A corrente da Flórida está a enfraquecer e a preocupar os cientistas
Um novo artigo publicado na revista Nature Communications expõe as descobertas que climatologistas de todo o mundo estão a observar: partes da Corrente do Golfo estão a desacelerar. Saiba tudo aqui!
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As correntes oceânicas são complexas e têm impactos de longo alcance em todos os continentes da Terra. Dos icebergues que flutuam pela Terra Nova até aos portos que nunca congelam no norte da Noruega, a Corrente do Golfo desempenha um papel fundamental nos diferentes tipos de clima com os quais estamos familiarizados hoje.
My paper on weakening of the Florida Current during the past was just published in @NatureComms. Here's the open-access link to the article https://t.co/DwZRHAQfAj
— Chris Piecuch (@chrispiecuch) August 7, 2020
Os efeitos a longo prazo que o aquecimento da atmosfera tem sobre os oceanos são não só difíceis de ver, mas, também, são amplamente incompreendidos. Mudanças nas correntes oceânicas ocorrem naturalmente, mas as alterações climáticas atuais estão a ameaçar ter impactos sobre a corrente da Flórida, que é considerada o início oficial do Sistema da Corrente do Golfo.
A influência das correntes oceânicas no clima
As correntes oceânicas transportam calor desde a linha do equador até aos pólos e desempenham um papel importante na determinação do clima da Terra.
A corrente do Golfo flui desde o estreito da Flórida, passa pelo Cabo Hatteras, na Carolina do Norte, e ao longo da costa sudeste dos EUA, antes de desviar para o Oceano Atlântico, e traz o calor das Caraíbas para a região do Canadá, o que influencia significativamente o clima.
As correntes oceânicas são importantes para manter o clima amenizado. Qualquer interrupção ou alteração das mesmas poderá resultar em alterações climáticas abruptas.
Muitos países europeus têm a mesma latitude que as regiões do Canadá, mas a corrente do Golfo origina climas muito mais amenos. Por exemplo, Inglaterra está, aproximadamente, à mesma distância do equador que as regiões frias do Canadá, mas o clima de Inglaterra é mais ameno devido à água quente da corrente do Golfo.
Mudanças naturais na salinidade e no nível do mar ocorreram por centenas de anos, mas a taxa de aumento do nível do mar disparou desde o início do século XX. O degelo, bem como o aumento do volume das bacias de água à medida que ela aquece, contribuíram para a subida do nível dos oceanos, mas as consequências disso no transporte de calor, salinidade e outros minerais ao redor do planeta não são totalmente conhecidas.
O estudo
O autor do estudo, Chris Piecuch, utilizou 1390 anos de dados sobre o nível do mar, do sudeste dos EUA, e 109 anos de dados das Caraíbas, bem como 36 anos de medições de cabos subaquáticos, para reconstruir a história da corrente da Flórida e a quantidade de água que já fluiu pela mesma.
Os modelos matemáticos revelaram que houve um declínio na quantidade de água que fluiu na corrente da Flórida entre 1909 e 2018 e que a corrente, provavelmente, está no seu ponto mais fraco há cerca de duas décadas.
O estudo afirma que os efeitos do enfraquecimento da corrente da Flórida sobre a Circulação Meridional do Atlântico (AMOC) permanecem obscuros. O AMOC é o movimento das águas quentes do Golfo do México em direção à Europa. Um trabalho de investigação, publicado no final de 2019, descobriu que essa corrente pode parar temporariamente nos próximos 100 anos.
Aqui, é ainda referido que a ocorrência de precipitação suficiente e água proveniente do degelo podem afetar seriamente os níveis de salinidade nos oceanos. Isso interromperia o AMOC, podendo-o desacelerar, parar ou até mesmo reverter, o que bloquearia o transporte de calor oceânico para a Europa.