Bacalhau russo entra na Noruega “isento de direitos aduaneiros”. Industriais do Bacalhau pedem fiscalização da UE
A Associação dos Industriais do Bacalhau está a alertar para “práticas desleais” decorrentes da “importação de bacalhau russo via Noruega”, desrespeitando as sanções impostas à Rússia devido à invasão da Ucrânia.

O consumo per capita de bacalhau e dos produtos à base de bacalhau em Portugal anda em cerca de 15 quilos por ano, sendo que é no período do Natal que se regista uma maior procura, aí se verificando 30% do consumo total.
Em 2024, de acordo com os dados fornecidos à agência Lusa pelo Conselho Norueguês das Pescas (NSC), até final de outubro tinham sido compradas 748 toneladas de bacalhau corrente (mais 10%, face ao período homólogo), 4.317 toneladas de bacalhau crescido (mais 57%), 1.894 toneladas de bacalhau graúdo (mais 25%) e 554 toneladas de bacalhau especial (mais 7%).
No entanto, nesse ano e de acordo com a mesma fonte, as exportações de bacalhau da Noruega para Portugal desceram 7%, nas várias categorias, embora o preço até tenha aumentado na ordem dos 8%.
Exportações e consumo à parte, o bacalhau está hoje na ordem do dia por razões políticas. A Associação dos Industriais do Bacalhau (AIB) tem vindo a denunciar aquilo que considera ser “uma distorção de mercado”, causada pela “importação de bacalhau russo via Noruega”.
"Concorrência desleal"
E essa prática, além de configurar “falta de ética”, é “concorrência desleal” da parte de “alguns industriais noruegueses", acusa a AIB.
Sendo, embora, uma prática “legal”, à luz da legislação norueguesa, a AIB considera-a “profundamente injusta para a indústria portuguesa e europeia”.
Isto, porque promove a “distorção de mercado”, o que, por sua vez, “coloca em risco a sustentabilidade do setor”, também “desrespeitando as sanções europeias contra a Rússia” impostas devido à invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022.

A Associação dos Industriais de Bacalhau tomou mesmo a decisão de “não participar” num seminário promovido pelo Norwegian Seafood Council (NSC), em Lisboa, no início de fevereiro, destinado a debater “O Futuro do Bacalhau”.
A AIB fala da “necessidade de marcar uma posição firme e institucional contra esta distorção de mercado, que coloca em risco a sustentabilidade do setor e desrespeita as sanções europeias contra a Rússia”.
Com a agravante de esta Associação “não ter sido convidada como orador” do evento, o que, dizem, significa “uma total desconsideração por uma associação que representa mais de 80% das empresas industriais de bacalhau em Portugal e responsáveis por 2.500 empregos diretos”.
“Temos um profundo respeito pela relação histórica entre Portugal e a Noruega e, precisamente por esta relação de respeito, não podemos deixar de alertar o Governo norueguês, os decisores europeus e os industriais de bacalhau na Noruega, solicitando medidas urgentes e alertando que estas práticas estão, cabalmente, no lado errado da História”, referiu ainda Luísa Melo, citada em comunicado.
Empresas da Noruega compram à Rússia
A mesma dirigente lamenta que, “enquanto as indústrias portuguesa e europeia cumprem rigorosamente as sanções impostas contra a Rússia devido à invasão da Ucrânia, algumas empresas norueguesas continuam a comprar bacalhau russo”.

Com essa prática, essas companhias norueguesas obtêm “lucros elevados, inflacionando os preços na Europa e, em última instância, financiando a economia russa que é atualmente uma economia de guerra – possivelmente pagando até preços superiores aos que resultariam de uma concorrência justa dentro do mercado europeu”, refere a AIB.
Uma situação que também fomenta a exportação para a União Europeia, nomeadamente para Portugal, e que “tem graves consequências”.
Em paralelo, ocorre um processo de “concorrência desleal”, já que “as empresas portuguesas, tradicionalmente grandes clientes da Noruega, são forçadas a competir num mercado desigual, colocando em risco investimentos, empregos e a viabilidade do setor”.
Por último, diz a AIB, há uma “quebra de confiança e parcerias abaladas”. Segundo esta Associação, “a Noruega, que é historicamente reconhecida por boas práticas comerciais, está a comprometer a credibilidade das suas relações comerciais ao permitir que esta distorção persista, abalando a confiança que os seus parceiros internacionais depositam na sua imparcialidade e ética comercial”.
Criada em 1993, a Associação dos Industriais do Bacalhau representa mais de 80% das empresas industriais de bacalhau em Portugal, responsáveis por 2.500 empregos diretos e por um volume de negócios anual superior a 500 milhões de euros, dos quais mais de 100 milhões respeitam a mercados externos.