Barragens em Portugal registam diminuição de níveis de água em agosto de 2024

No final de agosto de 2024, 13 das 15 bacias hidrográficas de Portugal registaram uma diminuição nos níveis de água armazenada. A 26 de agosto, verificava-se um volume armazenado total de 74%.

Armazenamento água
Em agosto, registou-se uma diminuição do volume de armazenamento de água nas barragens. No final do mês, o total armazenado cifra-se em 74%.

No final de agosto de 2024, continua a verificar-se um cenário preocupante nas albufeiras em Portugal, sobretudo no sul do país, registando-se uma redução significativa dos níveis de água armazenada na maioria das bacias hidrográficas. De acordo com o último boletim da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), a 26 de agosto, 13 das 15 bacias monitorizadas registaram uma diminuição no volume armazenado em comparação com o boletim anterior, datado de 19 de agosto de 2024.

Situação atual das bacias hidrográficas

O boletim da APA revela que apenas duas bacias hidrográficas registaram um aumento no volume de água armazenada na última semana. As restantes 13 bacias apresentaram uma diminuição, refletindo-se a crescente escassez de recursos hídricos no país. Este cenário é agravado pelo facto de apenas 31% das albufeiras monitorizadas apresentarem disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total, enquanto 18% têm níveis de armazenamento inferiores a 40%.

Balanço albufeiras
31% das albufeiras apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% e 18% inferiores a 40% do armazenamento total. Fonte: Relatório do Boletim Semanal de Albufeiras, do SNIRH, a 26 de agosto de 2024.

Apesar de, em termos globais, os níveis de armazenamento de água no final de agosto de 2024 se apresentarem superiores às médias históricas do mês de agosto (entre 1990/91 e 2022/23), existem algumas exceções. As bacias do Lima, Mira, Arade, Ribeiras do Barlavento e Ribeiras do Sotavento apresentam volumes inferiores à média, o que realça a gravidade da situação nestas regiões específicas.

A situação no Algarve mantém-se preocupante

A situação é particularmente crítica no Algarve, onde cinco das seis barragens monitorizadas registaram decréscimo nos níveis de água armazenada na última semana. A barragem do Funcho foi a única que não apresentou uma diminuição, mantendo-se a 36% da sua capacidade. As outras barragens, no entanto, mostram sinais claros de deterioração. Por exemplo, a barragem do Arade sofreu uma diminuição de 2%, enquanto as barragens de Odeleite, Beliche e Bravura registaram decréscimo de 1%.

A albufeira de Odelouca, a maior da região algarvia, encontra-se a 37% da sua capacidade, ainda assim, o nível de armazenamento mais elevado entre as barragens da região. Em contraste, as albufeiras de Odeleite e Beliche estão a 35% e 28% da sua capacidade, respetivamente, enquanto a do Arade decresceu para 21% e a de Bravura se encontra a apenas 17%.

O que está a ser feito, a médio e longo prazo, para a gestão dos recursos hídricos?

Face a um cenário de crescente pressão sobre os recursos hídricos, o governo português anunciou novas medidas para tentar mitigar potenciais efeitos que possam ocorrer, a médio e longo prazo. A ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, confirmou a construção de uma nova barragem em Fagilde, Viseu, a aproximadamente 100 metros a jusante da atual, num investimento superior a 30 milhões de euros.

“É com gosto que venho anunciar que se encontram reunidas as condições para se avançar com a construção de uma nova barragem em Fagilde”, declarou a ministra, salientando a importância desta infraestrutura para a gestão sustentável dos recursos hídricos em território nacional e, em particular, na região.

Além da nova barragem em Viseu, o ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, defendeu a necessidade de construir mais barragens em Portugal para garantir a segurança hídrica, particularmente para o setor agrícola.

“Ainda existe muita burocracia nesta área que é preciso acabar, pois é um perigo para a agricultura”, afirmou o ministro, durante a apresentação do projeto para a construção da rede de rega do Aproveitamento Hidroagrícola do Xévora, a partir da Barragem do Abrilongo, em Campo Maior, Alentejo.

Este investimento, avaliado em mais de 25 milhões de euros, pretende beneficiar uma área superior a 1 500 hectares, contribuindo para a sustentabilidade e competitividade da região em termos agrícolas.

A construção de novas barragens e a expansão das redes de rega são vistas pelo governo como medidas essenciais para garantir a resiliência do país face às alterações climáticas e à crescente escassez de água. Ainda assim, tais medidas são controversas, movimentando algumas organizações não governamentais (ONG), como a ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável, no sentido de contrariar este tipo de opções políticas.

Embora o governo esteja a avançar com investimentos significativos em infraestruturas hídricas, a situação das barragens em Portugal deve merecer ainda particular reflexão, atentando-se àquilo que tem sido a sucessão de níveis de armazenamento abaixo dos limiares do aceitável no Algarve.

Com a previsão de verões cada vez mais quentes e secos, a gestão sustentável dos recursos hídricos torna-se uma prioridade nacional.