Agosto com quase tanta área ardida como em todo o resto do ano em Portugal, ainda assim com boas notícias

Nos primeiros quinze dias de agosto, os incêndios revelaram terem queimado quase tanta área quanto aquela que haviam queimado durante todo o ano. Ainda assim o número de incêndios e de área ardida continua o mais baixo dos últimos 10 anos.

Portugal continua a registar ao fim dos primeiros quinze dias de agosto o menor número de incêndios e a menor área ardida dos últimos 10 anos.

Portugal continental registou desde o início do ano e até meados de agosto, um total de 3.485 incêndios rurais e viu arder 7.949 hectares, segundo o mais recente relatório publicado pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Esta área ardida distribui-se entre povoamentos florestais (2.723 ha), matos (3.788 ha) e áreas agrícolas (4.138 ha). Estes resultados representam uma diminuição de 58% no número de incêndios em relação à média dos últimos 10 anos, ou seja, o valor mais reduzido desde 2014 e uma redução de 87% na área ardida, o que o coloca também, em comparação, no ano mais baixo em área queimada.

A maioria dos incêndios ocorreu no mês de julho, com um total de 1.031 ocorrências de incêndio, o que representa 30% do número total registado no ano. Mas foi em agosto que se deu a maior área ardida, com um total de 3.484 hectares calcinados pelo fogo, o que corresponde a 44% do total de área ardida. Ardeu quase tanto nos primeiros dias de agosto como em todo o resto do ano.

Para estas cifras muito contribuem os grandes incêndios ocorridos até dia 15, ou seja, aqueles que atingiram áreas superiores a 100 hectares. São 8 os que se enquadram nesta categoria e juntos são responsáveis por 45% do total da área queimada, 3.557 hectares. Um incêndio ultrapassou mesmo os 1.000 hectares.

Os maiores incêndios deram-se nos concelhos de Vimioso (2.182 ha), Bragança (471 ha), Reguengos de Monsaraz (202 ha), Aljustrel (167 ha) e Elvas (156 ha). Os dois primeiros deram-se nos primeiros 15 dias deste mês.
As regiões a do norte do rio Tejo continuam a ser as mais afetadas, onde o uso do fogo é mais comum, a densidade populacional é maior e existem mais aglomerados urbanos de maior dimensão.

As regiões mais afetadas

O maior número de incêndios continua a dar-se nos distritos do Porto (594), Viana do Castelo (328) e Braga (288). Também as Comunidades Intermunicipais (CIM) com maior número de ignições continuam a ser a Área Metropolitana do Porto (376), Tâmega e Sousa (375) e Alto Minho (328).

Os distritos que conheceram maiores áreas ardidas foram Bragança com 2 764 hectares, cerca de 35% da área total ardida, seguido de Viana do Castelo com 846 hectares (11% do total) e de Beja com 779 hectares (10% do total). Já as CIM mais afetadas foram Terras de Trás-os-Montes com 2 712 hectares, cerca de 34% da área total ardida, seguido da região do Alto Minho com 846 hectares (11% do total) e do Baixo Alentejo com 703 hectares (9% do total).

Os concelhos que apresentam maior número de incêndios localizam-se todos a norte do Tejo, à exceção dos concelhos de Almada e Elvas, e caracterizam-se, maioritariamente, por terem uma elevada densidade populacional, a presença de grandes aglomerados urbanos ou a utilização tradicional do fogo na gestão agroflorestal. Na área ardida, ainda que não seja tão clara a expressão dos concelhos nortenhos, estes estão em evidente maioria (14 dos 20 mais afetados).

O uso do fogo continua a ser a principal causa dos incêndios em Portugal, 40% do total. O incendiarismo representa 27%, 17% são resultado de acidentes, 4% por reacendimentos e 10% por outras causas apuradas. Apenas 2% são consequências de causas naturais (quedas de raios), uma subida em relação ao mês anterior e que se deve aos recentes episódios de instabilidade atmosférica vividos na Península Ibérica e no nosso país em particular.

O uso negligente do fogo continua a ser a principal causa dos incêndios rurais em território nacional.

O relatório evidencia que a grande maioria dos incêndios ocorreu em períodos de severidade meteorológica baixa (48% na classe mais baixa) e que apenas 51 se deram em períodos de temperaturas mais elevadas, vento forte, ausência de precipitação e humidade relativa baixa.

O que significam estes resultados? Podemos esperar mais?

Estes resultados continuam a ser excelentes, dando estofo àquilo que se vinha conseguindo ao longo do ano. Mesmo apesar do aumento do número de ignições nos últimos 15 dias (722), todo o sistema revelou resiliência enorme a este fenómeno.

Ultrapassada a canícula (período mais quente e seco do ano) e a dias do início do outono climatológico, o número de incêndios e a área ardida deve ser motivo de orgulho com cautela. Apesar de neste mês se terem dado vários incêndios em períodos de extrema severidade meteorológica (17), poucos foram os que ultrapassaram os 100 hectares.

Para que se tenha noção da dimensão dos resultados obtidos neste mês de agosto, a média anual no decénio (27.763 ha) é largamente superior aquela registada este ano que se ficou, como vimos, pelos 3.484 hectares.

Ainda assim, os próximos dias serão ainda de muito calor, com os termómetros a revelarem temperaturas superiores a 30 ºC por quase todo o território continental, em especial no interior Norte e Centro, regiões historicamente vulneráveis. Aliado, as humidades baixas e o vento moderado poderão até ao final do mês propiciar a propagação de incêndios.

Por isso, é natural que, existindo ocorrências de incêndio rural, principalmente nestas geografias, e em dias de maior severidade meteorológica, que estas possam vir a adotar um comportamento extremo. É então de esperar que a última quinzena de agosto seja complexa e desafiadora.