A propagação da gripe aviária continua nos EUA: autoridades apelam à monitorização e comunidade científica avalia
Depois de ter sido confirmado o terceiro caso da gripe aviária nos EUA, as autoridades federais apelam a uma monitorização constante por parte das agências locais. CDC ainda considera o risco para a saúde pública baixo. Veja os pormenores!
Um segundo caso humano de infeção pelo vírus da gripe aviária altamente patogénica A(H5) foi ontem (30/05) identificado no estado norteamericano do Michigan. Este é o terceiro caso humano associado a um surto contínuo de A(H5N1) em vários estados dos Estados Unidos da América. Nenhum dos três casos tem elos de conexão.
Tal como acontece com os dois casos anteriores (um no Texas, outro no Michigan), a pessoa é um trabalhador de uma indústria leiteira, exposto a vacas infetadas, tornando este noutro caso de provável propagação de uma vaca para a pessoa. Este é o primeiro caso humano de H5 nos EUA a relatar sintomas mais típicos de doença respiratória aguda associada à infeção pelo vírus influenza, incluindo o vírus A(H5N1).
O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) continua a monitorizar de perto os dados disponíveis dos sistemas de vigilância da gripe, particularmente nos estados afetados, e não houve nenhum sinal de atividade incomum da gripe, incluindo nenhum aumento nas visitas às urgências por causa da gripe e nenhum aumento na deteção laboratorial de casos de gripe humana.
Algumas estirpes de H5N1 de aves selvagens demonstraram resistência ao desenvolvimento de alguns antivirais mais antigos, mas a boa notícia é que as vacinas contra a gripe devem ser eficazes aqui e, até à data, os trabalhadores agrícolas infetados têm sido tratáveis com o nosso atual arsenal de antivirais".
Timothy Cernak, professor assistente de química medicinal na Faculdade de Farmácia da Universidade do Michigan.
O CDC considera que, para já, o risco para a saúde pública é baixo, uma vez que todos os três casos esporádicos tiveram contato direto com vacas infetadas e não revelaram qualquer relação entre si. No entanto, esta instituição sublinha a importância das precauções recomendadas em pessoas expostas a animais infetados ou potencialmente infetados.
A gripe aviária é, como o próprio nome sugere, mais comumente encontrada em aves selvagens e de criação em todo o mundo, com surtos periódicos a ocorrerem em mamíferos. O H5N1, uma variante específica da gripe aviária, surge periodicamente de forma mais expansiva e julga-se ter sido responsável por causar mais de 100 milhões de mortes de aves em todo o mundo em 2022.
O H5N1 é descrito pelo CDC como “altamente patogénico”, o que significa que é “fortemente capaz de causar doenças” em aves. Mas também provou ser mortal para os humanos em casos anteriores.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) relata que de 2003 a 1 de abril de 2024, 23 países relataram um total de 889 casos humanos de H5N1. Os sintomas mais comuns nas pessoas, de acordo com o CDC, incluem vermelhidão nos olhos (conjuntivite), dificuldades respiratórias, febre, tosse, dor de garganta e pneumonia. Mais da metade dos casos humanos em todo o mundo (463) resultaram em morte.
Existe a preocupação de que o vírus possa espalhar-se para mais pessoas?
Existem vários níveis de preocupação entre a comunidade científica que acompanha o surto. Uma razão para essa preocupação é que esta começou a espalhar-se para vacas leiteiras, animais que têm muito contato próximo com humanos. Mas, para já, parece existir um consenso quanto à baixa periculosidade de contágio.
Arnold Monto, professor emérito de epidemiologia e saúde pública da Universidade do Minchigan.
As autoridades de saúde pública dos EUA têm monitorizado os rebanhos de vacas leiteiras, bem como a carne bovina e os produtos lácteos em todo o país desde que o primeiro surto em vacas foi relatado em março. Até agora, os EUA são o único país que relatou gripe aviária em bovinos, mas há alguns receios de que esta possa representar também uma séria ameaça para os seres humanos.
Até agora, CDC detetou o vírus em mais de 200 vacas, 9.000 aves selvagens e cerca de 90 milhões de galinhas nos EUA. Desde o final de março, o H5N1 foi relatado em cerca de 200 animais em 36 rebanhos leiteiros nos estados norteamericanos de Colorado, Dakota do Sul, Kansas, Michigan, Carolina do Norte, Idaho, Texas, Ohio e Novo México.
Para já não há preocupação para o setor e as agências federais atuaram com a rapidez e prudência necessárias, dada a importância do gado para o abastecimento alimentar e o potencial para um contacto mais frequente com os seres humanos.
Foram realizados testes extensivos ao leite para garantir que a pasteurização elimina a infecciosidade e também foram realizadas avaliações ao gado de corte e não foi detetado nenhum caso do vírus. Além disso, há maior vigilância dos trabalhadores do setor leiteiro com acréscimos de recomendações para EPI, como explica Adam Lauring, professor de medicina interna, microbiologia e imunologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Michigan.