A seca que afetou a Amazónia em 2023 causou a maior queda nos níveis dos rios alguma vez registada
A Amazónia experimentou em 2023 uma das piores secas da sua história. A descida acentuada dos níveis dos rios afetou os ecossistemas e a vida de todos os habitantes da região, dificultando o deslocamento das populações ribeirinhas, e o transporte de água, alimentos e outros bens essenciais.
Muitas publicações que analisam cenários futuros sugerem que, por volta do ano 2050, as condições mais secas e mais quentes vão tornar-se algo normal na Amazónia.
Seca de 2023 no Brasil – fenómeno extremo
De acordo com o Jornal da UNESP (Universidade Estadual Paulista), a seca de 2023 no Brasil é consequência não só da intensidade dos fenómenos El Niño e La Niña registados, que afetou o regime de chuvas na região e as temperaturas, a atingirem recordes, mas também de outros fatores, como o aquecimento do oceano e a expansão do desmatamento, que contribuíram para uma seca intensa e prolongada.
Juntamente com a seca vieram fortes ondas de calor. No lago Tefé, a temperatura da água chegou a impensáveis 39,1 graus Celsius no dia 28 de setembro, provocando a morte de peixes e dezenas de botos e tucuxis.
Segundo o mesmo Jornal, as análises indicam que a porção sul e sudoeste da Amazónia experimentou uma diminuição significativa das chuvas a partir de novembro de 2022. Esta situação já não é normal, pois é nesta altura que se inicia a época húmida na região.
Juntando esta seca de 2023 com todas as outras que no futuro possam vir a ocorrer, estes eventos ocorreriam num momento em que a Amazónia já perdeu cerca de 18% de sua cobertura florestal e caminharia para o que os cientistas chamam de “ponto de não retorno”, o que indicaria o colapso parcial ou total da floresta e a aceleração do aquecimento global.
Do ponto de vista do nível dos rios, esta foi a seca mais intensa registada. Outras análises da seca de 2023 podem vir a mostrar se esse episódio também foi o mais intenso do ponto de vista, por exemplo, da disponibilidade de água para a floresta, ou da sua duração.
Superfície de água abaixo da média histórica
Devido à seca de 2023, a superfície de água no Brasil ficou abaixo da média histórica, de acordo com o levantamento do MapBiomas do Brasil divulgado recentemente.
Informações obtidas e analisadas pela organização no relatório MapBiomas Água indicam que houve uma redução da água superficial em todos os meses do ano passado no Brasil, comparada com 2022, incluindo na estação chuvosa. Já em 2022, a superfície de água ficou em 18,8 milhões de hectares.
Os dados estão disponíveis numa nova coleção do MapBiomas e cobrem o período de 1985 a 2023.
O levantamento mostrou que os corpos hídricos naturais (rios, riachos, lagos, pântanos) correspondiam a 77% das águas superficiais no país sul-americano em 2023. Os outros 23% são antrópicos, ou seja, água armazenada em reservatórios, hidroelétricas, aquicultura, mineração e outros locais, que totalizam 4,1 milhões de hectares.
Desse total, os grandes reservatórios, que são monitorizados pela Agência Nacional de Águas, órgão regulador do Brasil, somam 3,3 milhões de hectares, um crescimento de 26% em 2023 face a 1985.
Nos corpos hídricos naturais, a situação é outra, tendo o levantamento do MapBiomas revelado que houve uma queda de 30,8%, ou 6,3 milhões de hectares, em 2023 face a 1985.
Juliano Schirmbeck, coordenador técnico do MapBiomas Água.
Mais de metade da superfície de água no país está na Amazónia, sendo 62% do total nacional. Em 2023, a Amazónia apresentou uma superfície de água de quase 12 milhões de hectares ou 2,8% da superfície.
Em 2023, a Amazónia sofreu uma seca severa, com o período de julho a dezembro abaixo da média histórica do MapBiomas Água, sendo que o período de outubro a dezembro registou as menores superfícies de água do mesmo intervalo de tempo.
A superfície de água em 2023 no Pantanal chegou a 382 mil hectares, 61% abaixo da média histórica. A entidade destaca que houve redução da área alagada e do tempo de permanência da água. No ano passado, apenas 2,6% estavam cobertos de água. O Pantanal responde por 2% da superfície de água do total nacional.
O ano de 2023 foi 50% mais seco que o de 2018, quando ocorreu a última grande cheia. Segundo o MapBiomas, em 2018, a água no Pantanal já estava abaixo da média da série histórica, que compara os dados desde 1985. Em 2024, o ano regista um pico de seca, que deve estender-se até setembro.