A força do furacão Laura: mais um exemplo das alterações climáticas?
O poderoso furacão Laura, formado no Golfo do México há umas semanas atrás, deixou um enorme rasto de destruição, contribuindo para uma temporada de furacões extremamente ativa no Atlântico em 2020. Será este outro possível exemplo das alterações climáticas?
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) afirmava há cerca de duas semanas, aquando da passagem do furacão Laura, um dos mais perigosos e intensos nesta temporada de furacões 2020, que este não seria o último grande furacão desta época no Atlântico. Recordou também que, com as alterações climáticas em curso, a proporção de ciclones das categorias 4 e 5 será cada vez mais normal.
Laura foi a sétima tempestade nomeada a fazer landfall nos EUA esta temporada. Em somente 24 horas, o entretanto furacão Laura de categoria 1 intensificou-se de tal forma que alcançou a categoria 4, deixando um enorme rasto de destruição. Atingiu terra com ventos máximos sustentados de 241 km/h. No que toca à velocidade do vento, foi a tempestade mais forte a atingir o estado do Louisiana desde 1856. Apesar de se ter formado praticamente ao mesmo tempo que o sistema que veio a ser conhecido como furacão Marco, o Laura tornou-se no primeiro grande furacão formado no Golfo do México durante um mês de agosto, desde o furacão Harvey em 2017.
Isto porque gerou uma energia ciclónica acumulada (ACE = Accumulated Cyclone Energy) maior do que a junção de todas as outras tempestades nomeadas do Atlântico no mês passado (Isaias, Josephine, Kyle e Marco). O ACE é uma medida que representa a intensidade e a duração das tempestades.
As previsões emitidas pelo Centro Nacional de Furacão dos Estados Unidos (NHC) foram extremamente precisas. As guidelines aplicadas, em conjunto com uma resposta eficaz de gestão de desastres, foram as razões pelas quais o número de vítimas mortais foi diminuto, de acordo com os primeiros relatos acerca das vítimas. Mais de 20 pessoas morreram, a maioria no Haiti, quando Laura ainda estava classificada como tempestade tropical. Este furacão foi de tal forma monstruoso que destruiu edifícios inteiros, e inclusive no aeroporto de Lake Charles no Louisiana foi registada uma impressionante rajada de 206 km/h.
Temporada de furacões muito ativa em 2020
Tal como já fora previsto há vários meses atrás, esta temporada de furacões no Atlântico está a confirmar o prognóstico inicial: ser extremamente ativa. De facto, até ao momento, foram registadas 16 tempestades (5 das quais chegaram a furacão) nomeadas no Atlântico esta temporada. A previsão atual realça que é muito provável que esta temporada de furacões demonstre uma atividade superior à média: 19 a 25 tempestades nomeadas, entre as quais de 7 a 11 poderão ser furacões, e entre eles, 3 a 6 poderão alcançar a categoria 3 ou superior.
Essencialmente, isto deve-se às condições atmosféricas e oceânicas favoráveis na área do Atlântico onde se desenvolvem as tempestades tropicais, tais como as temperaturas da superfície do mar que estão muito acima da média, e o forte monção proveniente da África ocidental.
Relacionado com as alterações climáticas?
Apesar de ser difícil relacionar um ciclone tropical em particular com as alterações climáticas, o aquecimento global fornece uma razão para esperar mais frequentemente tempestades destrutivas e poderosas.
De acordo com a porta-voz da OMM, Claire Nullis, “São basicamente as leis da física. As tempestades alimentam-se de água quente, as temperaturas mais elevadas da água significam níveis do mar mais elevados, o que por seu turno aumenta o risco de inundações durante as marés altas e no caso de ondas ciclónicas, e assim o círculo continua. O ar mais quente também possui mais vapor de água atmosférico, o que permite que as tempestades tropicais se reforcem e libertem mais precipitação”.