A influência das redes sociais como o Tiktok no autodiagnóstico de TDAH. Especialistas alertam para riscos
As redes sociais, como o TikTok, estão a impulsionar o autodiagnóstico de TDAH, especialmente entre os jovens, mas especialistas alertam para os riscos de diagnósticos errados. Saiba mais aqui!
Nos últimos anos, as redes sociais, em especial as plataformas como o TikTok, têm desempenhado um papel central na disseminação de informações relacionadas com a saúde mental. O Transtorno do Défice de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma das condições que tem gerado grande relevância entre especialistas e população, resultando numa preocupante onda de autodiagnósticos, especialmente entre os mais jovens.
Autodiagnósticos de TDAH aumentam nas redes sociais, mas especialistas advertem para riscos crescentes
De acordo com um estudo recente realizado pela National Medical Director for Primary Care, aproximadamente um em cada quatro adultos acredita que sofre de TDAH, muitas vezes influenciado por vídeos vistos online. Contudo, apenas metade dos que suspeitam possuir o transtorno procura assistência médica adequada. Os especialistas envolvidos no estudo sublinham que este fenómeno pode estar a ocultar outros problemas de saúde que apresentam sintomas semelhantes, como a ansiedade e a depressão.
No Reino Unido, estima-se que menos de uma em cada 20 pessoas tenha TDAH, um transtorno que se caracteriza por dificuldade de concentração, hiperatividade e impulsividade. No entanto, estudos indicam que muitas pessoas estão a autodiagnosticar-se após assistir a vídeos no TikTok. Um estudo de 2022 publicado no European Journal of Psychiatry concluiu que um número crescente de jovens se autodiagnostica com TDAH após visualizar este tipo de conteúdos online.
Embora o diálogo aberto sobre saúde mental ajude a reduzir o estigma associado a estes transtornos, os especialistas estão preocupados com o impacte potencial de diagnósticos inadequados.
De facto, os números mostram uma diferença substancial entre adultos e crianças no que toca ao diagnóstico de TDAH. Enquanto 9% das crianças americanas já foram diagnosticadas com o transtorno, apenas 4% dos adultos apresentam sintomas suficientes para obter o diagnóstico formal, e muitos permanecem sem diagnóstico nem tratamento adequado. Entre os adultos, os sintomas de TDAH tendem a manifestar-se mais frequentemente como dificuldades de organização, memória e procrastinação, ao contrário dos estereótipos de hiperatividade observados nas crianças.
Perigos do autodiagnóstico e tratamento inadequado
Estes sintomas menos visíveis podem ser confundidos com outras condições, como a depressão ou a ansiedade, o que leva a diagnósticos errados. O Dr. Robert Dicker, especialista em psiquiatria infantil e adolescente, explicou que o TDAH também pode ser hereditário, sendo comum que pais se reconheçam nos sintomas após os filhos serem diagnosticados.
Outra dificuldade no diagnóstico em adultos está relacionada com o facto de os sintomas de TDAH terem de estar presentes desde a infância para que o transtorno seja considerado. Muitas pessoas podem ter desenvolvido mecanismos para lidar com os seus sintomas, como anotar tarefas ou seguir rotinas rígidas, e só percebem que algo está errado quando as exigências da vida adulta se tornam difíceis de gerir.
Em 2023, no New York Times, concluiu-se que mais de metade dos vídeos relacionados com TDAH no TikTok continha informações enganosas. Os autores do estudo alertaram que as redes sociais, ao simplificarem os critérios de diagnóstico, podem levar os utilizadores a conclusões precipitadas.
Os sintomas mais comuns de TDAH, como a procrastinação, dificuldades em organizar tarefas ou a perda frequente de objetos, são experienciados por quase todas as pessoas em algum momento das suas vidas. No entanto, para ser diagnosticado com TDAH, é crucial que os sintomas interfiram em mais de uma área da vida, como o trabalho, a vida social ou familiar, e que estejam presentes desde a infância.
Felizmente, o TDAH é uma condição que pode ser tratada de forma eficaz, com opções que incluem medicação e terapia comportamental. Medicamentos como o metilfenidato (Ritalina) ou dextroanfetamina (Adderall) são amplamente utilizados para ajudar os pacientes a focarem-se melhor nas suas atividades diárias. Além disso, estratégias terapêuticas podem auxiliar na gestão dos sintomas.
Referência da notícia:
Russell, S., Hinwood, C. & Fuller, C. (2024). Attention deficit hyperactivity disorder (ADHD) Programme update. NHS England Report. Disponível em: https://www.england.nhs.uk/long-read/attention-deficit-hyperactivity-disorder-adhd-programme-update/