Aumento no número de casos de dengue é reflexo das temperaturas elevadas e da desflorestação!
Ondas de calor, desflorestação e urbanização são fatores que estão diretamente ligados com o aumento no número de casos de dengue no Brasil. Confirme o estudo da Fiocruz.
Até à última segunda-feira (18), o Brasil contabilizou mais de 1,8 milhão de casos de dengue, segundo o Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde. Assim, os três primeiros meses de 2024 já superaram o total de casos do ano anterior.
O último recorde histórico foi registado no ano de 2015, quando o Brasil contabilizou mais de 1,6 milhão de casos de dengue, e lugares onde antes a doença não era tão comum estão tendo alta incidência de casos.
Expansão da dengue no Brasil vs Anomalias positivas de temperatura
O aumento dos casos de dengue no país está a ser influenciado pelas constantes ondas de calor causadas pelas alterações climáticas associadas à urbanização e à grande circulação de pessoas.
Esta foi a conclusão de um artigo publicado no Scientific Reports da Nature sobre alterações climáticas, anomalias térmicas e a recente progressão da dengue no Brasil, realizado por investigadores do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e do Centro de Supercomputação de Barcelona, em Espanha.
O estudo realça que a dengue tem vindo a espalhar-se para as regiões Sul e Centro-Oeste em razão da ocorrência de eventos extremos, como secas e inundações, além da expansão da fronteira económica em direção à Amazónia através da construção de estradas e da degradação de florestas.
Para compreender o novo padrão de disseminação dos casos de dengue no Brasil, os investigadores da Fiocruz utilizaram a técnica de mineração de dados. Eles analisaram tanto indicadores climáticos como registos demográficos das regiões Sul e Centro-Oeste, que sofreram aumento no número de casos entre 2014 e 2020.
Por exemplo, no interior do Paraná, Goiás, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul, locais que enfrentavam cerca de cinco dias de anomalia de calor no verão, agora passam de 20 a 30 dias com temperaturas acima do normal.
Mais de 300 casos por 100 mil habitantes
Atualmente, o processo de expansão de área de transmissão da dengue parece ser irreversível, pois uma vez que o vírus e o vetor são introduzidos, é pouco provável voltar a um cenário de transmissão zero. Esta situação é ainda mais grave nas microrregiões com taxas de incidência mais elevadas, com mais de 300 casos por 100 mil habitantes, nas quais cerca de 77% das microrregiões tendem a permanecer com taxas consideradas epidémicas de 2007 a 2013 e de 2014 a 2020.
Atualmente, 52% das microrregiões do país (292/553) estão na faixa epidémica de dengue e 46% (258/553) estão na faixa de média a baixa incidência, na qual se observa "risco esporádico ou incerto" . No último período, apenas três microrregiões permaneceram sem casos de dengue, todas localizadas no extremo Sul do país.
A temperatura é um fator ambiental que regula a infestação de mosquitos e, portanto, a transmissão da dengue. A reprodução do Aedes aegypti é viável entre 18 e 33 °C, e a faixa ideal para manutenção da transmissão é de 21 a 30 °C, padrão que ocorre em grande parte do Brasil.
Além disso, o estudo também aponta o papel da desflorestação no avanço dos casos de dengue. Em geral, as áreas cuja cobertura vegetal foi retirada costumam ser ocupadas por pessoas. Nesses locais, a urbanização e o aumento da circulação de pessoas favorece o aquecimento global, além de facilitar a transmissão.
Referência da notícia:
Barcellos, C., Matos, V., Lana, R.M. et al. Climate change, thermal anomalies, and the recent progression of dengue in Brazil. Scientific Reports, 14, 5948 (2024).