Adeus, Praia! Olá, Fjords? O turismo está a adaptar-se ao novo clima com fenómeno conhecido por “coolcation”

Os termómetros sobem e as malas também. O calor extremo que assola a Europa está a transformar radicalmente os hábitos dos turistas, impulsionando uma verdadeira revolução no setor. "Coolcations" é um novo fenómeno com origem nas alterações climáticas.

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Calor extremo que se faz sentir no sul da Europa tem consequências na intenção de regressar aos destinos. Fenómeno conhecido por "coolcation" está a intensificar-se.

O calor extremo que se abate sobre a Europa nos últimos dias poderá afetar significativamente a forma como os turistas percecionam os destinos. Do mesmo modo, o facto destas situações ficarem cada vez mais recorrentes estão a contribuir para uma verdadeira revolução no setor turístico do continente europeu. Destinos tradicionalmente quentes, como os dos países mediterrâneos, estão a ver a sua procura diminuir, enquanto destinos mais frescos no norte da Europa ganham cada vez mais popularidade.

Um verão de extremos no continente europeu

As temperaturas recordes registadas em diversas regiões europeias levaram já ao encerramento de monumentos históricos durante determinados períodos do dia, mas também à intensificação de incêndios florestais e a um aumento significativo de casos de golpes de calor. Estas situações estão a levar muitos turistas a procurarem refúgio em climas mais amenos, desenhando um novo mapa turístico para o continente.

Desta transformação do setor, países como o Reino Unido ou a Irlanda estão a registar um aumento significativo no número de turistas, atraídos pelas temperaturas mais frescas durante os meses de verão.

A título de exemplo, um estudo realizado pela agência de viagens eDreams avaliou o interesse dos turistas em viajar para o Reino Unido, tendo verificado um acréscimo de 75%.

Dados do Eurostat acrescentam que as dormidas de turistas na Dinamarca aumentaram 15,9% durante os primeiros quatro meses do ano em comparação com os valores pré-pandemia. Também na Noruega e na Suécia cresceram em 22% e 11%, respetivamente, em comparação com o ano anterior, enquanto o número de turistas para a Islândia aumentou 400% entre 2010 e 2023. Em 2023, a Islândia recebeu precisamente mais de 2,2 milhões de turistas, quase seis vezes a população do país.

"O sul da Europa foi durante muito tempo um íman para os turistas europeus” que agora “procuram refúgio em climas mais frescos do norte do continente”, advoga Sergi Simón, coordenador de programas de gestão de riscos e sustentabilidade da Escola de Negócios EALDE.

Este fenómeno, conhecido como "coolcations", está a transformar o setor turístico, com cada vez mais pessoas a procurarem destinos onde possam escapar do calor intenso.

Impactes no turismo em Portugal, Espanha e noutros destinos europeus

Em Portugal, embora as regiões do Norte e Centro sejam naturalmente mais frescas, o impacte do calor extremo tem sido sentido em todo o país, designadamente nos últimos dias.

De qualquer modo, as áreas costeiras do Algarve e do Alentejo, por exemplo, que tradicionalmente atraem um grande número de turistas, começam a vislumbrar a possibilidade de redução de turistas já nos próximos anos.

Em Espanha, verifica-se uma situação idêntica, registando-se aliás um aumento das reservadas durante as semanas mais quentes do ano em Bilbao (com aumento de 120% face ao anterior), na Corunha (79%) e Oviedo (65%).

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Diante deste novo cenário, os destinos turísticos do sul da Europa estão a ser obrigados a adaptar-se e a inovar. Algumas das estratégias que estão a ser implementadas incluem a promoção de atividades culturais, museus e eventos noturnos como forma de atrair turistas mesmo durante os períodos mais quentes do ano, a instalação de sistemas de refrigeração em espaços públicos, a criação de áreas de sombra; a melhoria dos sistemas de ar condicionado nos transportes públicos e a dotação de pacotes de viagem adaptados às necessidades, onde se incluem atividades ao ar livre em áreas mais frescas. Outra forma de valorizar os destinos turísticos, designadamente em áreas urbanas, passa pela dotação de refúgios climáticos.

Em 2023, um conjunto de investigadores da Península Ibérica referiram, num artigo para o The Conversation, a importância destes “oásis urbanos”, onde se incluem bibliotecas, centros cívicos, equipamentos culturais, para passar os períodos com temperaturas mais elevadas. Neste contexto, um dos exemplos é Barcelona onde foram já catalogados mais de 220 refúgios disponíveis no verão de 2024.

O verão de 2024 pode muito bem começar a marcar um ponto de inflexão para o turismo europeu. As ondas de calor extremo estão já a redefinir os destinos turísticos, com os turistas a procurarem cada vez mais climas mais frescos e destinos mais sustentáveis. As empresas do setor turístico terão de se adaptar rapidamente a esta nova realidade, investindo em inovação e em produtos turísticos mais sustentáveis.

Referência da notícia:

Mínguez-García, C., Lopes, H.S, Martín-Vide, J., Olcina Cantos, J., Blázquez-Salom, M, & Villar Navascués, R. Por qué las ciudades necesitan refugios climáticos pensados para los turistas. The Conversation (2023).