40.000 pessoas evacuadas nas cheias da Austrália
A região oriental da Austrália está a enfrentar as piores cheias das últimas décadas após os terríveis incêndios de há um ano. Contamos-lhe mais aqui!
Dias de chuvas torrenciais, que têm ocorrido em especial desde o passado dia 18, fizeram transbordar rios e barragens na região de Nova Gales do Sul na Austrália, provocando uma das maiores cheias na Austrália.
Chuvas intensas e persistentes
As chuvas torrenciais e persistentes que se têm verificado principalmente na costa leste da Austrália foram previstas dias antes pelo Gabinete de Meteorologia da Austrália, bem como o risco elevado de ocorrência de cheias dos rios naquela região.
Caindo sobre solos já encharcados, as chuvas desencadearam dezenas de avisos de inundações, com os residentes nas regiões do norte e oeste de Sydney a temerem também pelas suas casas e pelas suas vidas. As chuvas que se têm verificado já inundaram centenas de quilómetros da costa da Nova Gales do Sul, região onde habitam cerca de um terço dos 25 milhões de habitantes da Austrália.
A chuva que tem ocorrido, além de ser chuva excecionalmente forte tem sido bastante persistente e tem atingido uma área muito vasta. De acordo com o climatologista sénior do Gabinete de Meteorologia, Blair Trewin, embora não seja invulgar ter lugares com totais de precipitação diários muito elevados, é invulgar ver tantos lugares com totais tão extremos numa área tão vasta.
Quanto à quantidade de precipitação, mais de 406 mm foram registados num dia perto de Kendall, a sul de Port Macquarie, a 20 de março. Mas segundo Trewin, em cinco dos últimos 12 anos, um local nessa área tinha registado totais semelhantes.
Uma imagem mais clara para perceber a intensidade destas cheias está na análise de totais de precipitação de quatro dias. O valor mais alto registado até agora foi em Comboyne, a oeste de Port Macquarie, onde se registaram em quatro dias, desde o passado dia 18 até ao dia 21, 843 mm. Este valor corresponde praticamente ao valor médio da precipitação em Lisboa durante todo o outono e inverno.
Ainda segundo Trewin registaram-se em inúmeros locais valores de precipitação superiores a 600 mm em quatro dias. Uma das razões que também justificam o facto das chuvas dos últimos dias estarem a causar inundações, de acordo com Trewin, era o facto dessas chuvas estarem a cair em áreas que tiveram um verão mais húmido do que o normal.
Embora o padrão meteorológico La Niña esteja geralmente associado a condições mais húmidas na Austrália do que a média, normalmente este efeito tem mais impacto nas áreas interiores de Nova Gales do Sul e não em toda a linha costeira. As cheias chegam pouco mais de um ano depois das mesmas áreas terem sido devastadas por incêndios florestais sem precedentes, alimentados pelo aquecimento global que queimaram cidades inteiras e mataram milhares de milhões de animais.
O regresso de outro evento meteorológico extremo leva muitos cientistas a pensar que esta é mais uma demonstração da mudança climática que estamos a atravessar.
Alguns impactos das cheias
As fortes correntes das águas das cheias dos rios têm tido um efeito devastador pelos sítios onde passam, arrastando tudo o que encontram. Inúmeras casas têm sido arrastadas pelas águas e extensas regiões encontram-se sem energia elétrica. Até ao momento só duas pessoas perderam a vida, o que para muitos é considerado como um milagre, atendendo à situação de catástrofe em muitas zonas.
O número de vítimas não é mais elevado em parte devido às ações de prevenção que foram tomadas até agora, com a evacuação de 40.000 pessoas das zonas afetadas. As cheias, além de ameaçarem a vida de pessoas, ameaçam também a vida dos animais. Os aracnídeos e as cobras juntam-se a outros animais que lutam para alcançar terrenos mais altos à medida que as águas sobem. Têm ocorrido relatos de pessoas a queixarem-se de enxames de aranhas a invadirem as casas.