A evolução dos Incêndios em Portugal
Ao longo dos últimos anos, Portugal não tem conseguido travar os incêndios florestais, tanto no que diz respeito ao número de ocorrências como no que se refere à dimensão das áreas ardidas, sobretudo durante o período estival, quando dominam temperaturas elevadas. Saiba mais aqui!
Os incêndios florestais têm vindo a causar cada vez mais impacto em diversas regiões do globo, originando áreas ardidas mais intensas com um impacto socioeconómico significativo e perdas de vidas, sobretudo no período correspondente à estação seca ou em anos secos, onde a vegetação se encontra num adiantado processo de dessecação.
Nestas condições, os incêndios florestais marcam e alteram profundamente a paisagem por onde se desenvolvem e alastram. Esta combustão descontrolada afeta, de modo expressivo, as diferentes componentes dos ecossistemas naturais onde incide, designadamente a vegetação e o solo, provocando na sua passagem efeitos de carácter imediato, ausência temporária de vegetação e domínio da cinza.
Como é bem conhecido, de entre os vários países do mundo que sofrem de forma sistemática com os incêndios florestais, Portugal é um espaço geográfico que, proporcionalmente, se evidencia entre eles, não só pelo número de ocorrências, mas também pela dimensão das áreas queimadas, para o que muito contribuiu a existência de alguns anos particularmente complexos, mas, em regra, a problemática persiste, sendo de difícil resolução.
A História dos Incêndios
Nas duas últimas décadas, a área ardida média anual em Portugal mais do que duplicou face ao decénio 1980-1989. Só entre 2009 e 2018, os grandes incêndios (com áreas superiores a 100 hectares) foram responsáveis por 68% da área ardida, embora representem apenas 0,66% das ocorrências registadas, como realça o relatório O Mediterrâneo Arde (2019). Os incêndios afetaram principalmente pinheiro-bravo e eucalipto, o que seria esperado, visto que estas duas espécies constituem perto de metade da área florestal no país.
Surgiu assim uma nova geração de incêndios, muito rápidos, muito intensos, impossíveis de extinguir e que causam danos catastróficos. São denominados incêndios de sexta geração e libertam tanta energia que têm a capacidade de alterar as características meteorológicas ao seu redor.
O primeiro registo de um megaincêndio (com dimensão superior a 10 mil hectares) data da década de 80, tendo os restantes ocorrido depois de 2000. Dos 26 megaincêndios registados desde 2000, 11 ocorreram em 2017, segundo o primeiro relatório da Comissão Técnica Independente. Em junho de 2017, em Pedrógão Grande, ocorreu o primeiro incêndio na Europa qualificável como sendo de sexta geração. Em outubro, ocorreu o segundo.
2003, 2005 e 2017 foram assim os anos dos mais severos incêndios rurais e contribuíram para que a área ardida em Portugal fosse das maiores da Europa nas duas últimas décadas. Para além de refletirem mudanças na utilização do espaço rural, estes registos estão diretamente relacionados com condições meteorológicas extremas.
À semelhança do que acontece em Portugal, outros países de clima mediterrânico do sul da Europa, (Espanha e Grécia, principalmente), tiveram anos com áreas ardidas elevadas, resultantes de megaincêndios nos últimos 17 anos, o que demonstra a amplitude do problema e a necessidade de um esforço conjunto para implementar soluções de fundo.
A expansão e abandono do espaço rural, os aumentos da carga combustível, das ignições e da temperatura, assim como a irregularidade da precipitação são vistos como os quatro fatores centrais que estão a aumentar o risco de incêndio em Portugal e no resto da Europa mediterrânica.
Por sua vez, a desflorestação e a degradação das áreas florestais contribuem para as emissões de gases com efeito de estufa, que estão na base das alterações climáticas.
As perturbações nos ecossistemas causadas pelo abandono e pelos incêndios rurais favorecem a instalação de plantas invasoras, que resultam em impactos no ambiente, economia e saúde.