Também em julho, uma intensa onda de calor afetou grande parte da China, em especial o norte do país, afetando mais de 900 milhões de pessoas, ou seja, cerca de 64% da população. Todas as províncias do nordeste do país, exceto duas, emitiram alertas devidos às altas temperaturas, com 84 cidades emitirem alertas vermelhos, no pico da onda.
Um total de 71 estações meteorológicas em toda a China registaram temperaturas que bateram recordes. Quatro cidades, três delas na província central de Hebei e uma em Yunnan, no sudoeste registaram temperaturas que atingiram os 44 ºC. A temperatura mais alta de sempre foi registada no norte do país, na província de Xinjiang, onde este episódio extremo fez os termómetros chegarem aos 52,2 °C.
A administração meteorológica do governo chinês admite que as temperaturas extremamente altas e a precipitação extrema aumentaram definitivamente desde meados da década de 1990.
Um estudo da Greenpeace realizado há dois anos, concluiu que mais ondas de calor e chuvas extremas prolongariam efetivamente o verão por um mês durante este século nas províncias em redor de Pequim e Xangai e por 40 dias no delta do rio das Pérolas.
Cascade Tuholske, professor da Universidade Estadual de Montana, nos Estados Unidos da América, defende que “estes eventos climáticos acontecem sem as alterações climáticas. Os mecanismos que impulsionam estes eventos individuais, ou eventos compostos, como ondas de calor e inundações que afetaram a China neste verão, são complexos, mas as alterações climáticas estão a tornar os eventos extremos mais comuns e mais intensos".
Para o geógrafo, os eventos climáticos extremos são um enorme problema para o gigante asiático devido à sua densa população e por este ser um importante ator na economia global.