Chá verde dos Açores mostra potencial para aplicações ortopédicas e saúde óssea

O chá verde dos Açores mostra-se promissor no desenvolvimento de materiais ortopédicos avançados, demonstrando eficácia na regeneração óssea e ação antibacteriana, segundo um estudo da Academia das Ciências da Bulgária.

Estudo desenvolvido por português demonstra possível inovação baseada no chá verde dos Açores, a gorreana.

O chá verde dos Açores revelou ser uma fonte promissora de inovação para o desenvolvimento de materiais avançados em aplicações ortopédicas, especialmente na regeneração óssea e no combate a infeções bacterianas.

A evidência surge de um estudo da Academia das Ciências da Bulgária, liderado pelo investigador açoriano Marco Oliveira, cujas raízes familiares na ilha de São Miguel foram determinantes na escolha do chá Gorreana como elemento-chave no projeto.

Este estudo integra um consórcio europeu financiado pelo programa Marie Curie, focado na criação de materiais com propriedades antibacterianas e regenerativas para a medicina ortopédica.

Inovação baseada nas tradições dos Açores

O uso do chá verde não foi uma escolha aleatória. Marco Oliveira, que se mudou para a Bulgária após concluir a licenciatura e o mestrado no Porto, mantém uma forte ligação às suas origens açorianas.

"Quando precisávamos de um antioxidante natural para a investigação, lembrei-me automaticamente do chá verde da Gorreana, que sempre tive comigo aqui na Bulgária", explicou o investigador.

O chá Gorreana é reconhecido pela sua qualidade e pureza, sendo cultivado na freguesia da Maia, na costa norte da ilha de São Miguel, num ambiente livre de pesticidas e químicos artificiais.

Este contexto é importante, uma vez que o chá verde é conhecido pelas suas propriedades antioxidantes, que podem ser eficazes na redução de infeções e promoção da saúde óssea. Estudos prévios indicam que os antioxidantes presentes no chá verde, como as catequinas e polifenóis, podem melhorar a densidade mineral óssea e reduzir a inflamação, fatores cruciais na regeneração óssea.

O método inovador adotado pela equipa combina a tecnologia de laser femtossegundo com a sintetização de nanopartículas da prata, incorporando extratos de chá verde da Gorreana. A utilização de nanopartículas de prata, que possuem propriedades antimicrobianas reconhecidas, visa melhorar a eficácia do material em resistir a infeções, um dos maiores desafios nos implantes ortopédicos.

Segundo Marco Oliveira, a combinação destas tecnologias tem mostrado resultados promissores: "observámos um crescimento significativo de células ósseas, com sinais preliminares de mineralização após apenas 15 dias. Além disso, verificámos uma redução substancial do crescimento bacteriano."

Estes resultados sugerem que o chá verde pode desempenhar um papel importante na prevenção de infeções e na promoção da cicatrização óssea.

Estudos recentes sobre a utilização de nanopartículas de prata em medicina reforçam esta abordagem. As nanopartículas de prata são amplamente reconhecidas pelas suas propriedades antibacterianas, sendo eficazes contra uma vasta gama de patógenos, incluindo Staphylococcus aureus, uma das principais causas de infeções em implantes. A combinação com o chá verde potencia o efeito antioxidante, criando um ambiente mais favorável à regeneração óssea e à cicatrização.

Implicações para a indústria e sustentabilidade

Além do potencial terapêutico, o uso do chá verde da Gorreana em aplicações ortopédicas tem implicações significativas para a sustentabilidade e valorização dos produtos locais dos Açores. Este estudo pode abrir novas oportunidades para a indústria do chá da região, que poderá beneficiar da procura por ingredientes naturais e inovadores em biotecnologia e medicina.

Gorreana tradições
A Gorreana é a mais antiga plantação de chá da Europa. Este produto maravilhoso datado de 1883, mantém desde então as tradições originais do oriente e as qualidades ancestrais.

A integração de produtos locais em tecnologias médicas avançadas exemplifica um caminho para o desenvolvimento económico sustentável, alinhando-se com as políticas de valorização dos recursos endógenos e a promoção de práticas agrícolas sustentáveis nos Açores.

O próximo passo da investigação inclui a realização de testes adicionais para validar a eficácia das nanopartículas em diferentes condições e contextos clínicos.

"Se verificarmos que o material tem potencial, poderemos avançar para fases mais avançadas, incluindo testes 'in vitro' e, eventualmente, ensaios clínicos", explicou Marco Oliveira.

O investigador não descarta a possibilidade de explorar outras variedades de chá, como o chá preto da Gorreana, que também apresenta uma composição rica em antioxidantes. No entanto, a simplicidade e a praticidade do chá verde, associado ao seu consumo tradicional, tornam-no uma escolha preferencial para o desenvolvimento inicial do projeto.

Referência da notícia:

Oliveira, M., Angelova, L., Grenho, L., Fernandes, M. H., & Daskalova, A. (2024). Dual-Function Femtosecond Laser: β-TCP Structuring and AgNP Synthesis via Photoreduction with Azorean Green Tea for Enhanced Osteointegration and Antibacterial Properties. Materials, 17(20), 5057. https://doi.org/10.3390/ma17205057