A poeira "teima" em não assentar no Mediterrâneo
Depois de terem afetado a Península Ibérica nos meses de março e abril, as poeiras do deserto também causaram problemas no Mediterrâneo oriental, no final de abril, sendo que alguns dos efeitos se podem prolongar por mais umas semanas. Fique a saber mais sobre este assunto, connosco!
A ocorrência de um conjunto de tempestades “tradicionais”, comuns nesta altura do ano no Médio Oriente, teve como efeito o surgimento de uma tempestade de poeira. Se as primeiras tempestades foram responsáveis pela queda de granizo e por algumas inundações repentinas, as segundas fizeram com que o céu adquirisse uma tonalidade amarelada, reduzindo a visibilidade e a qualidade do ar, provocando transtornos significativos à população e à aviação.
A nuvem de poeira, visível do espaço, foi captada na semana passada pelo satélite Aqua, da NASA, que na sua estrutura contém o Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS), uma câmara que capta imagens (em 36 bandas espectrais) da superfície terrestre e dos fenómenos que ocorrem na baixa atmosfera, cobrindo a totalidade da área do planeta a cada 2 dias.
Este fenómeno afetou, de forma mais direta, a área de alguns países do Médio Oriente como a Arábia Saudita, a Jordânia, Israel e a Síria, chegando ao Nordeste de África (Egipto) e à ilha de Chipre, tendo sido causado por uma depressão barométrica localizada sobre o Mar Vermelho, que “puxa” o ar quente da Península Arábica, aumentando assim a instabilidade meteorológica.
No caso da Península Ibérica, as poeiras que foram arrastadas tinham como proveniência o Norte de África e o deserto do Saara. No caso do Médio Oriente, as tempestades de poeira ocorrem na primavera e no outono, quando ventos fortes sopram sobre os solos secos e desérticos das regiões fronteiriças entre a Jordânia e a Arábia Saudita, ficando progressivamente mais quentes e secos ao mesmo tempo que procedem ao transporte de areias e poeiras.
Efeitos que perduram
Este tipo de fenómenos provoca efeitos que são sobejamente conhecidos e que se prolongam durante dias, semanas ou mesmo meses: doenças respiratórias, a médio ou longo prazo, sendo que a curto prazo podem provocar constrangimentos nos setores agrícolas e dos transportes, principalmente na aviação.
Na Arábia Saudita, fonte das poeiras, as tempestades provocaram queda significativa de granizo e inundações repentinas. Isto, para além de representar perigo para a população (principalmente a mais desfavorecida), tem impactes significativos na atividade agrícola.
As poeiras propriamente ditas levaram à emissão de vários avisos à população israelita, nomeadamente à população mais vulnerável em termos de saúde. As pessoas com doenças cardíacas e pulmonares foram aconselhadas a ficar em casa. Ainda na semana passada, o espaço aéreo da Jordânia foi severamente afetado pela nuvem de poeiras, que reduziu a visibilidade a poucos metros.
Segundo alguns especialistas, as alterações climáticas em conjugação com as mudanças dos padrões do uso do solo, especialmente os solos agrícolas, tem como consequência o aumento da frequência deste tipo de eventos. Contudo, a maioria dos eventos registados continuam a ser associados a fatores naturais.