Antártida: exploradores monitorizados para preparar humanos para Marte

Com o objetivo de preparar humanos para missões em Marte dois exploradores estão a ser monitorizados na Antártida sob condições extremas. Serão quase 4000 quilómetros durante cerca de 80 dias.

Justin Packshaw e Jamie Facer Childs
Justin Packshaw e Jamie Facer Childs atravessam a Antártida com dois trenós de 200 kg cada, numa missão que testa os limites. Fonte da imagem: Instagram @justinpackshaw

Dois exploradores estão a fazer uma viagem de 3650 quilómetros através da Antártida, e a NASA está a monitorizá-los para aprender como poderão sobreviver em Marte. São os britânicos Justin Packshaw e Jamie Facer Childs. A viagem já leva 54 dias, e espera-se que demore um total de 80 dias.

A rota da viagem atravessa a Antártida e faz parte da missão Chasing the Light. A missão é verdadeiramente cansativa e tem como objetivo uma melhor compreensão do impacto psicológico e físico de outros mundos no corpo e na mente humana.

Os exploradores estão a enfrentar temperaturas gélidas e ventos catabáticos de até 320 km/h enquanto percorrem o continente, primeiro ao completar o trecho de 2.159 quilómetros desde o porto de Novolazarevskaya até ao Pólo Sul geográfico. Depois viajarão 1.490 quilómetros passando pela enseada de Hércules, até ao acampamento do Union Glacier.

Sem qualquer assistência

Além de trabalharem com a NASA; os exploradores estão a colaborar com a Universidade de Stanford e com a Agência Espacial Europeia (ESA). A distância total é de 4.200 quilómetros. Durante todo esse tempo não receberão qualquer assistência, viajando a pé e utilizando kites (papagaios), confiando unicamente na sua força física e mental.

Jornada
A viagem cobre uma grande parte da Antártida, num total de quase 4000 quilómetros.

Como o Live Science detalha, tal como as condições extremas encontradas nos planetas do Sistema Solar, a Antártida tem um ambiente complexo que é útil para uma série de investigações humanas e biológicas, que vão desde o isolamento, a investigações microbianas, a imunologia e muito mais.

A missão de Justin e Jamie permitirá aos cientistas observar uma história científica pouco comum sobre a adaptabilidade humana, que em última instância contribuirá para a cartografia em curso dos modelos de dados genómicos, fisiológicos, psicológicos e ambientais da exploração espacial centrada no ser humano.

Vários testes de campo

A NASA, a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Universidade de Stanford estão a recolher dados de dispositivos inteligentes portáteis à medida que os exploradores caminham e esquiam para sul. Para além dos kites que aproveitam os ventos favoráveis para os arrastar, os homens estão a fazer a viagem sem qualquer assistência mecânica. Estão também a rebocar dois trenós de 200 quilos que não só transportam os seus alimentos e equipamento, mas também amostras de sangue, saliva, urina e fezes recolhidas durante a caminhada.

Antártida
A missão ajudará também a acrescentar parâmetros que a informação via satélite não fornece.

A NASA está também a testar a capacidade dos exploradores de estimar visualmente a distância, o que muitas vezes pode ser pouco fiável quando os seres humanos se encontram num ambiente extraterrestre. Um exemplo famoso é o da missão Apollo 14 de 1971. Enquanto caminhavam na Lua recolhendo amostras de rochas, os astronautas Alan Shepard e Edgar Mitchell foram visitar uma cratera distante, mas decidiram voltar para trás após estimarem que estava a mais de um quilómetro e meio de distância. Na realidade, os dois estavam apenas a 15,24 metros da borda da cratera.

Outra missão para os exploradores é a tarefa de obter dados ambientais chave, tais como os níveis de gelo, a radiação e a velocidade do vento. Dado que os satélites não orbitam diretamente sobre o Pólo Sul, as medições que fizerem irão preencher uma "lacuna de dados dos satélites" e poderão fornecer importantes conhecimentos sobre as alterações climáticas. A viagem seria, originalmente, mais longa, com uma etapa adicional que os levaria ao "Pólo de Inacessibilidade" da Antártida, a parte mais difícil de alcançar do continente. No entanto, a rota teve de ser encurtada após o vento e a neve terem impedido os exploradores de viajar em dias-chave.