Amazónia: porque ardem os 'pulmões' do planeta e a fumaça em São Paulo
Muito temos ouvido falar dos incêndios florestais que devastam tragicamente a Amazónia, inclusive já vimos imagens assustadoras dum cenário ‘negro’ em pleno dia na cidade de São Paulo. Quais as verdadeiras razões por trás destes fenómenos?
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Todos os anos realizam-se queimadas na Amazónia, e além disso, agosto e setembro são os meses mais secos e quentes na metade norte do Brasil. Os números que têm vindo a ser relatados pelos media, para já, não vão mais para além dos que que ocorrem anualmente. Por exemplo, em 2018 registaram-se 132872 fogos e nem foi dos anos mais trágicos a este nível. Agosto 2018 integrou um das estações secas mais chuvosas que já houve registo.
Anos como 2015 devido ao impactante fenómeno do El Niño Godzilla, ou 2017 em que o mês de agosto foi muito seco e quente ou 2010 em que foram registados número bem superiores. O que preocupa é o ritmo e velocidade de ocorrências que estes incêndios adquiriram... Porém, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) menciona dados abaixo dos noticiados.
Por fatores combinados de cariz humano (devido a queimadas descontroladas e possivelmente fogo posto) mas também por fatores climáticos os anos de 2010, 2015 e 2017 foram bem mais evidentes no número de fogos florestais registados na Amazónia. As imagens oficiais abaixo mostram isso mesmo. Em 2019 foram registados 75336.
Dados Fogos Monitoramento Brasil pic.twitter.com/B8uv6RKval
— Alfredo Graça (@AwesomeFred1995) August 22, 2019
O caso de São Paulo cientificamente explicado
Na região metropolitana de São Paulo, na última segunda-feira o dia virou noite num ápice. O dia começou com o céu encoberto, mas repentinamente adquiriu tons alaranjados, criando uma paisagem misteriosa e inquietante. Às 15h já era noite! O que causou este tempo foi a chegada de uma frente fria. Mas porquê o cenário apocalíptico? A resposta é simples. Desta vez gerou-se uma combinação incrível da entrada da frente fria com poluentes provenientes das queimadas realizadas no Norte e Centro-Oeste do Brasil.
A nuvem de fumo que afetou São Paulo derivou de incêndios florestais de grandes proporções que têm ocorrido no Brasil, Bolívia e Paraguai, emitindo grandes quantidades de material dito ‘particulado’ para a atmosfera, que é transportado pelo vento. Material particulado é a designação atribuída a um conjunto de poluentes constituído por poeira, fumo e materiais em suspensão na atmosfera. Os materiais particulados em suspensão interagem com a radiação solar surgindo dessa forma os tons alaranjados e avermelhados no céu. Mas porquê a escuridão?
Nuvem de fumo no Brasil. Este dramático vídeo filmado na última segunda-feira em São Paulo é uma das consequências dos graves incêndios que a #Amazónia está a sofrer pic.twitter.com/i3Z9Z70P4m
— Tempo.pt (@Tempo_Portugal) August 22, 2019
A frente fria forma condições favoráveis ao desenvolvimento de nuvens convectivas devido ao choque de massas de ar. No dia 19 as nuvens convectivas ganharam proporções e aspectos distintos dos que observamos na passagem de outras frentes ao longo do inverno no Brasil. Ocorreu também um choque entre o ar húmido do Oceano Atlântico, empurrado pelos ventos de sudeste, com os ventos de noroeste responsáveis por trazer a poluição das queimadas, resultando na instabilidade atmosférica e formação de Cumulunimbus.
As Cumulunimbus são nuvens profundas com dezenas de quilómetros de altura, e naturalmente já bloqueiam parte da luz solar, dando-lhes aparência escura quando são avistadas. Na segunda-feira estas nuvens carregavam a poluição vinda dos incêndios, inclusive um importante poluente oriundo da queima de florestas, o black carbon. Quando existe elevada concentração desta partícula na nuvem, poderá contribuir para a coloração mais escura.
O que causou os incêndios na Amazónia?
A fonte dos incêndios na Amazónia está sob especulação e debate. Alguns pensam que estes fogos podem ter sido despoletados pelos agricultores a limparem as terras para o gado. Esta prática agrícola foi anteriormente referida como sendo 80% da desflorestação observada na floresta tropical amazónica. Ainda assim, alguns fogos podem ter ocorrido naturalmente! As verdadeiras causas de incêndios são difíceis de descobrir. Especula-se que os fogos podem ter sido provocados intencionalmente, contudo este número está até dentro da média, como se vê na imagem abaixo.
Comparativo dos dados do ano corrente com os valores máximos, médios e mínimos, no período 1998-2019 no Brasil. Comparativo sazonal. Valores dentro da média aparentemente. pic.twitter.com/m4yFGhRFNg
— Alfredo Graça (@AwesomeFred1995) August 22, 2019
A Amazónia detém a maior floresta tropical do mundo e por isso é um importante reservatório do dióxido de carbono que ajuda a amenizar a adaptação às alterações climáticas e é fulcral para as trocas gasosas uma vez que fornece oxigénio, componente essencial para o ser humano.