A investigação mostra que não existe uma "forma perfeita" de resolver um problema

Pode não haver uma abordagem perfeita para um problema, mas sim vários métodos. As ideias alternativas podem até poupar mais recursos do que as ideias "óptimas". Estas ideias foram retiradas de um estudo baseado em computação que explora as possibilidades do comportamento animal.

Tomada de decisões, perfeição.
Pode não haver apenas uma decisão "perfeita" para resolver um problema, mas muitas que podem até parecer sub-óptimas, como sugere a investigação sobre o comportamento animal.

Uma investigação recentemente publicada indica que existe um grande número de abordagens diferentes que os animais adotam para resolver problemas. Os investigadores analisaram especificamente uma tarefa simples de procura de alimentos como exemplo. Analisaram teoricamente a forma como estas abordagens eram adotadas, as suas relações, semelhanças e formas de resolver problemas de forma diferente.

Verificou-se que existiam abordagens "não perfeitas" para a realização de uma determinada tarefa que eram frequentemente tão eficazes como a considerada óptima. No entanto, estas requerem muito menos esforço. Isto poderia ter a sua própria lógica, disponibilizando mais recursos, tempo e energia para outras tarefas.

Investigação: Decisões, decisões

A investigação começou há três anos, quando o pós-doutorando Tzuhsuan Ma, do Laboratório Hermundstad, especulou sobre as diferentes estratégias que um animal poderia adotar para realizar uma tarefa simples mas banal. Ma e os seus colegas concentraram-se na tarefa de saber como é que um animal pode reagir ao escolher entre duas opções, com a possibilidade de ser recompensado a variar ao longo do tempo.

Uma solução "óptima" foi comparada com soluções aparentemente aleatórias. Estas foram testadas com base em programas com diferentes algoritmos que atuam como diferentes modelos de comportamento animal. É possível que tenha havido mais variações destes diferentes comportamentos do que o previsto. O número de programas atingiu cerca de um quarto de milhão, todos para uma tarefa simples.

A equipa de investigação de Ma focou-se em alguns dos programas com melhor desempenho, descobrindo que alcançavam o mesmo resultado que a estratégia considerada "dourada", mas com menos recursos e esforços necessários. Algumas das que eram diferentes da estratégia óptima, eram apenas "suficientemente boas", em números de cerca de 4.000.

Perguntas que provocam a reflexão

Embora os comportamentos dos animais tenham sido modelados, as suas observações podem ter algumas implicações filosóficas para nós e para as nossas abordagens na vida quotidiana. "Assim que se libertar de ser perfeito, ficará surpreendido com a quantidade de formas que existem para resolver um problema", disse Ma.

Isto pode explicar porque é que algumas pessoas seguem caminhos diferentes ou misturam estratégias. Uma mistura de métodos pode ser vantajosa a longo prazo, quando os grupos estão a trabalhar em conjunto.

É possível misturar estratégias ou tentar alternativas para poupar recursos, saindo do típico caminho "perfeito" num contexto de trabalho.
É possível misturar estratégias ou tentar alternativas para poupar recursos, saindo do típico caminho "perfeito" num contexto de trabalho.

"Muitas destas estratégias são aquelas que nunca teríamos imaginado como possíveis formas de resolver esta tarefa, mas funcionam bem, por isso é inteiramente possível que os animais também as estejam a utilizar", diz Ann Hermundstad, líder do grupo Janelia. "Dão-nos um novo vocabulário para compreender o comportamento".

Dos programas de computador aos animais e aos seres humanos

Os programas de computador utilizados pelos investigadores podem parecer muito distantes da natureza, mas dão pistas sobre potenciais padrões de comportamento animal.

Por exemplo, "se pensarmos que um animal não é um especialista optimizado para resolver apenas um problema, mas sim um generalista que resolve muitos problemas, esta é realmente uma nova forma de estudar isso", explicou Ma.

O estudo mostra que não existe uma abordagem "que se adeque melhor" ao comportamento dos animais quando estes resolvem desafios, como procurar comida ou migrar. O mesmo se aplica aos humanos de outras formas, desde decidir o melhor caminho para o trabalho ou resolver um desafio relacionado com o trabalho.

"Em última análise, ter uma forte compreensão do comportamento de um animal é um pré-requisito essencial para entender como o cérebro resolve diferentes tipos de problemas, incluindo alguns que os nossos melhores sistemas artificiais apenas resolvem de forma ineficiente, se é que o fazem", diz Hermundstad.

"O principal desafio é que os animais podem estar a utilizar estratégias muito diferentes das que inicialmente poderíamos supor, e este trabalho está a ajudar-nos a descobrir esse espaço de possibilidades."

"Tudo isto soa muito teórico, ou especulativo, mas é um trabalho provocador que ilude que talvez a perfeição seja mais do que aparenta, e que a "forma dourada e perfeita" pode nem sempre ser o que pensamos.

Isto pode ser visto num jogo de xadrez, onde existem muitas formas potenciais de enfrentar um adversário ou de defender as peças de xadrez no tabuleiro. Num contexto empresarial, o pensamento inovador pode fornecer estratégias alternativas para os problemas, em que se procura obter os mesmos ou melhores resultados, por exemplo, poupando tempo ou dinheiro.


Referência da notícia:

A vast space of compact strategies for effective decisions. Science Advances. DOI: 10.1126/sciadv.adj4064