Alerta vermelho em Londres: seca oficial pode ser declarada em dias

Com a subida da temperatura, milhões de britânicos preparam-se para uma nova onda de calor de 10 dias e as autoridades avançam para declarar uma seca oficial. Os efeito da seca em Londres são dos mais notórios em décadas.

Londres
Londres durante a onda de calor de julho de 2022.

A Europa tem vindo a ser fortemente afetada por ondas de calor históricas, onde preponderam temperaturas máximas recorde, graves incêndios e a expansão geográfica das áreas afetadas pela seca. O relatório Drought in Europe - July 2022”, elaborado pelo Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia, aponta que a seca severa que se vive em território europeu se deve à combinação da ausência de chuva com a sucessão de ondas de calor muito intensas.

Com a subida dos termómetros nesta semana, espera-se que a onda de calor no Reino Unido venha a condicionar o uso da água para milhões de habitantes e a seca oficial pode ser declarada em dias, com consequências sobre territórios de maior ocupação humana como Londres.

Principais consequências da seca em Londres

A cabeceira do rio Tamisa, no Reino Unido, está seca e deslocou-se para jusante a 8 quilómetros. O caudal do rio inicia normalmente em Cirencester e desagua no Mar do Norte, depois de atravessar a cidade de Londres. No entanto, após a onda de calor que atingiu o Reino Unido levou a que a cabeceira do Tamisa se deslocasse para Somerford Keynes.

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Também os relvados que cruzam os Kew Gardens, no Reino Unido, e que abrigam a maior coleção de plantas vivas (mais de 30 mil) e herbário do mundo (sete milhões de espécies), têm estado com uma cor ligeiramente diferente nos últimos dias.

Num dos verões mais quentes e secos, os relvados ficaram amarelos e aqueles que cuidam deste jardim botânico no sudoeste de Londres estão a escolher os melhores períodos do dia para regarem todas as espécies de plantas e árvores que atraem mais de um milhão de visitantes por ano. No parque de Hampstead Heath, situado a norte da cidade de Londres, os funcionários decidiram cercar várias árvores para evitar o risco de incêndio.

A seca severa em Londres, como na maioria do território do Reino Unido, levou a que as espécies vegetais, as infraestruturas e os residentes tenham sido desafiados ao limite. As folhas verdes das árvores estão a cair durante pleno verão, as altas temperaturas estão a provocar incêndios perto de Londres e verifica-se também uma redução significativa da produção dos gasodutos.

Novos desafios pouco comuns

Para uma cidade em que o tempo nublado e chuvoso é tão emblemático quanto o Big Ben, está a ser muito inquietante para o governo e populações locais a redução considerável das reservas de água. Tal coloca em ênfase a problemática das mudanças climáticas no Reino Unido, depois de durante o mês de julho se ter ultrapassado pela primeira vez os 40ºC.

A restrição ao uso da água tem vindo a ser prática comum fora da capital, mas espera-se que tal conduta seja ainda pouco provável em Londres. Segundo especialistas, é evidente que Londres se encontra em seca, mas seria necessário que os níveis dos reservatórios ficassem muito baixos para que se considerasse estar numa situação de rutura em termos de recursos hídricos.

Tal não se sucede, pelo menos por enquanto! Os reservatórios de Londres estavam em 91% do total em finais de junho de 2022 (ou seja, antes da onda de calor) e, embora atualmente estejam bem abaixo da média para a época do ano, ainda não existe qualquer indício que obrigue a tomar certas medidas proibitivas para o consumo e utilização de água.

Uma seca oficial pode ser declarada ainda durante esta semana, com o estabelecimento dos planos de monitorização do governo afetos às empresas de água para preservar os seus stocks, quando se espera que as temperaturas ascendam aos 35ºC até ao final da semana.

As secas serão mais frequentes no futuro

Não há forma de não problematizar os níveis de seca. O Reino Unido registou o julho mais seco em 87 anos. Além disso, podem ter-se registado 844 mortes adicionais na Inglaterra e no País de Gales durante a onda de calor do mês de julho.

Esta questão é particularmente relevante quando os modelos e projeções climáticas indicam que um clima tão extremo quanto aquele que se tem vivenciado neste último mês se pode tornar a norma nos próximos 50 anos. Tal significa que os Kew Gardens podem transformar-se em áreas douradas, caraterística dos espaços ajardinados mais secos. A prioridade nesta situação será a de proteger as plantas vivas com elevado valor de conservação ou de importância histórica.

Em todo o mundo é fundamental adaptar as estratégias de gestão da paisagem às novas condições ambientais, que serão cada vez mais comuns.