China lança plano ambicioso para controlar o clima
A China vai avançar com o alargamento territorial do seu programa de modificação do clima. Assente na sementeira de nuvens, esta iniciativa está agora a acentuar as tensões com países como Índia e Taiwan. Saiba mais aqui!
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Pequim é uma das cidades mais poluídas do mundo, mas quando acontece uma reunião política importante ou um evento de relevância internacional o céu torna-se limpo, azul e a luz regressa à cidade. Isso não acontece por acaso. O governo chinês tem vindo a recorrer a programas de manipulação do clima há vários anos e, em dezembro do ano passado, deu um passo em frente: anunciou uma meta para expandir substancialmente a sua capacidade operacional neste campo.
Os objetivos do programa de modificação do clima da China
Anunciado a 2 de dezembro do ano passado pelo conselho de estado da China, o guia para o programa de modificação do clima consiste em três objetivos específicos.
O primeiro é que até 2025, "a área afetada pelas operações para aumentar a chuva artificial (ou neve) alcance mais de 5,5 milhões de quilómetros quadrados"; o segundo, que também até 2025 "a área protegida por operações de prevenção de granizo chegue a mais de 580 mil km²” e o terceiro que até 2035, um 'nível mundial avançado' seja alcançado em termos da inovação em operação, tecnologia, investigação e serviços essenciais, bem como uma prevenção abrangente dos riscos de segurança.
This report published on Dec 2020 will now be a point of discussion.
— Just another Journalist (@DarshuBhatia) February 7, 2021
"China to expand weather modification program to cover area larger than India"https://t.co/0fAMMGW6Un
A modificação do clima deve intensificar os seus serviços de apoio nos seguintes campos-chave: estimativa para desastres como a seca e o granizo, e trabalhos de zoneamento relacionados com as áreas de produção agrícola; planos de trabalho normalizados para regiões que necessitam de proteção e restauração ecológica; e respostas de emergência importantes para lidar com eventos tais como incêndios florestais ou de pastagens, e temperaturas elevadas invulgares ou secas.
O que é a sementeira de nuvens ou chuva artificial?
A chuva artificial é a prática de induzir ou aumentar artificialmente a precipitação adicionando agentes externos nas nuvens. Estes agentes externos podem ser diversos tipos de partículas, tais como: gelo seco (dióxido de carbono sólido), iodeto de prata, sal em pó, etc. Este processo é conhecido como sementeira de nuvem e o estímulo é levado a cabo por aviões ou foguetes.
A primeira etapa inclui o uso de produtos químicos para estimular a massa de ar a formar nuvens. Estes produtos químicos absorvem o vapor de água e ajudam no processo de condensação. Produtos químicos como óxido de cálcio, composto de ureia e nitrato de amónio ou carbonato de cálcio e cloreto. Na segunda etapa, a densidade das nuvens aumenta. Na etapa final, as aeronaves sobrevoam as proximidades da nuvem e despejam os agentes externos que facilitam o crescimento das gotas de água que, posteriormente, precipitam sob a forma de chuva.
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A controvérsia em torno deste método
Tendo em conta a incerteza do uso deste tipo de tecnologias, muitos cientistas ainda possuem dúvidas acerca da fiabilidade deste método. De acordo com John C. Moore, cientista-chefe da Faculdade de Ciências do Sistema Terrestre e Mudanças Globais da Universidade Normal de Pequim, esta técnica “Foi desenvolvida sem ter passado por nenhum tipo de validação científica".
O cientista, que também é líder do programa de geoengenharia da China, acentua esta ideia, afirmando: "Ainda hoje, cientistas especializados em aerossóis na China, que fazem experiências com aviões e coisas assim, dizem que é um assunto pouco conhecido, que é feito no dia a dia sem uma investigação científica completa”.
Dhanasree Jayaram, especialista em clima na Academia Manipal de Educação Superior em Karnataka, Índia, aponta que a maior preocupação na região vai além da sementeira de nuvens e concentra-se na possibilidade da China implementar tecnologias de geoengenharia mais ambiciosas, como a gestão ou controlo da radiação solar, sem consultar outros países. Isto pode tornar-se problemático especialmente quando as relações entre países estão num momento tenso.