Austrália está a sentir os efeitos da crise climática global
Com a ocorrência do fenómeno La Niña esperava-se que o ano 2020 na Austrália não estivesse entre os anos mais quentes. Saiba mais aqui.
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Oito dos 10 anos mais quentes de que há registo na Austrália ocorreram desde 2013. A Austrália está a sentir os efeitos da crise climática global mais rapidamente do que muitas regiões do globo.
Recorde da temperatura e La Niña
De acordo com o Serviço Meteorológico Australiano e com base em dados recolhidos desde 1910 em 112 estações meteorológicas de todo o país, 2020 foi o quarto ano mais quente, com uma temperatura média superior em 1,15 °C ao valor normal de 30 anos (1961-1990). O ano mais quente e mais seco continua a ser o de 2019, sendo 2013 e 2005 respetivamente o segundo e terceiro mais quente.
A primavera mais quente de que há registo ocorreu em 2020, com temperaturas 2,03 °C acima da média. Isso terminou com um novembro 2.47 °C mais quente do que a média, tornando-se o novembro mais quente de que há registo.
Segundo uma investigadora da área do clima da Universidade de New South Wales, na Austrália, Perkins-Kirkpatrick, o recorde de novembro quente foi uma surpresa porque se esperava que La Niña tivesse mantido as temperaturas mais baixas. La Niña é a fase mais fria da temperatura da superfície da água do Oceano Pacífico Tropical Central e Oriental de um ciclo conhecido como Enso (El Niño Southern Oscillation), com a fase mais quente conhecida como El Niño.
De acordo com o Serviço Meteorológico Australiano e com base em modelos climáticos, um evento La Niña no período de setembro a dezembro poderia provocar um regresso a condições neutras por volta do final do verão ou início do outono. Daí que La Niña não tenha contribuído para baixar a temperatura média durante o ano 2020. A influência de La Niña nas temperaturas tende a vir no ano seguinte ao da declaração do fenómeno. De qualquer forma, 2020 foi significativamente mais quente do que um ano normal, mas foi um regresso a algum nível de normalidade após um ano excecional de 2019.
Efeitos das mudanças climáticas na Austrália
O tempo quente e seco tem afetado a Austrália nos últimos anos, o que tem levado à ocorrência de secas, ondas de calor e à deflagração de incêndios florestais de grandes proporções em muitas regiões. Quem não se recorda dos incêndios florestais em 2019?
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Os incêndios que deflagraram em 2019 causaram uma catástrofe nacional com mais de 7 milhões de hectares de área ardida, dezenas de vidas perdidas, milhares de casas atingidas e envolveram cidades em fumo tóxico durante dias. Além destes impactos, os incêndios florestais devastaram a vida selvagem única do país. Estima-se que tenham morrido um bilião de animais.
Além da temperatura do ar também a temperatura da água do mar junto à costa está a registar níveis acima do normal. Em março de 2020, temperaturas anormalmente elevadas da superfície do mar na região da Grande Barreira de Coral causaram o terceiro evento de branqueamento em massa de coral em cinco anos.
Os fortes impactos causados pelas alterações climáticas, com aumento da temperatura do ar e do oceano junto à costa australiana, mudaram a forma como muitos australianos pensavam sobre a crise climática. O que foi, para muitos, uma ideia abstrata que se iria passar num futuro distante, começou, no espaço de um Verão, a sentir-se como uma realidade diária.