As alterações climáticas afectam a existência humana?
A interferência antrópica no meio ambiente, e a consequente alteração do clima, apesar das controvérsias, começa a granjear consenso. Evidente é a determinante influência que o estado do tempo tem na sobrevivência de todas as espécies, inclusive a humana!
Efectivamente, o aumento de temperatura, e o desregulamento do Efeito de Estufa implica com consequências no equilíbrio do delicado sistema climático do planeta. Recuando algum tempo na escala temporal, poderá eventualmente alvitrar-se que foram os primeiros agricultores que começaram a alterar a quantidade dos gases que caracterizam o Efeito de Estufa, muito antes dos efeitos imputados ao clima com a Revolução Industrial.
O caricato desta preposição reside no facto de, se não tivesse ocorrido a sedentarização da espécie humana, e com isso, a inerente alteração das paisagens através do cultivo dos solos e domesticação e criação de animais, as temperaturas, em algumas regiões da América do Norte e Europa poderiam ser inferiores às actuais, em cerca de 4⁰C! O que seria suficiente para inviabilizar o desenvolvimento humano (história, agricultura) nestas áreas do planeta, pelo menos do modo como hoje as conhecemos!
Isto é, aliada a toda uma panóplia de actividades que lhe foram sendo subjacentes, a interferência do Homem no mecanismo climático-ambiental foi inevitável para a “evolução” da espécie humana. Alterações nos padrões climáticos sempre estiveram, e continuarão a estar dependentes de factores internos e externos ao planeta e à sua atmosfera.
É possível correlacionar desaparecimentos civilizacionais, com alterações do clima?
Actualmente sim, pois a espetacularidade da ciência faculta a possibilidade em conhecer o passado para perceber o presente e, esperançosamente, alvitrar o futuro! Há milhares de anos atrás, alterações térmicas ocorridas entre os hemisférios, provocaram uma diminuição nos padrões da precipitação e isso influiu directamente na agricultura, levando à ocorrência de movimentos migratórios.
Análises a espécies vegetais com os isótopos de carbono, demonstraram que o local onde actualmente existem lagos, em Lárnaca, foi outrora um porto, centro das rotas comerciais, mas foi secando gradualmente, durante um inóspito período de seca e frio de cerca de 300 anos, até se tornar um lago salgado. Por consequência, as plantações morreram, o que gerou fome, e invasões de povos vizinhos, levando ao colapso da civilização que habitava o Chipre há cerca de 3000 anos.
De igual modo, a intensiva e descontrolada desflorestação para construção de barcos e para moverem por extensas distâncias as gigantescas estátuas que caracterizam a ilha da Páscoa - Rapa Nui -, levou à progressiva morte dos solos, pois uma vez despido de árvores e da segurança das suas poderosas raízes, foram erodindo, e deixaram de ter utilidade para colmatar a fome, que foi crescendo e levou à aniquilação da espécie, inclusive por antropofagia.
O mesmo aconteceu, com a proeminente civilização Maia. Não evaporaram, mas será importante destacar que a planície do Yucatán é parca em rios à superfície (por ser uma imensa placa calcária, abundam os rios subterrâneos, mas as crenças Maias impediam o seu uso “por serem a entrada para o submundo, o inferno”), e para ultrapassar essa condicionante, hábeis arquitectos e matemáticos, os Maias construíram verdadeiras obras de engenharia, reservatórios que enchiam com a água das chuvas e proviam a civilização das suas necessidades.
Exaustivas investigações académicas demonstram que, a precipitação média anual diminuiu entre 40 a 54%, ao longo de várias décadas de seca, com períodos extremos de cerca de 70%, o que foi absolutamente devastador para monoculturas agrícolas como o milho. Adicionando a este dramático cenário, a crescente escassez de água potável, e cerca de 13 milhões de seres humanos cientes de um perigo de fome e sede eminentes, estavam conjugadas condições para o despoletar de conflitos, invasões, presumindo-se que os mais resistentes tenham dispersado, abandonando os centros populacionais.
Será que a história efectivamente se repete?
De acordo com estimativas (K 1,33%/ano) das Nações Unidas já em 2023, 8.2 biliões de seres humanos habitarão este planeta. A cruel pergunta que grita por resposta: Água potável para quantos?