As nuvens de Vénus podem ser capazes de suportar vida
Um estudo recente, publicado na revista Astrobiology, examina a probabilidade de o planeta Vénus ser capaz de suportar vida dentro da espessa camada de nuvens que o envolve.
Este estudo tem o potencial de nos ajudar a compreender melhor a forma como a vida poderia existir sob as intensas condições venusianas, uma vez que as discussões no seio da comunidade científica sobre a existência de vida no segundo planeta a contar do Sol continuam a arder mais do que o próprio planeta.
"Neste momento, há muito interesse em Vénus, na sequência do relatório inicial de Jane Greaves sobre a presença de fosfina nas nuvens", afirmou ao Universe Today, o Dr. William Bains, investigador da Universidade de Cardiff e principal autor do estudo.
Contudo, as opiniões variam muito sobre a possibilidade de haver vida nas nuvens, desde considerar as nuvens "habitáveis" a dizer definitivamente que não pode haver vida.
Os investigadores quiseram rever o que já sabem sobre Vénus e sobre os princípios básicos da vida, e ver se a vida em Vénus é um assunto que vale a pena investigar, ou se podia ser excluído a partir dos primeiros princípios.
O estudo
Para o estudo, os investigadores discutiram os vários aspetos das nuvens de Vénus que poderiam ser responsáveis por abrigar potencialmente qualquer tipo de vida, mesmo que não seja vida semelhante à da Terra.
Estes incluem os requisitos energéticos para a vida, a energia química disponível, a falta de hidrogénio disponível, a falta de metais, a acidez das nuvens, a baixa atividade da água dentro das nuvens, o ambiente de alta radiação e a massa da biosfera das nuvens de Vénus.
"As nossas conclusões foram que as condições nas nuvens não excluem a vida, embora excluam a vida semelhante à da Terra", disse o Dr. Bains. "Esta é uma distinção importante - que nem toda a vida no Universo precisa de ser como a vida na Terra."
O estudo também averiguou futuras missões espaciais a Vénus baseadas na astrobiologia, especificamente que deveriam ser pequenas e económicas, com o objetivo de responder a questões científicas de natureza mais específica.
Os investigadores referem que, embora estas missões de menor escala não respondam a todas as questões relacionadas com as nuvens de Vénus, servirão para "complementar e informar missões maiores" a este planeta.
Um exemplo que os investigadores mencionam é a missão da Rocket Lab a Vénus, cujo lançamento estava inicialmente previsto para maio de 2023, mas que foi entretanto adiado para 2025 e que marcará a primeira missão totalmente privada a Vénus. Embora este estudo mais recente se tenha centrado nas nuvens de Vénus, será provável que as futuras missões espaciais centradas na astrobiologia encontrem vida na superfície ou nas nuvens de Vénus?
Vénus não tem um ambiente propício à vida
Embora o planeta Vénus tenha quase o mesmo tamanho que a Terra, o ambiente está longe de ser semelhante, com temperaturas à superfície que atingem os 475º C e pressões à superfície 90 vezes superiores às da superfície da Terra. Além disso, o dióxido de carbono é o gás atmosférico dominante, compreendendo 96,5% da atmosfera tóxica de Vénus.
Em contraste, o dióxido de carbono compreende apenas 0,035% da atmosfera da Terra. O planeta Vénus está também totalmente envolto em nuvens espessas de chuva de ácido sulfúrico, que impedem a luz solar de escapar para o espaço e contribuem para o efeito de estufa descontrolado deste planeta. Desta forma, será possível encontrar vida em Vénus, apesar do seu ambiente agreste?
Se houvesse vida nas nuvens de Vénus, isso iria expandir a nossa visão do que significa "habitável", bem como duplicar o número de exemplos de vida que existem para estudar. Por isso, mesmo havendo uma pequena hipótese de haver vida, vale a pena investigar, afirma Bains.