As ondas de calor estão a tornar-se mais frequentes, mais lentas e mais duradouras, afirmam os cientistas

As alterações climáticas estão a provocar um abrandamento das ondas de calor, expondo os seres humanos a temperaturas extremas durante mais tempo do que nunca, segundo um estudo. Saiba mais aqui!

ondas de calor
Para cada década entre 1979 e 2020, os investigadores descobriram que as ondas de calor abrandaram, em média, oito quilómetros por hora, por dia, aumentando, assim, os dias de evento extremo. (Imagem criada por IA)

Embora estudos anteriores tenham concluído que as alterações climáticas estão a fazer com que as ondas de calor se tornem mais longas, mais frequentes e mais intensas, este estudo mais recente diferiu ao tratar as ondas de calor como padrões meteorológicos distintos que se movem ao longo das correntes de ar, tal como as tempestades.

Uma onda ou vaga de calor é um período de tempo anormalmente quente. Estas são frequentemente medidas em relação às variações climáticas e sazonais habituais num determinado local e podem, por vezes, abranger uma área muito grande.

"Assim, estas temperaturas extremas numa grande região podem ter um enorme impacto na saúde e no ambiente", afirmou Wei Zhang. Zhang é professor assistente de ciências climáticas na Universidade Estadual do Utah (USU). Faz parte de uma equipa internacional que descobriu que, a nível mundial, as ondas de calor estão a tornar-se mais frequentes, a durar mais tempo e a deslocar-se mais lentamente, cobrindo áreas maiores e tornando-se ainda mais quentes.

A situação tem vindo a piorar desde o final do milénio

Os investigadores dividiram o mundo em células de grelha tridimensional e definiram as ondas de calor como zonas de um milhão de quilómetros quadrados onde as temperaturas atingiram pelo menos o percentil 95 da temperatura máxima histórica local.

Em seguida, mediram o seu movimento ao longo do tempo para determinar a rapidez com que o ar quente se deslocava. Utilizaram também modelos climáticos para determinar como teriam sido os resultados na ausência de alterações climáticas causadas pelo Homem e concluíram que os fatores humanos eram importantes.

Desta forma, conseguiram concluir que, a nível mundial, estas alterações têm-se acentuado desde 1997. Por exemplo, de 2016 a 2020, a onda de calor média durou 12 dias. São mais quatro dias do que a média de oito dias registada entre 1979 e 1983.

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Estas ondas de calor cobrem também áreas cada vez maiores e têm vindo a aumentar a um ritmo de 8,3 eventos adicionais por década. Isto varia consoante o local, mas globalmente tornar-se-ão mais extremas num futuro próximo e distante.

Estaremos num ponto de não retorno?

No entanto, apesar de os resultados serem terríveis, Zhang não vê isto como mais um motivo de preocupação. Como cientista do clima, está habituado a lidar com resultados difíceis, salientando que, embora esta seja a realidade do nosso presente, ainda podemos mudar o nosso futuro.

"Temos adaptação e mitigação para nos adaptarmos melhor a este calor extremo. Por exemplo, podemos plantar mais árvores, construir infraestruturas verdes, telhados verdes, paredes verdes para reduzir o calor na cidade. E também poderíamos acrescentar mais centros de arrefecimento", afirmou.

Isto é significativo porque este estudo centrou-se principalmente no nosso passado e num futuro com emissões crescentes de gases com efeito de estufa sem uma ação climática eficaz. Mas este não tem de ser o nosso futuro. Como o próprio autor sublinha, este estudo e outros semelhantes podem orientar as nossas escolhas no futuro.


Referência da notícia:

Luo M., Wu S., Lau G., et al. Anthropogenic forcing has increased the risk of longer-traveling and slower-moving large contiguous heatwaves. Science Advances (2024).