Acidente do "Prestige": 19 anos do maior desastre ecológico da Europa
Um dos maiores desastres ecológicos de que há memória na História Contemporânea Europeia ocorreu a 13 de novembro de 2002, quando o navio petroleiro Prestige sofreu um rombo no casco, junto à costa da Galiza. As consequências ambientais da "maré negra" libertada foram trágicas para o litoral de Portugal, Espanha e França.
Hoje assinala-se o 19º aniversário do Acidente do “Prestige”, uma catástrofe ecológica sem precedentes que teve repercussões à escala europeia e global. O calendário assinalava o dia 13 de novembro de 2002 quando se sucedeu um dos maiores desastres ambientais da História Contemporânea Europeia.
Nesse trágico dia, o navio petroleiro “Prestige”, que estava a caminho de Gibraltar, desde Ventspils na Letónia, foi ‘vítima’ de uma tempestade ao largo do Cabo Finisterra (Galiza – Espanha), sofrendo danos irreversíveis, entre os quais um enorme rombo de 35 metros no seu casco. Ao que tudo indica, os tanques de lastro do navio – que mantêm a estabilidade, balanço e integridade estrutural do navio -, sofriam, aparentemente, de corrosão e havia vários danos estruturais no casco.
As consequências da rutura no monocasco liberiano com bandeira das Bahamas não se fizeram esperar e, uma parte significativa das 77 mil toneladas de fuelóleo que transportava, começou a ser libertada para o oceano.
Seis dias volvidos, o petroleiro quebrou-se em dois, afundando a 270 quilómetros da costa da Galiza, Espanha, onde na atualidade ainda jaz, passado quase duas décadas do incidente. Permanece a 4000 metros de profundidade. A Galiza foi a região que mais sofreu com a espessa maré negra, sendo que 115 mil aves morreram e 25 reservas protegidas foram afetadas.
Pensa-se que a catástrofe do “Prestige” foi a consequência de uma reparação deficiente do navio realizada na China em 2001. De acordo com o especialista Charles Cushing, engenheiro naval e autor de um relatório oficial sobre o acidente que causou esta maré negra, em 2001, o "Prestige" foi submetido a uma reparação "deficiente" num estaleiro chinês, indicando que o navio "saiu em condições piores do que quando chegou".
Assim que os primeiros resíduos transportados pelo petroleiro alcançaram a costa espanhola, a Força Aérea Portuguesa (FAP) deu início à realização de dois voos diários para verificar os danos ecológicos e o risco da “maré negra” chegar a Portugal.
Uma catástrofe ambiental sem precedentes que teve repercussões sociais e eco à escala mundial
A 1 de dezembro, cerca de duas semanas após o acidente, duas manchas de fuelóleo foram detetadas a 36 quilómetros da Zona Económica Exclusiva (ZEE) de Portugal. Mais de 2.600 quilómetros da costa espanhola foram afetados nos meses seguintes pelas mais de 30 mil toneladas de fuelóleo entretanto derramadas pelo "Prestige". Também uma parte do litoral francês se viu afetada pela contaminação.
A imensa maré negra afetou uma ampla área, estendendo-se entre o norte de Portugal e o oeste-noroeste de França, com especial incidência na Galiza (Espanha).
De acordo com um relatório da organização ambientalista internacional World Wild Fund (WWF), foram quantificadas pelo menos 64 mil toneladas de fuelóleo libertado para o mar, das quais entre cinco a dez mil continuavam a vaguear.
À escala mundial, este enorme desastre ecológico causou emoção, originando uma mobilização sem precedentes. Mais de 300.000 voluntários, procedentes de todas as partes do continente europeu, ajudaram nas operações de limpeza das praias e das rochas, completamente envoltas pela maré negra da Galiza.
A gestão política desta catástrofe ambiental por parte do Governo de José María Aznar provocou uma onda de protestos na Galiza e por toda a Espanha, em cidades como Madrid e Santiago de Compostela, onde cerca de 200.000 pessoas se manifestaram com o lema "Nunca mais".
Fauna marinha completamente dizimada
Nos três meses que se seguiram após o derrame de petróleo no oceano, foram recolhidas em Portugal 439 aves marinhas tragicamente embebidas pela maré negra. 186 destas ainda estavam vivas e foram enviadas para tratamento.
Os setores da pesca e da aquacultura também foram imensamente prejudicados pelo desastre ecológico. Tanto em Espanha como em Portugal, os consumidores ficaram receosos de comer peixe poluído.