Abundância hídrica: o estado das barragens portuguesas em março de 2024
Com o aumento das disponibilidades hídricas em Portugal, as recentes tempestades trouxeram alívio para grande parte do país, refletindo-se em índices positivos de armazenamento nas barragens.
No final do mês de março, vive-se um momento de algum desafogo em território nacional, devido à abundância hídrica na maioria das regiões hidrográficas. Recentemente, o país foi afetado pelas tempestades Monica e Nelson, decorrendo daí o aumento significativo das disponibilidades hídricas.
As estatísticas recentes revelam um quadro tendencialmente positivo. Ora vejamos: das 81 barragens monitorizadas em território nacional, 68% apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total. Este aumento significativo no armazenamento de água é um motivo de alguma tranquilidade para os políticos e cidadãos portugueses.
Como foi o comportamento das albufeiras portuguesas durante o mês de março?
A análise por bacia hidrográfica também confirma esta tendência positiva. Em comparação com as médias de armazenamento dos últimos vinte anos, as barragens exibem, na última semana, segundo o Boletim Semanal de Albufeiras, da Agência Portuguesa do Ambiente (APA)/ SNIRH (Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos), índices superiores em várias regiões do país, destacando-se, pois, as bacias do Tejo (93,1%), Douro (92,6%), Alentejo (92,0%), Vouga (90,9%) e Cávado (90,8%) com um volume total armazenado superior a 90%.
Contudo, alguns pontos merecem atenção especial, como as bacias do Mira (36,6%), Arade (34,6%), Ribeiras do Barlavento (16,2%) e Ribeiras do Sotavento (40,8%), que registam volumes ligeiramente inferiores às médias históricas.
Um destaque especial é reservado à Barragem do Alqueva, que se aproxima do seu total armazenamento. Graças a um período de precipitações intensas, a maior albufeira portuguesa está a apenas 1,5 metros de atingir a cota máxima. Com capacidade preenchida em 91%, Alqueva pode apresentar bons níveis para abastecimento humano, mas também para a produção agrícola e energética.
Gestão e planeamento é fundamental para resolver problema do sul do país
No entanto, nem tudo são boas notícias. Algumas regiões do Sul do país ainda enfrentam desafios, com níveis de pluviosidade residuais. As preocupações persistem principalmente no litoral alentejano, Barlavento e Sotavento Algarvio, onde a água continua a ser um recurso em falta.
Para lidar com estas disparidades regionais e garantir a segurança hídrica a longo prazo, têm vindo a surgir algumas ideias, das quais já demos conta aqui no nosso portal. Entre elas, destaca-se a ideia de uma “auto-estrada da água”, defendida por especialistas como Jorge Avelar Froes, Manuel Holstein Campilho e Miguel Holstein Campilho. Este projeto ambicioso visa o transvase de água do Norte para o Sul do país, aproveitando a abundância hídrica de algumas regiões para suprir as necessidades das áreas com menores disponibilidades.
Além disso, há alguns apelos aos investimentos em infraestruturas, como a construção de novas barragens, que aumentem a capacidade de armazenamento disponível. Afinal de contas, o problema de Portugal não é somente o da escassez de água, mas sim inerente aos desafios de gestão e distribuição desigual de recursos.
Neste período de saudação à primavera, releva-se que a abundância de água e a precipitação que tem vindo a cair nos últimos dias em território nacional é mais do que uma graça sazonal para as albufeiras portuguesas. De facto, denota bem a importância da água como recurso vital e da necessidade de uma gestão sustentável para garantir a disponibilidade a longo prazo.