Aprisionados nas redes de pesca: descubra como a tecnologia pode ajudar os golfinhos a escapar à morte
A Comissão Europeia está a financiar soluções com inteligência artificial ou sinalizadores acústicos testadas em França e Itália, que podem vir a ser implementadas nas águas comunitárias.
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Em todo o mundo, centenas de milhares de golfinhos morrem a cada ano em capturas involuntárias. Mas a espécie não é a única vítima deste flagelo. Estima-se que, a nível mundial, mais de 40% dos animais marinhos apanhados nas redes de pesca são acidentais, incluindo peixes juvenis, aves marinhas ou espécies protegidas como tartarugas e tubarões.
Estas perdas tem um impacto negativo enorme não só para a biodiversidade como também para a subsistência dos pescadores confrontados todos os anos com restrições na sua atividade para proteger a vida marinha.
Os ensaios que vão ajudar os pescadores europeus
As tecnologias podem ajudar os pescadores a evitar capturas acidentais e é precisamente esse o objetivo de três projetos financiados pela União Europeia. DolphinFree e Marine Beacon, testados em águas francesas, ou ensaios com postes acústicos de amarração, em Itália, são algumas das soluções que, se forem bem-sucedidas, podem vir a ser implementadas em águas comunitárias.
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O projeto DolphinFree, coordenado pela associação de pescas France Filière Pêche, está a ser implementado no Golfo da Biscaia, uma das zonas mais críticas no oceano Atlântico. Estendendo-se desde a ponta da Bretanha, no oeste de França, até ao norte de Espanha, a região é considerada uma das mais ricas em biodiversidade da Europa e onde vivem cerca de 200 mil golfinhos.
Esta população, porém, encontra-se ameaçada, com milhares de espécimes encontradas durante o inverno sem vida nas praias da região. Estima-se que a mortalidade total por ano esteja entre os 4500 a 8500 golfinhos presos em material de pesca.
O projeto DolphinFree, no entanto, lançou uma abordagem pioneira que pode vir a ser uma resposta para evitar as capturas acidentais. Os equipamentos de pesca estão a ser apetrechados com um sinalizador acústico que recorre à ecolocalização para comunicar com os golfinhos.
Os primeiros testes feitos em finais de 2024 tiveram resultados promissores. Os golfinhos reagiram ao sinal e afastaram-se da zona. É um primeiro passo, mas ainda antes de a tecnologia ser adotada, será preciso testar o modelo numa escala mais alargada com navios de pesca profissional.
Durante a fase de testes, os pescadores propuseram reduzir o tamanho do sinalizador para facilitar a sua integração nos materiais de pesca e advertiram ainda para os inconvenientes de manutenções frequentes que a tecnologia exige. Os ensaios vão continuar até finais de 2026 em mais de 200 embarcações francesas com o intuito de aperfeiçoar o aparelho.
Redes de arrasto controladas por algoritmos
Na comuna de Lorient, também na região francesa da Bretanha, é a inteligência artificial que está no centro do projeto Marine Beacon. A iniciativa, liderada pelo instituto IFREMER utiliza redes de arrasto com câmaras subaquáticas e algoritmos de aprendizagem automática para identificar e classificar as capturas em tempo real.
Em testes de laboratório, a rede de arrasto inteligente demonstrou a sua capacidade para identificar as espécies de peixes através de uma gravação de vídeo e mecanismos que controlam um alçapão concebido para deixar sair ou manter as espécies na rede.
A etapa seguinte passa por adaptar a tecnologia para grandes navios comerciais. Será preciso assegurar que o sistema seja simultaneamente robusto - para resistir às condições adversas do mar - e com dimensões reduzidas para os pescadores poderem utilizá-lo nas suas operações diárias.
Pilares acústicos afugentam grandes predadores
Postes de amarração acústicos é outra a solução que está a ser testada em Terracina na região do Lácio em Itália. Nestas águas do Mediterrâneo, as redes de emalhar são predominantes entre os pescadores artesanais.
Durante a pesca, é comum os golfinhos atacarem os peixes capturados nas redes, acabando frequentemente enredados e afogados durante o processo.
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Para resolver este problema, a Organização de Produtores La Sirena de Terracina recorreu ao financiamento da União Europeia para testar a utilização de “pilares acústicos”.
Os postes de amarração emitem rajadas esporádicas de som subaquático para assustar os golfinhos e outros grandes predadores, afastando-os das embarcações e impedindo interações com os humanos.
O que se espera é que este modelo também possa reduzir a captura acidental de outros animais marinhos, ajudando também os pescadores a manter a pesca sustentável.
Referências da notícia
Observatoire Pelagis CNRS. By-catch: a tragic reality
Marine Beacon. Monitoring and Elimination of Bycatch of Endangered & Conserved Species in the NE & High Seas Atlantic Region
Directorate-General for Maritime Affairs and Fisheries. A sound solution to prevent accidental dolphin catches in the Mediterranean.