A origem de parte do Tibete está... na Austrália. A surpreendente conclusão de uns geólogos chineses

Este canto do Tibete tem uma origem muito diferente e distante do que se pensava, de acordo com geólogos chineses. A investigação revela que algumas das suas rochas provêm da Austrália, revelando uma história geológica surpreendente.

Paisagem característica do vale do rio Lhasa, Tibete, China.

Durante décadas, a origem do intrigante Vale de Lhasa foi objeto de debate na comunidade geológica. A teoria tradicional apontava para uma proveniência indiana, atribuindo a origem das suas rochas à colisão das placas indiana e euroasiática.

O Terreno de Lhasa é um fragmento de material cortical, ligado à placa euroasiática durante o Cretáceo e formando o atual sul do Tibete. O seu nome deriva da cidade de Lhasa, na Região Autónoma do Tibete, na China.

No entanto, um novo estudo que analisou a composição do granito encontrado na zona revelou uma ligação surpreendente: as rochas desta zona têm características que as ligam à Austrália, sugerindo que estes fragmentos da crosta terrestre provêm de uma região muito mais distante do que se pensava.

Blocos de granito em Lhasa com origem na atual Austrália

Para compreender este fenómeno, é preciso recuar centenas de milhões de anos, quando todos os continentes estavam unidos num supercontinente chamado Gondwana.

Ao longo do tempo, com a sua fragmentação, as placas tectónicas começaram a mover-se a taxas de centímetros por ano e, durante este processo, fragmentos de crosta de várias regiões deslocaram-se pelo planeta.

O novo estudo, realizado por um grupo de geólogos chineses e publicado recentemente na revista Geophysical Research Letters, sugere que um desses fragmentos, que contém o granito que hoje se encontra em Lhasa, pode ter tido origem no que é hoje a Austrália.

O que é o Gondwana?
Este antigo supercontinente existiu há centenas de milhões de anos e incluía as atuais massas de terra da América do Sul, África, Arábia, Madagáscar, Índia, Austrália e Antártida.

A migração destes blocos tectónicos permitiu que partes da crosta com características australianas fossem integradas na massa continental asiática. Assim, quando a placa indiana colidiu com a placa euroasiática para formar os Himalaias, o fragmento da massa de crosta de Lhasa já trazia consigo um legado geológico diferente do esperado.

A importância dos avanços tecnológicos na descoberta

Os avanços nas técnicas de análise geoquímica e a utilização de métodos isotópicos foram fundamentais para chegar a estas conclusões, juntamente com a utilização de instrumentos como a espectrometria de massa e a microscopia eletrónica. Isto permitiu aos cientistas examinar as rochas com um nível de pormenor sem precedentes.

Estas ferramentas tornaram possível identificar padrões e elementos específicos que ligam as rochas de Lhasa às formações australianas.

Formação tectónica do Tibete meridional. Fonte: Yu, C.-S. et al. Geophys. Res. Lett. 52, e2024GL113338 (2025).

Tudo relacionado com este estudo revela a descoberta de rochas pré-neoproterozóicas no norte de Lhasa, evidenciando um processo antigo de separação continental (rift) e atividade vulcânica relacionada com a subducção, tal como referido anteriormente.

Estes eventos geológicos são semelhantes aos da Austrália Ocidental, mas diferentes dos do sul de Lhasa, que mostram uma afinidade com a Índia. Os resultados sugerem que o norte de Lhasa teve origem na Austrália Ocidental e que o norte e o sul de Lhasa têm origens diferentes.

Referência da notícia

Yu, Chang‐Sheng & Wang, Ming & Zhou, Jian & Palin, Richard & Liu, Jin & Wan, Bin & Shen, Di & Danzeng, Quewang & Zhang, Sheng‐Shuo. (2025). Australian Heritage for the North Lhasa Terrane. Geophysical Research Letters. 52. 10.1029/2024GL113338.