Chernobyl: o local do desastre pode transformar-se num gigante parque eólico
Um projeto idealizado por uma empresa alemã e outra ucraniana pretende transformar Chernobyl num grande parque eólico, de forma a fornecer eletricidade a cerca de 800 mil residências em Kiev.
Já todos ouvimos falar no desastre de Chernobyl. Em abril de 1986, a Central Nuclear de Chernobyl foi palco do pior acidente nuclear da história, aquando a explosão de um reator. O acidente afetou cerca de 8,4 milhões de pessoas direta e indiretamente.
O local, que virou uma zona de exclusão, agora poderá ter uma nova função: a Ucrânia quer transformá-lo num parque eólico gigante, e fazer da região um centro de geração de energia 'verde'.
O desastre de Chernobyl
O desastre de Chernobyl foi um acidente nuclear catastrófico que ocorreu no dia 26 de abril de 1986 no reator nuclear nº 4 da Central Nuclear de Chernobyl, na cidade de Pripyat, no norte da Ucrânia. O que ocorreu foi a explosão do reator RBMK número quatro da central nuclear de Chernobyl. Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), o reator ficou fora de controlo durante um teste de baixa potência e gerou um incêndio que demoliu o edifício e libertou grandes quantidades de radiação para a atmosfera.
Segundo a National Geographic, a temperatura no interior do reator atingiu 4.650 ºC antes de explodir. A força da explosão, equivalente a 66 toneladas de trinitrotolueno (TNT), destruiu o telhado do edifício de 20 andares, todo o interior do núcleo do reator e libertou, pelo menos, 28 toneladas de substâncias altamente radioativas na atmosfera. Isso fez com que o local e áreas próximas fossem evacuadas, transformando a região numa zona de exclusão.
O acidente deixou milhares de mortos, de forma direta devido à explosão e à alta contaminação no local, e indireta, a longo prazo, devido ao desenvolvimento de cancro pela exposição à radiação e ao consumo de alimentos contaminados.
E como está hoje?
37 anos após o acidente, o reator 4 destruído e os restos dos resíduos nucleares estão seguros, protegidos sob uma grande estrutura colocada por cima deles para confiná-los. Segundo a IAEA, em 2022, haviam 2.700 pessoas empregadas na região de Chernobyl, a maior parte delas a viver em Slavutych, uma cidade-satélite construída em 1986, a 50 km do epicentro da catástrofe, com o objetivo de abrigar os sobreviventes da tragédia. A cidade de Pripyat, onde ficava a central, continua abandonada.
A criação de um parque eólico em Chernobyl
A Ucrânia quer transformar as ruínas de Chernobyl num parque eólico gigante, capaz de fornecer energia elétrica a cerca de 800 mil residências em Kiev e regiões adjacentes. O projeto envolve o país e a empresa alemã NOTUS Energy. Para além de deixar os combustíveis fósseis para trás, o projeto também ajudará a Ucrânia a tornar-se mais independente na questão energética.
A NOTUS, juntamente com o governo ucraniano e a operadora do sistema de transmissão Ukrenergo, assinou uma declaração conjunta de intenções para o desenvolvimento de uma "fazenda eólica" na zona de Chernobyl. Com esse documento, eles concordam com a implementação do projeto, que inclui: a averiguação da infraestrutura de rede existente, a identificação de áreas potencialmente adequadas e uma avaliação do impacto ambiental.
"Um parque eólico dessa magnitude contribuiria significativamente para a expansão das energias renováveis na Ucrânia e fortaleceria a independência e a descentralização do abastecimento de energia ucraniano", afirmou Hannes Helm, diretor-geral da NOTUS.
A NOTUS destaca que o projeto é importante por três principais motivos: a capital Kiev fica a 150 km de Chernobyl, o que significa que a energia poderia ser entregue diretamente à região metropolitana; a construção e operação do parque daria um futuro promissor à zona de exclusão; e ainda aproveitaria totalmente a infraestrutura já existente. "No meio da guerra russa contra a Ucrânia, a área afetada pelo acidente nuclear ocorrido quase há 40 anos pode tornar-se um símbolo de energia limpa e amiga do ambiente, fornecendo eletricidade verde para Kiev", salientou a empresa alemã.