Algumas cidades portuguesas podem ficar submersas até 2100, indica novo estudo

Os impactes das alterações climáticas, nos próximos 75 anos, poderão colocar em caos milhares de aglomerados populacionais, com as suas habitações, comércio e serviços. Fique a saber mais sobre este assunto, connosco!

Aveiro.
Também conhecida como a "Veneza portuguesa", Aveiro será uma das cidades mais afetadas pela subida do nível das águas do mar, até ao final do século.

Um estudo recentemente divulgado, desenvolvido pela Organização Não-Governamental (ONG) Climate Central indica que milhares de quilómetros quadrados de linha de costa vão ficar submersos, se não se verificarem alterações nos padrões de emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE). Até ao ano de 2100, cerca de 50 grandes cidades de todo o mundo poderão ser afetadas por esta situação.

No caso de Peniche, (...) até no cenário menos pessimista, aquela cidade voltará a ser uma ilha.

A NASA indicou que, na última década, os níveis da água dos oceanos subiram cerca de 9 cm, o que dá uma média de 0,3 cm/ano. À medida que a temperatura média do planeta está a subir, a concentração cada vez mais significativa de população nas regiões litorais, relativamente próximas da linha de costa, poderá tornar-se um perigo a curto e médio prazo.

Impactes da subida do nível do mar, a nível mundial

O relatório da Climate Central é claro a afirmar que perto de 10% da população mundial vai ser afetada por este fenómeno, qualquer coisa como mais de 800 milhões de pessoas, que devido à poluição atmosférica, ao derretimento dos glaciares, tanto no Hemisfério Norte como no Hemisfério Sul, vão ficar vulneráveis e terão de procurar nova morada e reorganizar todo o seu estilo de vida.

As nações insulares do Pacífico, nomeadamente as que pertencem à Oceânia e ao continente asiático podem mesmo desaparecer. Este último será o mais afetado, pois países densamente povoados como China, Índia, Indonésia e Vietname vão ficar com grandes porções do seu território abaixo do nível do mar.

São Martinho do Porto.
A baía de São Martinho vai estender-se até Alfeizerão e quase até Tornada, a Sul, sendo que as áreas planas que se veem na imagem ficarão submersas.

Quais as regiões que em Portugal serão as mais afetadas?

Tal como no resto do mundo, os impactes no nosso país serão significativos. As áreas lagunares, como o Haff-delta de Aveiro (Ria de Aveiro) ou o Lido de Faro (Ria Formosa) serão dos locais mais afetados, com cidades como Aveiro, Faro e Olhão a perderem parte da sua mancha urbana.

O Haff-delta de Aveiro é uma laguna interior, onde a existência de um cordão de areia (haff), formado pela deposição de sedimentos marinhos e fluviais, dificulta o contacto com o mar. O interior da laguna está preenchido com sedimentos fluviais dos rios que aí desaguam, com destaque para o rio Vouga. A acumulação desses sedimentos deu origem a um conjunto de pequenas ilhas, separadas por canais poucos profundos que constituem um delta interior.

Para além destas áreas, outros acidentes do litoral serão severamente afetados, como é o caso do tômbolo de Peniche e da baía de São Martinho do Porto. No mapa de risco desenvolvido pelos autores do estudo, são analisados cenários extremos de aquecimento global entre 1 ºC e 4 ºC acima da temperatura atual. No caso de Peniche, a situação é mesmo preocupante, já que até no cenário menos pessimista, aquela cidade voltará a ser uma ilha.

Estuário do Tejo.
Os impactes nos concelho do arco ribeirinho do Tejo serão implacáveis.

No pior dos cenários, uma subida de 4 ºC, o oceano pode chegar quase à Atouguia da Baleia, que dista cerca de 6 km de Peniche. Já no caso da baía de São Martinho do Porto, que se formou a partir de um antigo golfo, poderá voltar a uma paisagem conhecida, mas nunca vista. A água do mar poderá voltar a banhar Alfeizerão, mais que triplicando a atual área da baía.

As maiores cidades, Lisboa e Porto, também vão sofrer com a subida do nível dos oceanos, contudo é na bacia do Tejo que as consequências serão mais sentidas, nomeadamente nas cidades de Benavente, Carregado, Almeirim e Santarém. Na margem sul, a Costa da Caparica como a conhecemos hoje, desaparecerá, mesmo na melhor das perspetivas.

Reveste-se assim, de extrema importância, um pensamento crítico em relação ao futuro e à forma como se pode mitigar os efeitos de cenários que implicam destruição a esta escala.

Referências da notícia:

Climate Central. “Picturing our future”. 2024.