As previsões meteorológicas não chegam a todas as populações do mundo com a mesma qualidade
Existem grandes diferenças nas previsões meteorológicas em todo o mundo, tanto na qualidade como na forma de comunicação, com um grande fosso entre os países ricos e os pobres.
Nos países de maior rendimento é possível aceder-se em segundos a uma previsão de cinco dias bastante exata através de um simples telemóvel. Infelizmente, esta qualidade de informação não está disponível para toda a gente do globo.
Melhorar as previsões nos países de baixo rendimento é fundamental
Num estudo recente dos investigadores Manuel Linsenmeier e Jeffrey Shrader, uma previsão de sete dias num país rico pode ser mais exata do que uma previsão de um dia em alguns países de rendimentos baixos.
Embora as previsões nacionais tenham melhorado ao longo do tempo em todos os países do globo, a diferença de qualidade entre os países de rendimento alto e os de rendimento mais baixo, é atualmente quase tão grande como na década de 1980.
Uma das razões tem a ver com o facto de existirem muito menos instrumentos de observação meteorológica, tanto observação de superfície como de altitude, as radiossondagens. Apesar de atualmente, esta ausência de observação poder ser colmatada, em parte, pelos dados obtidos pelos satélites meteorológicos, nada é mais correto do que uma observação in loco.
Quanto mais precisos forem os dados de observação que alimentam os modelos meteorológicos, que produzem as previsões, maior será a exatidão destas previsões.
Outro dos fatores que contribui para a menor qualidade das previsões nos países de menor rendimento é o fraco investimento nos serviços meteorológicos. Num estudo recente de Lucian Georgeson, Mark Maslin e Martyn Poessinouw foram analisadas as diferenças de despesa entre grupos de rendimento. Isto inclui a despesa privada e pública em produtos meteorológicos comerciais, os chamados “serviços de informação meteorológica e climática".
Os países com baixos rendimentos gastam 15 a 20 vezes menos por pessoa do que os países com rendimentos elevados. Mas, dada a dimensão das suas economias, gastam efetivamente mais em percentagem do PIB.
Nestes países, 60% dos trabalhadores trabalham na agricultura, sem dúvida, o setor mais dependente das condições meteorológicas. A maioria são pequenos agricultores, muitas vezes extremamente pobres.
Os agricultores podem obter informações sobre a melhor altura para plantar as suas culturas. Sabem antecipadamente quando a irrigação será mais necessária ou quando os fertilizantes correm o risco de ser arrastados pela água. Podem receber alertas sobre surtos de pragas e doenças para poderem proteger as suas culturas quando um ataque se aproxima ou poupar pesticidas quando o risco é baixo.
Isto significa que podem utilizar recursos preciosos de forma mais eficiente se tiverem acesso a previsões meteorológicas exatas.
Um sistema de avisos antecipados, com boas previsões, é fundamental para proteção contra ciclones, ondas de calor, inundações e tempestades. A existência de avisos corretos com vários dias de antecedência permite às cidades e comunidades prepararem-se. As habitações podem ser protegidas e os serviços de emergência podem estar a postos para ajudar na recuperação.
No entanto, as previsões exatas, só por si, não resolvem o problema, só serão úteis se forem divulgadas às pessoas, para que estas possam reagir.
Comunicação eficaz das previsões é essencial
Associado à elaboração de uma boa previsão é necessário ter um sistema eficaz de divulgação das mesmas.
Muitas das catástrofes mais mortíferas das últimas décadas foram previstas com exatidão e com antecedência. No entanto, a falha comum foi a falta de comunicação, os avisos não chegaram às populações.
Melhorar as previsões é a base, mas estas também precisam de ser incorporadas em sistemas eficazes de aviso precoce. A Organização Meteorológica Mundial, OMM, estima que cerca de um terço do mundo, predominantemente os países mais pobres, não os tem.
Isto será ainda mais importante à medida que as alterações climáticas aumentam os riscos de catástrofes relacionadas com o clima. Em última análise, são os mais pobres, que são os mais vulneráveis, que sofrerão as piores consequências.
Para colmatar as lacunas existentes ainda em relação à qualidade das previsões e nos sistemas de avisos nos países em desenvolvimento, será necessário um investimento e um apoio financeiro adequados na área da meteorologia e clima.