Alguns medicamentos podem tornar as pessoas mais vulneráveis ao calor
A relação entre o uso de medicamentos e as cada vez mais intensas vagas de calor pode ter consequências indesejadas para os seres humanos. Fique a saber mais sobre este assunto, connosco!
Um estudo publicado no passado mês de abril pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças do Estados Unidos da América (EUA) indicou que a afluência aos cuidados de saúde primários foi substancialmente superior no verão de 2023 em relação a todos os verões, dos anos anteriores. Isto pode indiciar que as vagas de calor cada vez mais intensas, com temperaturas cada vez mais extremas, podem estar a afetar um maior número de pessoas.
O mesmo estudo indica que os doentes utilizadores de antipsicóticos se tornam particularmente vulneráveis a certas doenças relacionadas com o calor e a efeitos secundários adversos destes medicamentos, quando se registam mais do que 5 dias consecutivos com temperaturas máximas 5 ºC acima da temperatura normal para a época.
Os pacientes com doenças crónicas, como esquizofrenia, diabetes, doenças cardiovasculares ou mesmo respiratórias são, por si só, mais vulneráveis às ondas de calor, mas sabe-se agora que os medicamentos que precisam podem torná-los ainda mais vulneráveis, agravando os riscos de morte.
Os medicamentos que são mais comummente prescritos para estas patologias interferem na capacidade que o corpo tem de se proteger do calor. Os diuréticos, os betabloqueadores ou os estimulantes interferem na capacidade do corpo humano irradiar calor, fazendo com que a temperatura corporal suba, por vezes a níveis que exigem hospitalização.
Consequências diretas
Em Portugal e na União Europeia, as visitas aos centros de saúde e às urgências dos hospitais devido à hipertermia induzida por medicamentos ainda representam uma percentagem residual do total de utentes, situação que pode mudar nos próximos anos. O nosso corpo está programado para manter uma temperatura constante, que varia entre os 36 ºC e os 37 ºC, sendo que uma temperatura acima dos 40 ºC pode, em certos casos, ser fatal.
Na manutenção deste equilíbrio, o hipotálamo é uma estrutura cerebral fundamental que controla a produção de suor e a necessidade de urinar. Contudo, é a função do hipotálamo que é afetada pelos medicamentos anticolinérgicos, antipsicóticos e neurolépticos. Estes “mascaram” a sensação de calor, para além de poderem causar visão turva, febre e uma alteração do estado mental.
Uma das formas de minimizar estes problemas é combinar os medicamentos que aumentos o risco de hipertermia com outros que podem controlar alguns dos efeitos secundários. Para além disso, ainda estão a ser desenvolvidos mais estudos que permitam confirmar a correlação acima descrita, em populações maiores e em grupos mais diversificados de indivíduos, esperando-se que os resultados estejam disponíveis nos próximos anos.