Alterações climáticas e os incêndios florestais
Os incêndios florestais são um flagelo que têm afetado cada vez mais regiões do globo, não só em número de ocorrências como também em extensão de área ardida.
Na Europa, centenas de pessoas perderam a vida em incêndios em países como Portugal, Grécia, Itália e Espanha, sendo Portugal o país europeu mais fustigado pelos incêndios. No resto do mundo as consequências dos incêndios também têm sido trágicas.
Os mais recentes grandes incêndios
No ano passado, incêndios florestais de proporções excecionais assolaram a Austrália. Este ano, houve relatos de incêndios extensos na Amazónia, na Califórnia, e no início deste ano durante o período de calor, também no Reino Unido e noutros países europeus. De assinalar este ano a região do Ártico que experimentou uma extraordinária época de incêndios, com o degelo a expor grandes áreas de turfeiras ricas em carbono, atuando como combustível adicional e uma nova e enorme fonte de emissões de gases com efeito de estufa.
Em Maio deste ano, o número de incêndios registados na América do Sul já era maior do que em qualquer outro ano anterior, desde que a monitorização sistemática começou em 1998. E desde o início da década de 1970, a extensão anual dos fogos florestais na Califórnia quintuplicou.
O clima e os incêndios florestais
Os incêndios são mais severos durante longos períodos de tempo quente e seco, porque temperaturas mais elevadas provocam mais evaporação o que origina que a vegetação seja mais seca, criando combustível para os incêndios.
No ano passado, a Austrália esteve sob a ação de massas de ar muito quente e seco, causadas por um padrão de temperaturas no Oceano Índico, conhecido como o Dipolo do Oceano Índico. O Dipolo do Oceano Índico é uma flutuação natural do clima que afeta os padrões climáticos em todo o mundo, incluindo a Austrália. Atendendo que a temperatura média global subiu para mais de 1,0 °C mais quente do que no mundo pré-industrial, não é surpreendente que estejamos a assistir a mais incêndios florestais em todo o mundo.
Mas o mais importante é que temperaturas mais elevadas, por si só, não conduzirão necessariamente a mais incêndios. O combustível tem de estar disponível e tem de haver uma fonte de ignição, quer por influência humana, quer por fenómenos naturais, como por exemplo raios. Uma investigação mais recente, efetuada por um grupo internacional de cientistas, incluindo alguns do Serviço Meteorológico Inglês (Met Office), concluiu que existem provas consistentes de que as condições climáticas quentes e secas que favorecem a ocorrência de incêndios florestais estão a tornar-se mais severas e generalizadas devido às alterações climáticas.
De assinalar que os incêndios florestais também emitem dióxido de carbono adicional para a atmosfera. Assim, à medida que o globo aquece, esperamos mais incêndios florestais, que por seu turno irão aquecer ainda mais a atmosfera. A recente investigação pioneira no Met Office combinou os resultados da vegetação e modelos climáticos, abrindo o caminho para que as projeções climáticas futuras incluam os incêndios florestais.
Se quisermos cumprir o Acordo Climático de Paris para manter o aquecimento global abaixo dos 2,0 °C acima dos níveis pré-industriais, então devemos limitar os nossos níveis de dióxido de carbono atmosférico. A libertação adicional de dióxido de carbono dos incêndios florestais reduz ainda mais o volume de combustíveis fósseis que podem ser queimados, mantendo o aquecimento global em linha com o Acordo de Paris.