A utilização de relva artificial pode ser uma solução para combater o calor extremo
A relva artificial, com um sistema inovador de arrefecimento, pode ser interessante no combate às temperaturas extremas que se registam nas cidades e em espaços desportivos. Fique a saber mais, connosco!
Nos dias de calor, como os que se têm verificado no início desta semana, as superfícies mais expostas à radiação solar podem registar temperaturas muito elevadas. Os relvados sintéticos, utilizados como alternativa aos relvados naturais na maioria das modalidades desportivas mais praticadas em Portugal, nomeadamente o futebol, são das infraestruturas que mais aquecem.
A relva sintética é utilizada em inúmeros campos desportivos, um pouco por toda a Europa, em virtude de necessitar de menos manutenção em relação a um relvado natural, permitindo mais carga horária de treino e jogos com manutenções mínimas, tendo uma vida útil que pode atingir os 20 anos. Nos últimos 2 anos, a União Europeia propôs a proibição da utilização do granulado de borracha, proveniente da reciclagem de pneus em fim de vida, como enchimento dos campos de relva sintética, já que 80% destas infraestruturas na Europa utilizam este material que é considerado extremamente poluente.
Nestes dias, este tipo de piso pode registar ou mesmo superar temperaturas na ordem dos 70ºC, devido à utilização do granulado de borracha, situação que causa desconforto nos atletas podendo levar a queimaduras e à exaustão dos mesmos. Esta situação pode estar a mudar na medida em que novos estudos apontam para um novo tipo de relva artificial, capaz de regular a temperatura.
Novas descobertas
Um novo projeto, desenvolvido nos Países Baixos aponta para a criação de uma relva artificial capaz de se arrefecer. Isto poderá dar-se através da acumulação de água por baixo da relva que é evaporada lentamente em dias mais quentes, fazendo com que o piso artificial registe temperaturas ainda mais baixas em relação a um piso de relva natural.
Este projeto, denominado CitySports, e desenvolvido pela Top Consortia for Knowledge and Innovation (TKI) é, segundo os seus responsáveis, muito idêntico ao processo de arrefecimento das superfícies naturais, tendo sido inspirado nos “telhados verdes” de algumas cidades, que armazenam água da chuva e utilizam-na para diminuir a temperatura na área das habitações que está mais exposta à radiação solar.
No caso de um campo de futebol, com uma área que ronda 1 hectare, pode-se armazenar mais de meio milhão de litros de água da chuva que segundo os testes efetuados, ajuda a superfície de relva artificial a não superar os 37 ºC, mesmo em dias mais quentes, ficando apenas 1,7 ºC mais quente do que a superfície de um relvado natural.
Aplicações futuras
Este tipo de relva artificial, capaz de se autorregular em temperatura, já está a ser utilizado em países como o Japão, Reino Unido e nos Países Baixos, onde foi desenvolvido. É um tipo de relva que, face às suas características, já está a suscitar o interesse de muitos clubes e associações de futebol, dispostos e com capacidade financeira para instalar um equipamento que pode superar o meio milhão de euros de investimento.
A questão das alterações climáticas também é relevante nesta análise, já que com a expectativa de subida continua das temperaturas nos próximos anos, muitos dos campos equipados com relva sintética ficarão deteriorados, podendo poluir o solo e água envolventes.
Por outro lado, a relva “climatizada” poderá apresentar mais resistência aos elementos, já que as temperaturas extremas são das principais ameaças à preservação das boas condições dos relvados sintéticos – temperaturas elevadas e muito baixas acabam por deteriorar as fibras provocando o desgaste.
Há ainda a questão do bem-estar dos intervenientes num qualquer treino ou jogo, seja de futebol ou de outra qualquer modalidade coletiva de exterior. Principalmente nas camadas jovens, no futebol de formação, por exemplo, é importante que os atletas se sintam confortáveis. A temperatura mais regulada, mesmo num piso sintético, pode facilitar a prática de desporto.