As ondas de calor nos polos surpreendem os cientistas

Ondas de calor acontecem simultaneamente na Antártida e no Ártico e surpreendem toda a comunidade científica. Contamos-lhe mais aqui sobre este fenómeno!

Derretimento de gelo
As temperaturas na Antártida e no Ártico atingiram níveis recorde.

Os cientistas alertam que os eventos, sem precedentes, das ondas de calor a acontecerem simultaneamente nos dois polos podem sinalizar uma rutura climática mais rápida e abrupta.

Registos de temperatura na Antártida e no Ártico

No passado dia 18, na base de investigação Concordia, localizada no Domo C da Antártida, a cerca de 3 mil metros de altitude, as temperaturas chegaram a registar -11,5 °C, o que representa um aumento de 40 °C em relação à média da região. O número foi considerado um recorde por especialistas, que estranharam a medição para a época do ano, prestes a entrar no outono. Os recordes de temperatura máxima foram superados em diversos pontos do continente.

De acordo com Etienne Kapikian, meteorologista da Météo-France (Serviço Meteorológico Francês), a temperatura de -11,5 °C é um recorde absoluto, que superou os -13,7 °C, registados em 17 de dezembro de 2016.

Noutras regiões do globo, esta temperatura, -11,5 °C, já é uma temperatura muito baixa, mas na Antártida, nos pontos mais altos nesta época do ano, quando o outono está a iniciar-se no hemisfério Sul, a temperatura deveria estar perto dos -50 °C.

Nas regiões de menor altitude da Antártida, embora as temperaturas devessem ter caído com o fim do verão meridional, a base de Dumont d’Urville, localizada na costa da Terra Adelia, bateu o recorde do mês de março mais ameno, com +4,9 °C, e temperatura mínima de +0,2 ° C em 18 de março.

Estação de observação
Na Antártida, bem como no Ártico, existem estações de observação ligadas a programas de investigação localizadas a diferentes altitudes.

Ao mesmo tempo, no lado oposto do globo, onde a primavera estava a iniciar-se, os investigadores do Ártico registavam temperaturas de 30 °C acima da média para esta altura do ano.

Aquecimento da Antártida e do Ártico

Com temperaturas nos dois polos a registarem valores bastante acima dos valores médios em vários dias, podemos dizer que estamos perante ondas de calor surpreendentes tanto na Antártida como no Ártico.

Perante esta situação, o cientista Walt Meier alertou para o facto de se tratar de uma ocorrência anormal.

Não se vê o gelo dos polos norte e sul a derreter ao mesmo tempo. É definitivamente uma ocorrência anormal.

De forma geral, a tendência que temos visto é a de o polo Sul estar a aquecer mais devagar em comparação com o resto do mundo, de forma que este recente recorde de calor na Antártida causa estranheza.

O Globo
O aquecimento global que se tem vindo a registar tem taxas de subida da temperatura diferentes em cada região do globo, nomeadamente entre a Antártida e o Ártico.

A tendência observada no Ártico, por sua vez, é de uma subida de temperatura três vezes mais rápida do que a que ocorre no resto do mundo. Assim, no caso do polo norte, o crescente derretimento do gelo não é uma surpresa tão grande, embora ainda seja preocupante.

Extensão de gelo

O rápido aumento das temperaturas nos polos é um aviso de interrupção nos sistemas climáticos da Terra. O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas já tinha alertado para sinais de aquecimento sem precedentes que já ocorrem, resultando em algumas mudanças, entre elas o derretimento do gelo polar, e que podem rapidamente tornar-se irreversíveis.

Em fevereiro, a camada de gelo da Antártida atingiu a sua menor área desde o início das medições por satélite em 1979, com menos de 2 milhões de km2, de acordo com o Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo dos Estados Unidos (NSIDC). A extensão de gelo do Ártico, em fevereiro de 2022, foi 4,5% abaixo da média.

À medida que o gelo do mar polar derrete, o planeta aquece ainda mais, visto que o mar absorve mais calor do que o gelo, que reflete mais a radiação solar.