Austrália em alerta: El Niño pode estar prestes a confirmar-se
Depois de alguns anos de ausência, este fenómeno pode estar a caminho de influenciar o estado do tempo do continente austral nos próximos meses. Fique a saber mais, aqui!
O El Niño é um fenómeno que já não se verifica na Austrália desde 2016. Desde então, e nos últimos 7 anos, o Bureau of Meteorology (BOM), agência meteorológica local emitiu uma série de avisos relacionados com a probabilidade de ocorrência do evento, algo que não se veio a concretizar. Desde meados de 2020 que é a La Niña que se tem manifestado naquela região do planeta, apenas com um pequeno período de interregno entre abril e agosto de 2021.
Desde março que o BOM está a observar a probabilidade deste evento acontecer na primavera e verão do Hemisfério Sul, ou seja, no 2.º semestre do ano de 2023 (e até durante o 1.º trimestre de 2024), só que no passado mês de junho o nível de alerta subiu, sendo que sempre que se chegou a este estado, pelo menos 70% das vezes os efeitos do El Niño acabaram por se manifestar. Para os meteorologistas norte americanos do National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) há uma probabilidade de 62% de que este evento se possa manifestar.
El Niño e La Niña
O El Niño – Oscilação do Sul (ENSO, na sigla em inglês) é um padrão climático caracterizado por mudanças na temperatura da superfície do Oceano Pacífico, neste caso na região intertropical do Hemisfério Sul, e em particular na região equatorial. Estas variações na temperatura da água geram mudanças no regime de temperatura e precipitação em muitos pontos do planeta, sendo que o Sudeste asiático e a Oceânia são das regiões mais afetadas. Quando as águas marítimas nesta zona do planeta estão mais quentes que o normal, falamos de La Niña e quando estão mais frias, El Niño.
Em condições de La Niña, os ventos alísios que sopram de leste, pelo Pacífico, empurram a água quente para a costa da Oceânia, tendo como resultado, o surgimento de águas frias nas costas da América do Sul. Assim, há a probabilidade de tempo mais seco na América do Sul banhada pelo Pacífico, aumentando substancialmente a probabilidade de um aumento da quantidade de precipitação na Oceânia. Já durante o El Niño, os ventos dominantes de leste enfraquecem, tendo como consequência o aumento da temperatura de água do mar perto da costa da América do Sul. Assim, os estados do tempo invertem-se.
Efeitos na Austrália
Sob o efeito da La Niña, a Austrália tem passado por anos excecionalmente húmidos, que têm causado inúmeras situações de cheias e inundações. Mas com a probabilidade do El Niño se manifestar na primavera/verão deste ano, há um aumento provável da frequência de ondas de calor e da sua intensidade. A diminuição da nebulosidade e consequente falta de chuva podem amplificar o problema dos incêndios florestais e da seca, com consequências diretas na atividade agrícola (produção de alimentos e criação de animais).
Depois de 3 anos muito húmidos, a vegetação australiana que recuperou do fatídico verão de 2019/2020, em que a área ardida foi superior à área de Portugal, desenvolveu-se muitas vezes sem regras e sem controlo. Esta situação pode potenciar ainda mais a ocorrência de novos incêndios.
Segundo especialistas locais, a probabilidade de ocorrência de um El Niño “forte” até pode ser benéfica para a Austrália, na medida em que não proporcionará condições de tanta seca. Contudo, um El Niño mais fraco pode mesmo gerar as condições perfeitas para mais uma época de incêndios de proporções recorde. Na próxima terça-feira, dia 18, o BOM vai atualizar a sua previsão e esperemos para ver qual será a reação do país a esta mais que provável situação calamitosa.