Caraíbas registam o período mais quente de sempre

Segundo a Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês), a região das Caraíbas quebrou vários recordes relacionados com as temperaturas elevadas durante o ano de 2020. Destacou-se o mês de setembro, nesta análise, já que nos territórios de Porto Rico, Dominica e Granada (conhecida pelas plantações de noz moscada) foi registado o recorde absoluto de temperatura mais elevada.

Na cidade de Canefield, na Ilha de Dominica, o dia 15 de setembro de 2020 ficou na história da meteorologia como o dia em que se registou a temperatura mais elevada de sempre: 35,7 °C. Já no dia 14 do mesmo mês, a cidade de Point Salines, na Ilha de Granada, tinha registado uns impressionantes 34 °C, outro recorde absoluto. Passados apenas três dias, a 17 de setembro, o Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos da América (NWS, na sigla em inglês) sinalizou a localidade de Aguirre, Porto Rico, onde se registaram 37,8 °C, igualmente um recorde naquela área.

A maior incidência das ondas de calor, naquela região, dá-se geralmente entre os meses de maio e outubro. É nestes meses, coincidentes com o verão no Hemisfério Norte, que uma conjugação de fatores potencia a ocorrência de ondas de calor severas. O pico de frequência das ondas de calor acontece nos meses de agosto e setembro, quando se registam valores de humidade relativa muito elevados e a força dos ventos enfraquece consideravelmente.

Segundo Cédric Van Meerbeeck, climatologista do Instituto de Meteorologia e Hidrologia das Caraíbas (CIMH, na sigla em inglês), a análise das sucessivas ondas de calor registadas em 2020 permitiu compreender que o mês de setembro foi importante já que as temperaturas médias do mês quebraram recordes em quase todos os países da região. Em Aruba, em Mabaruma, na Guinana, nos aeroportos de Martinica e Santa Lucia e ainda nas Bahamas e em Trindade e Tobago nunca tinham sido registadas temperaturas tão elevadas.

Que impactos na população e nas atividades económicas?

Segundo Van Meerbeeck, este ano recordista está de acordo com uma tendência verificada, principalmente após 1995. Alguns cientistas acreditam que há uma tendência nesta área para temperaturas extremas e ondas de calor severas. Os dados são, de certa forma, preocupantes, já que apontam para algo que pode ter impactos tanto na saúde da população e nas atividades económicas, como a agricultura e o turismo.

Outros estudos sugerem que, tendo em conta as projeções climáticas, em 2030 cerca de 80% do período entre maio e outubro estará associado a ondas de calor. Estes valores elevados de temperatura, estes recordes, podem tornar-se o novo normal naquela área.

Este novo normal pode mitigar alguns problemas de saúde associados às ondas de calor, favorecendo por outro lado a propagação de vírus. Do ponto de vista agrícola, as temperaturas elevadas, conjugadas com os fracos quantitativos de precipitação, podem ter impactos severos na agricultura, em países que praticam maioritariamente agricultura de subsistência.