As grandes potências não estão sozinhas na corrida. Route25 coloca Portugal na vanguarda da condução autónoma

Indústria e academia uniram-se numa iniciativa que ambiciona lançar meia centena de soluções inovadoras para a mobilidade autónoma. Conheça algumas das tecnologias testadas em cidades como Gaia, Aveiro, Porto ou Ílhavo.

carroçaria de carro
Route25 visa desenvolver soluções de mobilidade autónoma com vista a reduzir a sinistralidade na estrada e as emissões de CO2. Foto: 순단 강/Adobe Stock

Os avanços na mobilidade autónoma estão a progredir a grande velocidade. A Tesla revelou recentemente o seu projeto "We, Robot", um táxi com duas portas em asa de gaivota, sem volante nem pedais, que começará a ser produzido em 2026.

Carros da empresa Waymo, detida pela Google, já estão a fazer entregas ao domicílio e transporte de passageiros em três cidades dos Estados Unidos. A chinesa Baidu também já tem automóveis e autocarros a operar na China e no Japão.

Estamos no início de uma nova era para a mobilidade urbana, mas não são apenas as grandes tecnológicas americanas ou asiáticas que estão nesta corrida.

Não causará, provavelmente, grande surpresa se lhe dissermos que as marcas alemãs, como a BMW ou a Mercedes Benz, se preparam também para lançar no mercado carros aptos a conduzir sem intervenção humana. Ou que os residentes de Lyon, em França, já estão a utilizar o “Autonom Cabs” para atravessar a cidade entre a estação de Perrache e a Pointe du Confluent.

O que, no entanto, poderá surpreender é que Portugal ambiciona também entrar nesta competição. Esse é, pelo menos, o objetivo do Route25. Financiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência, a iniciativa propõe colocar o país como um dos grandes motores da mobilidade autónoma da Europa.

Waymo One, táxis autónomos
A Waymo One faz serviços de táxi em Phoenix, São Francisco e Los Angeles. Foto: Waymo/divulgação.

A empreitada é ousada e, por isso mesmo, junta os maiores protagonistas da indústria e da academia nas áreas de mobilidade, tecnologia ou comunicações móveis para ganhar vantagem sobre as suas correntes.

A inovação com ADN português

O projeto Route25 conta com 28 parceiros, tem vários centros de investigação espalhados pelo país e está a desenvolver tecnologias como drones, que dão assistência na estrada, funções de condução cooperativa entre veículos ou soluções de conectividade entre viaturas, equipamentos urbanos e infraestruturas rodoviárias.

O programa, liderado pela Capgemini Portugal, tem como meta desenvolver cerca de 50 soluções com vista a reduzir em 85% as emissões de CO2 e diminuir o número de acidentes em 30%.

A conclusão do projeto está prevista para setembro de 2025 e, nessa altura, o Route25 começará a lançar novas tecnologias, produtos e serviços que se espera poderem vir a desbloquear o potencial da mobilidade autónoma não só em Portugal, mas também além-fronteiras.

ensaios mobilidade autónoma
O Route25, com 28 parceiros, tem vários laboratórios e centros de investigação espalhados pelo país para desenvolver soluções de mobilidade autónoma. Foto: pagnacco/Adobe Stock

Neste consórcio estão a ser desenvolvidas soluções como postes de eletricidade e outros equipamentos urbanos com capacidade para se ligarem ao carro e vice-versa através da sensorização. Há ainda testes-pilotos a decorrer em cidades como Aveiro, Ílhavo, Porto e Fundão.

Outras soluções implicam criar um serviço para os municípios conseguirem localizar em tempo real as viaturas nas suas cidades. Uma parte significativa dos trabalhos está também centrada em questões legislativas que estão a ser articuladas com a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária.

Os bastidores do Mobility Lab de Gaia

No âmbito do projeto, o Mobility Lab, da Capgemini Portugal, localizado em Vila Nova de Gaia, é um dos principais centros onde as novas soluções estão a ser testadas.

Entre as inovações tecnológicas está o desenvolvimento de funções que permitam ao carro conduzir com recurso ao platooning – método de condução em grupo através de manobras cooperativas entre veículos de transporte de mercadoria -, que otimiza a eficiência energética e diminui a pegada ambiental.

sensorização carros autónomos
A sensorização é uma das mais importantes dimensões da condução autónoma, uma vez que substitui a visão humana e interpreta o ambiente na estrada. Foto: Tetiana/Adobe Stock

O Mobility Lab de Gaia conta ainda com uma sala para pequenos drones que simulam uma assistência prestada na estrada em caso de acidentes ou imprevistos na condução autónoma. Um veículo ligeiro com sensores também está a ser desenvolvido para fazer uma leitura a três dimensões do seu ambiente envolvente.

O laboratório de Vila Nova de Gaia arrancou com cerca de 350 colaboradores, mas a meta é chegar aos 700 postos de trabalho até 2025 para servir clientes como a Renault, BMW, Volkswagen, Stellantis ou Panasonic, em países como França, Alemanha, Suécia ou Estados Unidos.

O projeto Route25, por seu turno, representa um investimento total de 50 milhões de euros e irá ainda implicar cerca de mil novos postos de trabalho em Portugal. Em contagem decrescente para a conclusão, o Route25, ambiciona, através da colaboração entre academia, indústria e entidades reguladoras, colocar Portugal entre os grandes atores da mobilidade autónoma.

Referência do artigo

Projeto Route 25. Onde a mobilidade se encontra com a tecnologia. https://route-25.com/