A Patagónia eleva-se à medida que os glaciares derretem

Uma equipa de geólogos descobriu uma ligação entre a recente perda de massa de gelo, a rápida elevação de rochas e uma brecha entre as placas tectónicas que estão na base da Patagónia. Saiba mais aqui!

Patagónia; Chile
Os mantos de gelo que se estendem por centenas de quilómetros no topo da Cordilheira dos Andes, no Chile e na Argentina, possuem algumas das taxas de derretimento mais rápidas do planeta.

Os cientistas da Universidade de Washington, em St. Louis, liderados pelo sismólogo Douglas Wiens, completaram recentemente um dos primeiros estudos sísmicos dos Andes patagónicos. Numa nova publicação da revista Geophysical Research Letters, descrevem e traçam as dinâmicas locais do subsolo.

Os dados sísmicos que Hannah Mark, investigadora de pós-doutoramento no Woods Hole Oceanographic Institution e primeira autora deste estudo, e Wiens analisaram, revelam de que forma uma falha na placa tectónica descendente, cerca de 100 km abaixo da Patagónia, permitiu que o material do manto mais quente e menos viscoso fluísse por baixo da América do Sul.

Acima desta falha, os mantos de gelo têm vindo a diminuir, removendo o peso que anteriormente fazia com que o continente se flexionasse para baixo (glacio-isostasia). Os cientistas depararam-se com uma velocidade sísmica muito baixa dentro e à volta da fenda, bem como um desbaste da litosfera rígida sobre a mesma.

Estas condições particulares do manto estão a provocar muitas das recentes mudanças que foram observadas na Patagónia, incluindo a rápida elevação em certas áreas outrora cobertas por gelo.

Glacio-isostasia

Quando os glaciares derretem, um tremendo peso é levantado do chão que outrora os suportava. Enormes quantidades de água, anteriormente armazenadas como gelo, fluem para os oceanos. Com isto, a terra recém-descarregada ressurge e sobe.

Os geólogos veem provas desta combinação de alterações da massa de gelo e elevação em locais de todo o mundo. O movimento contínuo de terra - o que é conhecido como "ajustamento glaciar isostático" - é importante por diversas razões, mas especialmente porque afeta as previsões de subida do nível do mar em futuros cenários de aquecimento climático.

O recuar dos glaciares e a Patagónia

A Patagónia é uma área remota que não é densamente povoada, e os riscos de terramotos são relativamente baixos - "o que ajuda a explicar porque poucos estudos sísmicos foram realizados nesta área no passado", disse Wiens. Os dados que ele e a sua equipa recolheram já estão a ser utilizados para fins que vão para além deste estudo.

Wiens visitou a Patagónia pela primeira vez há mais de 25 anos. E ficou chocado com as mudanças que observou. "Os belos glaciares estão a ficar reduzidos", afirmou. "Durante as próximas décadas, as frentes de gelo irão recuar mais acima nas montanhas e mais para o interior, tornando-as potencialmente mais difíceis de visitar."

Em 25 anos, Douglas Wiens notou uma diferença abismal nos glaciares da Patagónia. O mesmo tende a acontecer com os glaciares do resto do globo.

"A tectónica de placas e as propriedades da terra profunda são de importância vital para compreender como a terra responde à glaciação [e ao degelo]", disse Wiens. "Com melhores modelos, podemos fazer um melhor trabalho de reconstrução das recentes mudanças nas camadas de gelo".